Politica

Aproximação de Bolsonaro com parlamentares ainda não convence

'Ele abriu o diálogo, mas, cada vez que fala com o público, demonstra desrespeito ao Parlamento,' critica Marcelo Ramos (PR-AM), um dos deputados titulares da CCJ da Câmara

Gabriela Vinhal, Alessandra Azevedo
postado em 07/04/2019 11:31

Jair Bolsonaro

Mesmo com as reuniões recentes entre o presidente Jair Bolsonaro e lideranças partidárias, os parlamentares continuam criticando as tentativas de ;desqualificação; da política, ainda promovida pelo chefe do Executivo. Eles reclamam que, até quando concordam com as pautas do governo, são tratados como inimigos. O que vai na contramão do que defende a maior parte dos aliados do presidente, inclusive o vice, Hamilton Mourão, que já disse que os partidos de apoio devem ter algum tipo de ;participação, seja em cargos nos estados ou em algum ministério;.

;Ele abriu o diálogo, mas, cada vez que fala com o público, demonstra desrespeito ao Parlamento. Mostra uma tentativa de criminalizar e fragilizar a política;, diz Marcelo Ramos (PR-AM), um dos deputados titulares da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. ;Já estou convicto de que a estratégia dele não é recompor o Parlamento, é se aproveitar da fragilidade e impor a vontade dele;, acredita.

Um exemplo disso é que, logo após ter conversado com políticos, na semana passada, Bolsonaro ressaltou que, apesar do que alguns disseram, ele não tratou de cargos. ;O governo está com lista de cargos no Congresso, oferecendo para todo mundo, pelos coordenadores de bancada. Mas, quando os líderes vão ao Planalto, o presidente constrange quem dá entrevista sobre isso. É desleal tratar de cargo pela líder dele e depois ir a público dizer que isso não acontece;, comentou o deputado do PR, que disse não ter sido procurado pessoalmente para tratar do assunto.

A articulação tem sido feita pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Com a negociação, Bolsonaro pode conseguir votos para a reforma da Previdência, pela importância da matéria, mas a aproximação com os partidos precisa ir além de uma pauta específica. Essa é a intenção do Planalto, segundo Hasselmann.

;Uma coisa é base aliada e outra coisa é convergência de agenda. O presidente deu início à busca pela formação do grupo de apoiadores, enquanto eu e os outros líderes miramos também nas conversas com parlamentares. Também não dá para depositar todo o apoio ao governo baseado na agenda econômica;, ponderou Hasselmann.

Para isso, uma ala bolsonarista alerta que é preciso não se indispor com nomes importantes, como do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Com base na briga recente entre o deputado e o presidente Bolsonaro, em março, isso seria, na visão deles, um tiro no pé. O embate entre os chefes do Legislativo e do Executivo foi o mais prejudicial ao governo, até agora.

A relação de Bolsonaro com o deputado nunca foi das melhores, apesar de o governo ter apoiado, ainda que indiretamente, a reeleição dele à presidência da Casa. O que os une é basicamente a pauta econômica: Maia é um dos maiores defensores da reforma da Previdência, desde antes de Bolsonaro sequer pensar em se candidatar à Presidência da República.

Ter conseguido emplacar o candidato apoiado pelo governo na Câmara é uma das vitórias de Bolsonaro na relação com o Parlamento nesses primeiros 100 dias ; na prática, dois meses, já que o Congresso só começou a trabalhar em fevereiro. Ele também saiu ganhando com a eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a Presidência do Senado. O nome era oficialmente o preferido dele. Na semana passada, Alcolumbre disse esperar que Bolsonaro consiga construir a ponte entre os Poderes e explique como funciona o ;novo modelo de rearranjo;.


;Ele abriu o diálogo, mas, cada vez que fala com o público, demonstra desrespeito ao Parlamento;

Marcelo Ramos, deputado do PR-AM

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