Politica

Em guerra aberta, Maia e Bolsonaro voltam a trocar farpas

Chefe do Executivo diz que presidente da Câmara está "abalado" por "coisas pessoais". Democrata rebate a declaração: "Está na hora dele sentar na cadeira"

Simone Kafruni
postado em 28/03/2019 06:00

O presidente Bolsonaro e Rodrigo Maia trocaram farpas durante o dia: promessa de conversa

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que, na volta da viagem que fará à Israel, pretende conversar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Os dois vêm tendo sucessivos atritos que refletem no andamento da aprovação da reforma da Previdência. ;Com certeza, vamos nos encontrar. Da minha parte, minha mão está sempre estendida para ele;, disse, em São Paulo. No entanto, voltou a alfinetar o deputado: ;Eu não tenho problema nenhum com o Maia, ele está abalado com algumas coisas pessoais que estão acontecendo. Não quero entrar em detalhes, mas passa pelo estado emocional dele no momento;, disse ; o ex-ministro Moreira Franco, preso pela Lava-Jato na semana passada, é sogro de Maia.

O presidente da Câmara respondeu: ;Abalados estão os brasileiros que esperam desde janeiro que o Brasil comece a funcionar;, disse. ;São 12 milhões de desempregados, capacidade de investimento diminuindo. Está na hora de pararmos com esse tipo de brincadeira. Está na hora dele (Bolsonaro) sentar na cadeira e, em conjunto, resolvermos os problemas do Brasil;, afirmou. E reafirmou que é sua prioridade a aprovação da reforma da Previdência. ;Vamos parar de brincadeira e vamos tratar de forma séria, o Brasil precisa de um presidente funcionando. Precisamos que o governo do Bolsonaro dê certo, gere empregos;.

Pouco depois, em um encontro com empresários, ao ser informado sobre a entrevista de Maia, Bolsonaro replicou: ;Se foi isso mesmo, eu lamento. É uma irresponsabilidade. Não existe brincadeira da minha parte, muito pelo contrário. Até quero acreditar que ele não tenha falado isso;. As primeiras declarações do presidente vieram da entrevista ao jornalista José Luiz Datena, de quase 40 minutos, na Band, na qual reiterou as negativas sobre conflito com Maia. Bolsonaro também afirmou que o Congresso pode apreciar o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, paralelamente à agenda da reforma da Previdência. ;Há mais de 500 deputados na Câmara: 10% vão tratar da Previdência na CCJ e, depois, 10% em comissão especial. Os 80% restantes ficam de papo para o ar? Acho que o povo gostaria que fosse discutido o pacote de crime, mas quem vai decidir é o dono da pauta, Rodrigo Maia;, disse.

Exames

Jair Bolsonaro viajou à capital paulista para fazer exames no Hospital Albert Einstein, onde foi operado após a facada, durante a campanha, e visitar a Universidade Mackenzie, a fim de acompanhar uma pesquisa sobre grafeno, material maleável e resistente que conduz eletricidade e calor. Contudo, a agenda foi suspensa por conta de protestos que alunos da instituição organizaram contra a ditadura e em repúdio à determinação do presidente de comemorar a data do golpe militar em 31 de março de 1964.

Sobre 31 de março, Bolsonaro afirmou que a sociedade, a imprensa e a igreja queriam a saída do ex-presidente João Goulart em 1964. ;Onde se viu, no mundo, uma ditadura entregar de forma pacífica o governo? Só no Brasil. Então, não foi ditadura;, sentenciou. Mesmo indagado se o fechamento do Congresso não seria um ataque à democracia, Bolsonaro insistiu: ;Ficou fechado 10 meses porque não produzia leis. Regime nenhum foi uma maravilha, mas qual casamento não tem problema?;, comparou. O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, criticou a comemoração da data. ;Comemorar a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa é querer dirigir olhando para o retrovisor, mirando uma estrada tenebrosa;, afirmou.

Tuitadas do dia

No Twitter, o presidente Jair Bolsonaro deu vários recados ontem. Prevendo mais um embate com a imprensa sobre as comemorações da ditadura militar, Bolsonaro postou, duas vezes, frases de Roberto Marinho, fundador da Rede Globo, defendendo a ;revolução de 1964;. Depois, voltou a focar na reforma da Previdência. ;Cidadãos de vários estados brasileiros passaram sufoco nos últimos anos pela falta de pagamento de suas aposentadorias. Se permanecermos no atual sistema, a tendência é que isso se repita em escala nacional. Caos total! É fato! Por isso que se faz necessária a Nova Previdência!”.

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