Apesar de o benefício ter sido uma promessa de campanha, o presidente já apresentou opiniões bastante críticas ao programa. Ao longo dos anos e, principalmente após se tornar oficialmente candidato à Presidência, o discurso mudou. Antes crítico feroz da iniciativa, lançada na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro suavizou o discurso.
Os comentários mais duros ocorreram durante sessões ordinárias da Câmara dos Deputados. Em agosto de 2010, por exemplo, então deputado federal pelo Rio de Janeiro, Bolsonaro argumentou que o Bolsa Família seria uma espécie de moeda de troca, a fim de comprar votos no Nordeste.
"Se, hoje em dia, eu der R$ 10 para alguém e for acusado de que esses R$ 10 seriam para a compra de voto, eu serei cassado. Agora, o governo federal dá para 12 milhões de famílias em torno de R$ 500 por mês, a título de Bolsa Família definitivo, e sai na frente com 30 milhões de votos", afirmou em discurso no Plenário. Logo depois, completou: "Disputar eleições num cenário desses é desanimador, é compra de votos mesmo".
Em 2011, também na Câmara, mais uma vez Bolsonaro não poupou críticas ao programa nem ao governo federal da época, comandado por Dilma Rousseff (PT). "O Bolsa Família nada mais é do que um projeto para tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda, para que use seu título de eleitor e mantenha quem está no poder", disse aos colegas. "E nós devemos colocar, se não um ponto final, uma transição a projetos como o Bolsa Família", afirmou.
Um ano depois, em 2012, a posição de Bolsonaro não havia mudado. Em entrevista à Record News, o presidente disse que o programa deveria ser temporário e que o sistema era um modo de comprar votos. ;O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família;, disse à época.
E mais recentemente, em 2017, conforme noticiou a Folha de S Paulo, em um evento em Barretos (SP), como já possível candidato à Presidência, Bolsonaro não amenizou o tom. "Para ser candidato a presidente tem de falar que vai ampliar o Bolsa Família, então vote em outro candidato. Não vou partir para a demagogia e agradar quem quer que seja para buscar voto."
Mudança
A mudança no discurso começa a ser percebida em 2018, ano em que Bolsonaro acabou eleito presidente da República. Como candidato do PSL, em agosto desse ano, em entrevista à TV Record, o presidente defendeu a existência do programa e confirmou que ele seria mantido, caso ganhasse as eleições. "É um programa que temos que manter e, por questões humanitárias, olhar com muito carinho", afirmou.
Meses depois, Bolsonaro publicou um vídeo em que lamentava "mentiras" relacionadas a seu posicionamento. "A mais estapafúrdia que existe, em especial na região Nordeste, é a de que eu iria acabar com o Bolsa Família. O Bolsa Família é um projeto humanitário. Muita gente precisa dele para sobreviver. Jamais pensaria em acabar com um programa como esse. O que eu quero é acabar com as fraudes", garantiu.
O novo discurso foi mantido depois de assumir a Presidência. Na 22; Marcha dos Prefeitos, na última terça-feira (9/4), em Brasília, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-SP), Bolsonaro voltou a falar sobre o programa. "Nós somos defensores do Bolsa Família, tanto é que anunciaremos o 13;", disse. Logo em seguida, ele completou que o conhecimento é o que tira homens e mulheres de uma situação difícil, e que, portanto, o governo deveria resgatar a função das escolas de formar bons profissionais e "bons liberais", e não "militantes", como, segundo ele, tem sido feito.
O Bolsa Família foi criado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, direcionado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país. Atualmente, a Caixa contabiliza 13,9 milhões de brasileiros atendidos. Já previsto no Orçamento de 2019, o investimento destinado à medida será de R$ 2,6 bilhões, elevando os recursos do programa social para $ 32,1 bilhões neste ano.