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Politica

Envolvimento de Rodrigo Maia pode definir o tamanho da 'nova Previdência'

Segundo contabilistas do Congresso, o presidente da Câmara tem ao menos 150 votos nas mãos

O envolvimento do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nas articulações pela reforma da Previdência poderão definir o tamanho da economia que o projeto trará aos cofres públicos. Inicialmente, o governo prevê que a "nova Previdência" contenha até R$ 1 trilhão em 10 anos. Para ser razoável e aceita pelo mercado, a PEC terá que segurar ao menos R$ 800 bilhões no mesmo período. O problema é que parlamentares da oposição querem minar o projeto do ministro da Economia, Paulo Guedes, como forma de tentar "apequenar" o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

Presidente da Câmara pela terceira vez consecutiva, Rodrigo Maia ameaçou, há pouco mais de duas semanas, deixar a articulação política em favor do governo para a reforma da Previdência. Aliado de primeira hora de Bolsonaro, Maia tem ao menos 150 votos nas mãos, segundo contabilistas do Congresso. O número corresponde a praticamente metade dos votos necessários para que o projeto seja aprovado na casa legislativa: 308. Sem a ajuda do deputado fluminense, as chances do governo despencam.

"O papel do Rodrigo Maia vai para além dos votos. Não é só questão numérica, é uma questão de articulação. Ele representa um grupo bastante heterogêneo e coeso. Para colocar uma PEC em votação, para ter segurança, é bom ter mais ou menos uns 370 votos. Dá para conseguir, mas o Rodrigo Maia não tem mostrado disposição para lidar com as cascas de banana do governo", analisa Thiago Vidal, da Prospectiva Consultoria.

Contabilizados os cortes do Benefício de Prestação Continuada (BPC), as mudanças dos trabalhadores rurais, dos juízes, dos servidores públicos com sangue azul (aqueles com os salários mais altos) e a situação dos agentes públicos, entre outras questões; deve-se fechar a conta da economia entre R$ 500 e R$ 600 bilhões, segundo opositores. Assim, o presidente sai enfraquecido mesmo que a reforma seja aprovada pelo Congresso. "Isso é o que querem os partidos de esquerda. O governo começou a articular com a base para fortalecer o apoio ao projeto e, do jeito que as coisas estão caminhando, vamos cumprir a meta imposta no primeiro momento", afirma um integrante da liderança do PSL.

"O PSL, único partido que se diz governista, não está totalmente alinhado com as ideias do Planalto. Falta trabalho na base. Por isso o presidente Bolsonaro marcou reuniões na semana passada e deve se encontrar ainda hoje com líderes de bancadas e presidentes de partidos. Sem Rodrigo Maia para ajudar a vender os projetos do governo, caem muito as possibilidades de aprovar a PEC sem um fatiamento que prejudique a ideia inicial", conta o cientista político Ernesto Cabral, da HC7 Pesquisas.

Levantamento a que o Correio teve acesso aponta que, entre janeiro e março, a aprovação pessoal do presidente Bolsonaro caiu de 67% para 51%. O apoio ao governo desceu dos 49% para os 34%. Bolsonaro, contudo, ainda tem apoio importante do eleitorado cativo, especialmente nas redes sociais, instrumento que utiliza para falar diretamente com seu público. Ainda assim, a ausência da base ilustra fissuras entre o governo e o Congresso.
"A economia é o grande vetor e, se ela chegar bem em 2022, Bolsonaro chega muito bem. Independentemente do que se fale, a reforma será desidratada, e a Maia cabe garantir que ela tenha um piso. Um impacto fiscal de R$ 1 trilhão é politicamente inviável e, abaixo de R$ 600 bilhões, é fiscalmente insatisfatório. O valor ideal seria R$ 800 bilhões, número que o mercado vai aceitar bem", complementa Vidal.

Para enfrentar as dificuldades no Congresso, Maia contará com o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem tem uma relação afinada. Basta diminuir o ritmo das declarações sobre o projeto do ministério, que têm ecoado na sala de Guedes, e impedir que a relação azede.