O presidente Jair Bolsonaro volta de sua primeira visita bilateral aos Estados Unidos, na quarta-feira, e no dia seguinte já embarca para o Chile, segundo destino de uma uma série de três visitas oficiais marcadas para março, que acaba com uma viagem a Israel no fim do mês. A conversa com o presidente Sebastian Piñera será no dia 23, um dia depois da reunião em Santiago, convocada por Piñera, entre os 12 chefes de estado sul-americanos com o objetivo de discutir um novo arranjo político para a Região, em substituição à União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
[SAIBAMAIS]A ideia é substituir a Unasul por um arranjo mais enxuto, que vem sendo chamado de Prosul, que funcionaria como um fórum de concertação política mais dinâmico, sem o peso das instituições da Unasul, que inclui uma Secretaria-Geral, três conselhos (de Chefes de Estado, de Ministros e de Delegado), além de uma sede, em Quito, no Equador, e um orçamento. O governo do Equador, porém, já solicitou o prédio onde funciona a Unasul. Os presidentes reunidos em Santiago, na sexta-feira, devem fazer uma declaração sobre a nova fase da integração sul- americana e alguns países, inclusive o Brasil, podem fazer um anúncio oficial de saída Unasul, como já fez a Colômbia, um processo cujo desfecho leva seis meses.
Na agenda bilateral estão assuntos ligados ao comércio,à infraestrutura da região e possíveis conversas sobre a reforma da Previdência, que o presidente Bolsonaro espera aprovar até o meio do ano. A reforma brasileira é inspirada no modelo de previdência chileno, instituída no nos anos 80 durante o governo do ditador Augusto Pinochet, que adotou um modelo de capitalização. O idealizador da reforma chilena foi o economista José Piñera, irmão do atual presidente, que na época era ministro do Trabalho e Segurança Social e da Mineração. Assim como o ministro da Economia Paulo Guedes, José Piñera é um dos chamados "chicago boys", como ficaram conhecidos os economistas que adotaram a linha de pensamento neoliberal disseminada pela Universidade de Chicago. A viagem ao Chile não consta da agenda do ministro brasileiro.
Bolsonaro também deve receber apoio do Chile para integrar a OCDE, grupo de países com boas práticas econômicas do qual o Chile participa como membro permanente desde 2010. O Brasil solicitou uma vaga no clube em 2017. O Banco Central Chileno anunciou hoje (segunda) que a economia chilena cresceu 4% em 2018, seu nível mais alto em cinco anos, impulsionada pelo bom desempenho do setor de mineração, serviços e comércio.
Comércio
Em novembro do ano passado, os dois países ampliaram o escopo do ACE-36, um acordo de livre comércio, restrito à redução de tarifas, assinado em 1996. Com a ampliação do acordo ainda no governo Temer, foram incluídos compromissos para facilitar as relações econômicas em 24 áreas não tarifárias, como comércio eletrônico, telefonia (eliminação de roaming internacional), medidas fitossanitárias, entre outros itens. Segundo o governo brasileiro, o encontro vai dar um sinal ao Congresso dos dois países sobre a necessidade de agilizar a ratificação da ampliação do acordo nos respectivos parlamentos.
No ano passado, o Brasil exportou US$ 6,3 bilhões para o Chile. Os exportadores embarcam para o parceiro sul-americano sobretudo manufaturados (54,4% da pauta), como automóveis, veículos de carga e tratores e principalmente óleos brutos de petróleo, entre os produtos básicos. O Brasil compra minérios de cobre, salmão, produtos semimanufaturados de cobre, entre outros e em 2018 fez superávit de US$ 3 bilhões.
O estoque de investimentos brasileiros no Chile é de mais de US$ 35 bilhões. O maior volume é no setor financeiro, onde atuam, principalmente, os bancos Itaú e BTG Pactual, mas há também negócios no setor farmacêutico, entre outros.
Interligação de Infraestruturas
Segundo o governo brasileiro, os acertos firmados recentemente entre o Brasil e o Paraguai, quando Bolsonaro recebeu o presidente Mário Abdo Benítez no Palácio do Planalto no último dia 12, também serão parte da conversa de Bolsonaro com Piñera. Isso porque com a confirmação da construção de duas pontes, entre o Mato Grosso do Sul e entre o Paraná e o Paraguai, vai permitir que Brasil e Chile retomem conversas sobre agilidade nos trâmites alfandegários, uma vez que as obras vão dar acesso aos produtos brasileiros ao Pacífico, que poderão chegar aos portos do norte do Chile.