Entre os pedidos sobre a mesa do colegiado está o de indenização da presidente cassada Dilma Rousseff por ter sido presa, perseguida e torturada durante o regime militar - ela já recebeu R$ 72 mil de reparação em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Ao jornal O Estado de S. Paulo, a ministra Damares Alves disse que pretende dar "atenção especial" ao pedido de Dilma. "Se estiver certinho e tiver jurisprudência, eu não posso ser injusta com Dilma. Vou dar atenção especial porque é uma ex-presidente e pode dar uma confusão muito grande", afirmou a ministra.
O Ministério Público Federal tenta, na Justiça, suspender os efeitos da portaria 378, que nomeou sete novos conselheiros para compor a comissão, e pede que sejam indicados outros nomes. Para o MPF, o ato assinado por Damares "viola gravemente o compromisso democrático de reparação das vítimas da ditadura". O MPF argumentou que os nomeados têm "histórico e postura públicos não compatíveis com as finalidades desse colegiado", e não apresentam, na vida funcional, "qualquer atuação relacionada à defesa dos direitos humanos".
A ação, impetrada na sexta-feira, aponta que o presidente da comissão, João Henrique de Freitas, ex-assessor jurídico do então deputado federal Jair Bolsonaro, é um dos autores da ação que suspendeu indenizações a 44 camponeses vítimas de tortura na Guerrilha do Araguaia e a acionou a Justiça para impedir o pagamento a familiares do guerrilheiro Carlos Lamarca.
Ainda segundo o MPF, Freitas - que também foi chefe de gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e, desde 2010, responde como assessor jurídico do Círculo Militar da Praia Vermelha - chamou, em uma das ações judiciais, de "imoral e ilegal" as políticas públicas reparatórias.
Outro membro da comissão, Luiz Eduardo Rocha é apontado no processo do MPF como "um dos maiores opositores públicos da ala militar à Comissão Nacional da Verdade". Luiz Eduardo ainda chegou a dar declarações em que duvidava da tortura sofrida por Dilma e das circunstâncias envolvendo a morte do ex-deputado Rubens Paiva. Os outros integrantes da comissão questionados são quatro militares, dois assessores do vice-presidente Hamilton Mourão, e um PM.
O ministério informou que "todas as indicações obedeceram a critérios técnicos, com rigorosa análise curricular". A reportagem não localizou João Henrique nem Luiz Eduardo.