"Ele não precisa me convencer a ser a favor da Previdência. O Paulo Guedes (ministro da Economia) é que precisa continuar a convencer ele a ser a favor da Previdência", afirmou Maia, depois de informar que Bolsonaro não o procurou para conversar após a tensão instalada nesta semana entre o Palácio do Planalto e o Congresso em relação à proposta.
"Não me ligou, não terá encontro, não preciso de encontro", disse Maia, que na sexta-feira anunciou que não fará mais a articulação da proposta de reforma da previdência e que cabe ao governo buscar os votos necessários para aprovar a medida. Após a reação de Maia, Bolsonaro, em viagem ao Chile, afirmou que não sabia por que o presidente da Câmara adotara essa postura. Neste sábado, o presidente disse que atritos acontecem porque alguns políticos "não querem largar a velha política".
"Quem precisa conversar é ele com sua equipe econômica para parar de falar que é contra a Previdência. Ele não pode ser contra algo que vai mudar a vida dos brasileiros para melhor, ele não pode ser contra algo que vai fazer o Brasil crescer e a gerar emprego, o que ele precisa é ter convicção", acrescentou Maia neste sábado.
"Deserto de ideias"
Maia declarou ainda que Bolsonaro precisa mostrar que tem novas propostas a serem apresentadas ao país. Em entrevista publicada no sábado pelo jornal Estado de S. Paulo, o presidente da Câmara criticou a falta de propostas do governo. "O governo é um deserto de ideias", declarou Maia. "Se tem propostas, eu não as conheço. Qual é o projeto do governo Bolsonaro fora a Previdência? Não se sabe", afirmou ao jornal.
A jornalistas, Maia prosseguiu no mesmo tom neste sábado. "Esperamos que, a partir de amanhã, com ele no Brasil, ele chame deputados, explique o que ele quer, o que ele defende além da Previdência. Como ele vai enfrentar a pobreza com algum projeto diferente dos do PT, como vai cuidar da habitação brasileira em algum projeto diferente do do PT. Se não, a gente vai achar que os governos são muito parecidos, porque até agora ninguém propôs nada diferente do que o PT construiu nos últimos 13 anos."
Apoio de partidos
Partidos saíram em defesa do presidente da Câmara. Daniel Coelho (PE), líder no parlamento do PPS, partido com quem Maia se reuniu neste sábado, disse que o governo não pode gerar ruídos. "Temos um assunto que já é muito difícil por si só, que é a Previdência", disse. "Algumas declarações em redes sociais, seja do presidente ou do filho dele, não contribuem", afirmou.
Mais cedo, o PSD emitiu nota com apoio enfático a Maia e para expressar "seu veemente repúdio aos ataques desferidos nas mídias sociais" contra ele. "Para a bancada do PSD na Câmara, os ataques gratuitos à pessoa do presidente Rodrigo Maia, além de agredir covardemente a sua dignidade pessoal e política, buscam erodir, sobretudo, o Poder Legislativo, esteio do regime democrático e fundamento da República", diz o partido.
O líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), acompanhou de perto a movimentação de Maia nos últimos dias e disse que ele foi "cirúrgico e correto". "Maia tem a previdência como foco. Não é reforma do presidente, ele tem essa defesa desde sempre", afirmou Lira, para quem o governo deve deixar mais claro quais são suas metas.