Washington, DC ; Pelo semblante da delegação brasileira ao chegar para a declaração conjunta dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump no Rose Garden, o jardim da Casa Branca, era possível concluir que o Brasil saiu dos Estados Unidos com a sensação de ;missão cumprida; e quase tudo o que havia solicitado, inclusive o apoio para ingresso na Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) ; o clube dos países ricos, que representa um selo de qualidade para negociações comerciais. Mas, como nem tudo na vida é exatamente do que jeito que se deseja, o presidente brasileiro, conforme escrito no comunicado da Casa Branca, concordou em iniciar os procedimentos para deixar de ter tratamento preferencial e diferenciado na Organização Mundial do Comércio.
Essa perspectiva, entretanto, não diminuiu a sensação de vitória da comitiva brasileira. É que diante do conjunto de oportunidades que se apresentam à frente, o resultado não poderia ter sido melhor em se tratando de uma primeira visita. A maior vitória do Brasil nessa viagem foi a inclusão do país como aliado extra do Tratado do Atlântico Norte (Otan), algo que, segundo o presidente Bolsonaro, ajudará o Brasil em questões de defesa, segurança e energia.
Com tanta afinidade, a conversa fluiu. E, neste primeiro encontro, Trump ganhou mais do que ofereceu. Por exemplo, o apoio do Brasil para resolver a crise da Venezuela. Levou ainda o uso da Base de Alcântara, no Maranhão, algo que a oposição brasileira considerou ;entreguismo; ; e o presidente Jair Bolsonaro viu como um grande lucro, até porque os americanos vão pagar pelo uso. ;Atualmente, a base está ociosa e a entrada deles ajuda a capacitá-la. A questão quilombola foi resolvida nesta semana. Tinham ampliado a área sem ninguém saber. Vamos oferecer mercado de trabalho para os quilombolas. Todo mundo tem a lucrar;, disse Bolsonaro, na entrevista na calçada da Blair House.
A questão dos vistos, que os americanos agora estão isentos, deixou a desejar para os turistas brasileiros. Tampouco, os empresários ganharam o Global Entry, que evita filas na migração daqueles que vivem na ponte aérea entre os dois países. O presidente, entretanto, garante que as coisas vão caminhar: ;A gente não vê nenhum americano indo para o Brasil ganhar estabilidade via CLT. O contrário existe, mesmo não havendo nenhuma garantia da CLT. Agora, alguém tem que estender o braço em primeiro lugar, e quem estendeu fomos nós. Creio que podemos ganhar muito na questão do turismo, que está muito voltada com a questão da segurança também; disse o presidente, pedindo desculpas por ter dito, à Fox News, que a maioria dos imigrantes era mal-intencionada.
Eleições
Não foi apenas Bolsonaro a demonstrar boa vontade e bom humor. Donald Trump também. Especialmente, quando a imprensa americana quis saber o que Bolsonaro achava da eleição de 2020 nos EUA, se mudaria algo na relação entre os dois países em caso de vitória de um democrata. Bolsonaro, escolado na diplomacia, disse que se tratava de um assunto interno, mas que acreditava na vitória de Trump. Sorrindo, o americano agradeceu e disse que pensava o mesmo. Trump demonstrou ainda toda a deferência com o deputado Eduardo Bolsonaro, a quem convidou para participar da conversa reservada entre os dois presidentes, em que foram discutidas as questões mais sensíveis em relação à Venezuela.
Ao mencionar a Venezuela, ambos deixam fluir toda a questão ideológica que os une. Bolsonaro citou o fim da ideologia de gênero, do politicamente correto e das fakes news. Trump foi enfático ao dizer que quer as pessoas livres, mencionou ainda Cuba, antes da Venezuela, e foi direto: ;A última coisa que queremos na América é o socialismo;, disse, antes de referir ao Brasil na Otan e aos acordos para segurança e combate ao crime organizado, outros temas em que os dois países promoverão parcerias.