Claudia Dianni, Rodolfo Costa
postado em 11/04/2019 06:00
O presidente Jair Bolsonaro celebra hoje os 100 dias de governo tentando bancar mais feitos do que efetivamente entregou e com mais polêmicas do que diálogos nas articulações com o Congresso e tradicionais parceiros comerciais no exterior. Mas, aos poucos, o chefe do Executivo federal trabalha para mudar a imagem, por meio de agenda positiva com a sociedade e promovendo uma nova modelagem na interlocução com o Parlamento e as comunidades árabe e asiática. O Planalto reformulou, desde a última semana, um plano para, ao menos, nos próximos 100 dias, entregar diretrizes de uma gestão que dialogue melhor com a política interna e externa e a grande massa que o elegeu.
Uma das grandes sinalizações será feita hoje, com a instituição do 13; salário do programa Bolsa Família, que deve beneficiar cerca de 14 milhões de famílias, em cerimônia no Palácio do Planalto. O custo será de R$ 2,5 bilhões e substituirá o reajuste previsto para este ano. Apesar disso, o governo trabalha para bancar que, em 2020, será mantido o 13; e a correção anual. Um recado importante para um governo que conseguiu convencer as mais diversas camadas socioeconômicas nas eleições.
A ação faz parte de um pacote de 35 metas estipuladas pelo governo para os 100 dias, das quais o governo deve entregar menos da metade, se analisadas eficácia, eficiência e efetividade das medidas apresentadas ainda em janeiro. Na educação, por exemplo, nenhum programa nacional de definição de soluções didáticas e pedagógicas para a alfabetização foi lançado, como era previsto. O governo, no entanto, vai garantir hoje ter concluído cerca de 95% do estabelecido.
O Planalto está orgulhoso das conquistas e da repercussão no mundo. A revista Time escolheu Bolsonaro para integrar a lista das 100 pessoas mais influentes do planeta e a agência de relações públicas global Cohn & Wolfe aponta que o presidente da República superou até mesmo o norte-americano Donald Trump como o chefe de Estado com mais interações no Facebook. Ainda assim, sabe que terá muito trabalho pela frente.
As pesquisas que apontam a queda da popularidade do governo são desdenhadas publicamente por Bolsonaro, mas há uma preocupação interna em melhorar a imagem. O entorno político dele sugeriu, e os líderes partidários cobraram uma proximidade maior com a população. A mensagem foi absorvida. Na sexta-feira, ele viaja acompanhado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a Macapá para inaugurar o novo Aeroporto Internacional da cidade.
O gesto é importante sob diferentes aspectos. A inauguração de uma obra de infraestrutura costuma contar pontos com a sociedade e o Parlamento a um presidente da República. Ainda na região Norte, Bolsonaro deve cumprir agenda na Zona Franca de Manaus, polo industrial da cidade. A ida do chefe do Planalto à Campina Grande (PB) para inaugurar o Centro de Dessalinização e casas do programa Minha Casa Minha Vida do Complexo Habitacional Aluízio Campos também está no radar, embora ainda sem data prevista.
A aposta em conclusão de obras e geração de empregos é uma das metas do governo nos próximos 100 dias ; e uma das apostas dos empresários da construção civil. De acordo com cálculos da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), 4,7 mil obras paralisadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que equivalem a um potencial de R$ 135 bilhões de investimentos e uma geração de 500 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Pressionado para melhorar a popularidade e a imagem junto ao Congresso, o governo estuda ampliar as iniciativas para destravar os investimentos e entregar mais obras.
Exterior
A imagem do governo no exterior também é uma preocupação de Bolsonaro. Viagens para a China, Japão e Coreia do Sul estão no radar para o segundo semestre. O embaixador brasileiro na Arábia Saudita, Marcelo Della Nina, faz visitas a autoridades árabes desde segunda-feira. Ontem, o chefe do Planalto, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o chanceler Ernesto Araújo jantaram com 40 embaixadores de países islâmicos, na Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA).No fim do jantar, que durou cerca de uma hora, o embaixador da autoridade Palestina, Ibrahim Alzeben, deu um recado ao governo ao ser perguntado sobre a suposta transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. ;Fiquem longe desse conflito e vocês vão ganhar o mundo inteiro;, afirmou, lembrando que islâmicos são um terço da humanidade, espalhados por 57 países.
A ação tenta consertar o potencial estrago político e comercial com os países islâmicos causado pela aproximação do presidente brasileiro com o Estado de Israel e a abertura de um escritório em Jerusalém. O jantar de ontem, que durou uma hora, foi aberto por um breve discurso do presidente, seguido por Tereza Cristina, sobre o relacionamento do Brasil com a comunidade de países árabes e islâmicos. O Brasil exportou US$ 16,4 bilhões em produtos do agronegócio para essas nações em 2018, de acordo com a CNA. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal, Francisco Turra, os gestos do presidente vão ajudar a reforçar o comércio.
Cuidado com a saúde
Mesmo com a agenda corrida, Bolsonaro ainda segue as orientações médicas e cuida da saúde. Na manhã de ontem,foi submetido a uma endoscopia no Hospital da Força Aérea (HFAB). O exame estava previamente agendado. Ele foi sedado e permaneceu inconsciente por 30 minutos, tempo suficiente para a conclusão do procedimento médico. Em seguida, foi ao Planalto e tomou café da manhã, quando se recuperou do efeito da anestesia e iniciou a agenda política.