Em nota divulgada pelo escritório do advogado Piraci Oliveira (confira a íntegra no fim do texto), o empresário afirma ter feito e arcado com as custas da produção do vídeo. Também avalia ter "o total direito de expor" sua "opinião de forma livre".
Ainda na nota, Stábile chama a tomada do poder pelos militares em 1964 de "contragolpe preventivo": "Não pretendo fazer revisionismo histório algum com o meu vídeo. Só tive e tenho a intenção de mostrar a outra face da moeda".
Ao jornal O Globo, Piraci de Oliveira contou que seu cliente não sabe como a gravação chegou à Presidência da República, embora na nota o empresário afirme ser eleitor de Jair Bolsonaro. "Ele fez esse vídeo em caráter pessoal, passou para um grupo de amigos como ele sempre faz. Não é o primeiro vídeo que ele faz, ele tem diversos vídeos passados para grupos de WhatsApp. Passou e chegou aonde chegou", disse o defensor, acrescentando que Stábile "não tem nenhuma relação com o governo".
Curiosamente, também no domingo, o Corinthians ; clube do qual Stábile é conselheiro vitalício e cuja Presidência chegou a disputar ; publicou em suas redes sociais a foto de uma faixa levada por torcedores na qual se lê: "Ganhar ou perder, mas sempre com democracia".
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Vídeo
O polêmico vídeo foi divulgado no último domingo, data em que o golpe militar de 1964 completou 55 anos. Na filmagem, enviada para listas de distribuição pelo WhatsApp, um homem reforça a narrativa defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, segundo a qual a ditadura foi necessária para livrar o país do comunismo, regime político nunca instituído no Brasil. A fala é direcionada ao público jovem.
"Nosso céu, de repente, não tinha mais estrelas que outros. Nem nossa vida, nossos campos e bosques, mais flores e amores. Se você é jovem, já deve ter ouvido isso dos seus pais. Mas, se você quer mais detalhes, quer depoimentos, que ter certeza de que isso é verdade, faça uma pesquisa, consulte os jornais, revistas, filmes da época. Era sim um tempo de medo e ameaças. Ameaças daquilo que os comunistas faziam e era imposto sem exceção. Prendiam e matavam seus próprios compatriotas", diz o personagem do vídeo.
O filme afirma ainda que, após o golpe, "o medo deu lugar à confiança no futuro" e termina com a bandeira do Brasil e um narrador afirmando que "o Exército não quer palmas nem homenagem", quer "apenas cumprir o seu papel".
Na ocasião, o Planalto disse que não comentaria o teor do vídeo. "Procede que ele foi publicado pelo Planalto, mas não foi produzido pelo Planalto. Essa divulgação não foi uma ação da Secretaria Especial de Comunicação Social", informou a Secom, por nota.
Mortes e tortura
O regime de exceção sob a batuta do Exército governou o país por 21 anos. No período, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade, o Estado submeteu 1.843 pessoas à tortura, fez mais de 20 mil prisões e foi responsável por 434 mortes, incluindo membros do regime interessados em denunciar a corrupção ; nem todas as vítimas foram encontradas. Ao fim do governo militar, o país entrou em uma longa crise econômica atribuída, por especialistas e historiadores, ao crescimento artificial da economia promovido pelo regime.
Confira a nota de Stábile na íntegra:
"DECLARAÇÃO
Como Autor-Produtor do vídeo divulgado na data de 31/03/2019 faço essa Declaração. Fi-lo (o vídeo), de moto próprio e às minhas expensas. Isto posto, venho esclarecer que:
1. Como cidadão, quite com suas obrigações constitucionais e legais, tenho o total direito de expor minha opinião de forma livre.
2. Sou um patriota e entusiasta do contragolpe preventivo (pois é assim que boa parte que os historiadores sem ideologias pré concebidas enxergam "1964").
3. Não tenho e nem tive a pretensão de mexer com os brios, dores e sentimentos daqueles que se dizem perseguidos pelas Forças do Estado naquele importante período da nossa história. Mas acredito plenamente nos esforços de nossas Forças Armadas que evitaram males políticos maiores para a nação. E esse lado da história precisa ser conhecido pelas novas gerações! Uma só cansada narrativa que traz meias verdades ou mentiras não pode ser o único norte para um povo que necessita conhecer sua história! Meu vídeo, afinal, restringiu-se a falar de um momento pré-regime militar. As Forças Armadas agiram naquela oportunidade rigorosamente dentro da Lei e obedecendo a Constituição de 1946, então vigente. Ver seu Artigo 177, que fala por si.
4. O Exército nos salvou e nos salva! Todos os dias! No combate aos focos da dengue, no front da segurança pública, construindo estradas, educando e formando jovens brasileiros, impedindo os ventos frios que massacraram povos em nome de regimes que nunca semearam a democracia, como é de conhecimento geral.
5. Feliz de um povo que pode criticar suas Forças Armadas, mas pode contar com elas! Sempre! Deem a missão! As Forças Armadas a cumprirão sem pestanejar.
6. Por fim, não pretendo fazer revisionismo histórico algum com o meu vídeo. Só tive e tenho a intenção de mostrar a outra face da moeda.
E o povo brasileiro pode e deve conhecer outros argumentos, que não aqueles repetidos compulsoriamente, sem respeito aos fatos como eles, de fato, ocorreram.
Como disse no meu vídeo O EXÉRCITO (pela sua atuação firme e Constitucional em 31 de março de 64) NÃO QUER PALMAS NEM HOMENAGENS. O EXÉRCITO APENAS CUMPRIU O SEU PAPEL.
E foi apenas isso que enfoquei.
Que Deus nos proteja! Que Deus proteja TODO povo brasileiro, independentemente de sua bandeira ideológica! Eu tenho a minha!
Sou eleitor do Presidente Jair Bolsonaro. E penso que todo Democrata deve respeitar a vontade da maioria demonstrada nas urnas.
É o que tinha a falar - e isso é tudo o que tinha a declarar sobre a postagem de meu vídeo em 31 de março.
E peço respeito por minhas convicções.
OSMAR STÁBILE
DIRETOR PRESIDENTE BENDSTEEL INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA"