Beatriz Roscoe*
postado em 26/04/2019 14:43
O 15; Acampamento Terra Livre teve em sua programação marchas, plenárias, audiências na Câmara Legislativa, no Senado e no Supremo Tribunal Federal. O movimento este ano está ainda mais mobilizado, pois a atual conjuntura política tem proposto medidas que atingem os povos indígenas, entre elas a MP 870, de 2019, que transferiu a Funai do Ministério da Justiça para o da Mulher, Família e Direitos Humanos, e a responsabilização por parte do Ministério da Agricultura pela demarcação de terras indígenas.Após algumas conquistas como a eleição da primeira deputada federal indígena, Joênia Wapichana (Rede-RR);o lançamento da candidatura de Sônia Guajajara como vice-presidente da República; e a primeira mulher indígena a ter um mestrado pela Universidade de Brasília, Célia Xakriabá, as indígenas ganharam mais visibilidade. Neste contexto, ocorreu a Plenária Nacional das Mulheres Indígenas, que buscou unir e mobilizar mulheres das cinco regiões do país para se engajarem e organizarem a Marcha das Margaridas, que deve acontecer em agosto deste ano.
Segundo Tsitsinã, 34, da etnia Xavante do Mato Grosso, as mulheres indígenas sempre atuaram no movimento, mas os homens iam para as cidades reivindicar direitos, enquanto as mulheres ficavam nas aldeias. ;Muitas de nós ficamos nas aldeias, mas fazemos um outro movimento. Um movimento de fortalecimento da nossa cultura, um movimento educacional, da língua, dos modos de produção. Então nós também fazemos resistência e isso precisa ser reconhecido, nós podemos nos sentir mais fortalecidas e ter um potencial muito maior;.
"Eu acredito que as mulheres indígenas estão tendo mais visibilidade nos espaços de tomada de decisão, na reivindicação dos nossos direitos que são reconhecidos pela constituição. É um dos desafios que nós estamos passando hoje, na atual conjuntura política que apresenta um retrocesso aos nossos direitos. Quando nós, mulheres indígenas, falamos que estamos defendendo nossos direitos, não são só os nossos como mulheres, mas sim o de toda a nação e do povo indígena", afirma Tsitsinã.
Para Sônia Guajajara, 45, as mulheres estão acompanhando mais de perto a luta pelos direitos territoriais: ;As mulheres indígenas estão assumindo o protagonismo das principais lutas em relação à garantia de direitos e a essa busca pelo respeito à nossa participação em todos os espaços. Estamos assumindo também esse protagonismo em várias frentes de luta, desde a aldeia, até fora das aldeias.;
;A gente entende que as decisões vêm de fora, principalmente dos política institucional. Então nós, que somos as primeiras impactadas por qualquer retirada de direito, nos sentimos neste papel de vir à luta, de chegar a todos os espaços para fazer essa discussão e também a ocupação dos diversos espaços;, completa a Guajajara.
De acordo com Célia Xakriabá, a primeira indígena de seu povo a ser mestre por uma universidade, não basta que esses espaços comecem a ser ocupados, eles precisam continuar a serem preenchidos: ;As pessoas nos perguntam se nos sentimos importantes por termos conquistado espaço que antes não foram, mas na verdade a gente se sente em uma responsabilidade maior de questionar porque apenas no século XXI nós somos às primeiras a chegar em uma academia, em um cargo no congresso nacional. Muito mais importante do que ser a primeira, é não deixar ser a última;.
Para a primeira deputada federal eleita, a mulher é de suma importância na luta pelos direitos indígenas: ;Na nossa crença a palavra da mulher é sagrada, é a palavra da Terra, que a gente sempre defendeu, protegeu e protege até hoje. Somos protetoras do meio ambiente, guardiãs dos nossos conhecimentos. O protagonismo das mulheres é muito importante e eu vejo como um fortalecimento do movimento;, compartilha Joênia Wapichana.
;Que a gente não seja exceção, as coisas não estarão bem se só uma pessoa estiver bem. Não é porque eu hoje ocupo esse espaço que as coisas estão boas. Deve ser uma luta contínua para que a coletividade esteja bem. Aumentar a participação dos povos indígenas nesses espaços é importante, para que outros povos sejam ouvidos e outros povos tenham seus direitos garantidos. O pedido único é justiça. Mais do que tudo, o que precisamos é justiça;, complementa Joênia.
* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolii
* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolii