O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou arrependimento por não ter interferido de forma mais incisiva no governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. A declaração foi dada em entrevista à rede de televisão britânica BBC, a segunda que concedeu desde que foi preso, exibida na noite de sexta-feira (10/5).
"Eu às vezes lamento de não ter sido mais incisivo com a Dilma para ela fazer algumas coisas", disse o ex-presidente, após fazer uma análise sobre a forma de governar da ex-presidente, eleita por duas vezes graças ao apoio que teve de Lula. "Uma pessoa cheia de autoafirmação como a Dilma, na hora em que o carro começa a derrapar, nem sempre tem a tranquilidade de parar e parar e falar: ;Pera aí, vamos parar, vamos ouvir, vamos conversar;."
Lula disse considerar que ele e Dilma têm estilos diferentes. "Eu, por exemplo, nas minhas reuniões presidenciais, eu nunca comecei uma reunião falando. Se você é o presidente e você começa falando, acabou, ninguém mais vai falar. Ninguém vai falar para contrariar o presidente da República. Então tem estilos diferenciados."
Em outro momento, Lula disse que aceitou se tornar ministro de Dilma, um movimento que acabou impedido na Justiça, porque tentaria, de dentro do governo, impedir o impeachment que acabou se concretizando. Nessa hora, Lula deixou claro que discordava da política econômica que Dilma adotou logo no início do segundo mandato. "Eles achavam que eu evitaria o impeachment. Eu aceitei desde que a gente mudasse a política econômica", afirmou o petista (leia aqui a íntegra das declarações de Lula na entrevista).
Sérgio Moro
O ex-presidente também negou que sua nomeação era uma forma de ele ganhar foro privilegiado e escapar do julgamento do então juiz Sérgio Moro. "Eu, conscientemente, não achava que era vantagem ter ido para o governo naquela altura dos acontecimentos. Ninguém entra no carro já em alta velocidade para tentar controlar o carro. Se eu tivesse a preocupação de ser julgado, eu não estaria no Brasil. Eu estou aqui porque eu quero estar aqui", afirmou.
Lula criticou ainda o vazamento de uma conversa telefônica entre ele Dilma, autorizado por Moro. Na conversa, Dilma dizia que estava enviando o termo de posse para Lula usar "caso fosse necessário". Na época, adversários do PT disseram que a conversa era uma demonstração de que a intenção de tornar Lula ministro era protegê-lo.
"A minha reação ao grampo foi de que o Brasil estava fora de controle. O Brasil não tinha mais autoridade. Porque um juiz de primeira instância fazer todos os desatinos que o Moro fez. O Moro fornecia à imprensa informações em primeira mão, do jeito que ele entendia. A imprensa transformava a mentira do Moro em verdade e aí o cara já estava condenado. Por que você acha que eu decidi resistir?"