Ao prever um ;tsunami; rumo à administração pública, o presidente Jair Bolsonaro fez referência à possibilidade de recolocar na Esplanada os 29 ministérios de Michel Temer, e o Congresso já se movimenta para indicar nomes de possíveis ministros. Durante a campanha, Bolsonaro prometeu cortar a pompa do governo. Voltar à máquina inchada, no meio de um início turbulento de gestão, soará como uma decisão impopular para os brasileiros, dizem técnicos palacianos. Para eles, o povo quer ver o enxugamento mais contundente da administração pública ; uma maneira de facilitar, inclusive, o discurso sobre ;corte de privilégios; na reforma da Previdência.
;Estamos governando. Alguns problemas? Sim, talvez tenha um tsunami semana que vem (nesta semana). Mas a gente vence esse obstáculo aí com toda certeza;, disse Bolsonaro na última sexta-feira. Se a reformulação ocorrer de fato, por causa da expiração da Medida Provisória 870, em 3 de junho, o novo desafio do Planalto será a distribuição de cargos, que poderá ocorrer, ou não, com apoio do Congresso. Parlamentares esperam ganhar seu quinhão, e o governo terá, novamente, que descolar essas negociações da ;velha política;, mecanismo que o presidente combate sem apresentar uma solução para o que seria a ;nova política;.
;Aumentar o número de ministérios era algo que traria certa dificuldade, mas um rearranjo desse nível enfraquece até o discurso do presidente. Ele disse que até 15 ministérios eram suficientes. Terminou optando por colocar 22. Se aumentar, será ruim para o governo;, diz o professor de ciência política da Universidade Estadual de Goiás Felippo Madeira. Ao falar sobre a estrutura da Esplanada, o especialista afirma que ;não dá para querer cortar gordura de um lado (na Previdência) e arranjar apoio para essa medida inflando o governo ; que precisa de um equilíbrio nas contas e é o motivo principal dessa mudança;.
Inevitavelmente, as mudanças atingem os chamados ;superministros; da Justiça, Sérgio Moro, e da Economia, Paulo Guedes ; cujo apelido entre os colegas é ;o czar;. ;Para se fazer o planejamento com mais sete ministérios, será necessário esvaziar alguns dos que já existem. Se não, não se justifica. Retirando poder, esse papo de ;super; acaba jogado fora, bem ali no canto da sala;, acredita o analista de políticas públicas da HC7 Pesquisas Carlos Alberto Moura.
A mudança ocorre em um momento especialmente delicado para o ministro da Justiça, que terá de reverter o placar da MP 870 no plenário da Câmara. O texto fala sobre a reorganização da Esplanada e, na Comissão Especial em que foi analisado, retira de Moro o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O órgão foi devolvido à Economia, o que é visto como uma barreira ao combate à corrupção. A grande diferença é a seguinte: na Justiça, o Coaf poderia resultar em investigações com calibre de processos judiciais. Na Economia, o caminho da punição é mais longo.
Nos corredores do Planalto, comenta-se que Moro e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foram aconselhados pelo primeiro escalão a ;se reunirem com parlamentares até que o café da Esplanada acabe;. Significa dizer que os dois terão que unir esforços para tentar conseguir o apoio dos deputados e senadores na briga pelo Coaf. O governo chegou até a desenvolver estudos, a pedido de Lorenzoni, sobre o impacto de novos ministérios e das mudanças estruturais para que seja possível ;desafogar; alguns ministros e ;empoderar; outros.
Antes mesmo de a MP 870 caducar, se não for votada a tempo na Câmara e no Senado, o governo jáhavia aceitado a recriação dos ministérios das Cidades e da Integração Regional.