Santiago ; Aparentemente surpreso com a declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que vai largar a negociação política em torno da reforma da Previdência, o presidente Jair Bolsonaro tentou esfriar os ânimos e manter o parlamentar ao seu lado. Depois de ser questionado por jornalistas que acompanham a visita de chefes de Estado sul-americanos à capital chilena, Bolsonaro comparou a relação com Maia com a de uma namorada, que ameaça deixar o caso amoroso, mas que é convencida a continuar depois de uma boa conversa.
;Eu não dei motivo para ele sair;, frisou. Questionado por um repórter sobre que argumentos usará no convencimento, o presidente disse: ;Só conversando, não é? Você nunca teve uma namorada? Quando ela quis ir embora, você fez o quê? Não conversou?;. O presidente ainda perguntou: ;Estou fora do Brasil. Eu quero saber qual o motivo pelo qual ele está saindo (da articulação);.
Perguntado se um deles não seriam os tuítes de um dos seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro ; que criticou Maia em apoio ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, porque a tramitação do pacote anticrime ficou em segundo plano ;, o presidente declarou: ;Todo o Brasil está indignado com a demora da votação do projeto anticrime;. ;Nós, no Brasil, não conseguimos mais viver com mais de 60 mil homicídios por ano. Se foi esse motivo, eu lamento, mas isso não é motivo.;
Bolsonaro disse que pretende conversar com Maia depois que voltar ao Brasil e que está aberto ao diálogo. Ele sabe que, independentemente da tensão criada, o presidente da Câmara é personagem fundamental na velocidade de tramitação da proposta de emenda à Constituição (PEC) da Previdência, que, além de ter prazos mais extensos, precisa de quórum qualificado para que o governo tenha vitória.
Reclamações
Parlamentares de siglas aliadas reclamam, nos corredores do Congresso, de falta de diálogo de interlocutores para negociarem emendas e votos no projeto da Previdência. ;Nós, deputados do Centrão, estamos nos sentindo muito isolados. Não é questão de conseguir cargo nem de liberar dinheiro para os estados. Sabemos que o país está em crise. O que queremos é ser atendidos pelos ministros do governo, ao menos. Eles precisam do meu voto;, disse um líder.
Um congressista aliado a Maia afirmou que, até o momento, a articulação política do governo está ;pior do que na era Dilma;. Isso porque o parlamento não tem uma referência do Executivo, ;não sabe quem manda, quem fala ou, se quando fala, é aquilo mesmo;. ;Estamos perdendo, inclusive, a confiança;, disse. De acordo com o parlamentar, falta Bolsonaro entender que ninguém na Casa quer a velha política, mas a boa política. ;É como o Maia falou. Aqui se faz a boa política;, emendou.
Colaborou Gabriela Vinhal