Durante a visita, que o governo encara como oportunidade de superar o que chama de ;preconceitos ideológicos que impediram no passado o aproveitamento pleno do potencial da relação;, Bolsonaro pretende tomar iniciativas políticas com as quais espera obter retornos econômicos. Em uma delas, levanta ; de forma unilateral ; a possibilidade de suspender a necessidade de visto para a entrada de visitantes norte-americanos no Brasil. Com isso, o Planalto pretende aumentar o número de turistas americanos no país. A principal mensagem do presidente brasileiro para Trump, de acordo com o Itamaraty, será que ;Brasil e Estados Unidos possuem afinidades de valores e de interesses que devem ser transformados em ampliação do comércio e dos investimentos e no fortalecimento da cooperação em áreas como ciência, tecnologia e inovação, energia, defesa, segurança, além de temas regionais e globais;.
Bolsonaro ficará na Blair House, casa de hóspedes de honra do governo dos EUA, que integra o complexo da Casa Branca (leia na página 4), onde Dilma Rousseff também ficou, na última viagem presidencial do Brasil aos EUA, em 2015. Ele assinará o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, que dá permissão aos EUA para utilizar a base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão, em negociação há cerca de 20 anos. Está previsto ainda o anúncio do Brasil como um aliado extra da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) dos Estados Unidos, status com o qual o governo brasileiro pretende ter acesso à tecnologia militar.
O ex-embaixador do Brasil nos EUA Rubens Barbosa considera esse acordo como o ponto mais importante da agenda de anúncios previstos pelo governo. ;Com essa parceria, o Brasil passa a aceitar uma série de princípios que garantem a propriedade intelectual, ou seja, segredos tecnológicos, de empresas que vão utilizar a base de Alcântara para lançar seus satélites, colocando o Brasil em um mercado em expansão;, avalia. Para Barbosa, a reciprocidade para o fim da necessidade de vistos não é fundamental. ;Quando eu era embaixador, em 2003, uma família americana gastava US$ 400 apenas em emissão de vistos para o Brasil, o que fazia muitos turistas preferirem a Jamaica;.
[SAIBAMAIS]O presidente, porém, deve voltar de mãos vazias com relação à expectativa de entrar no seleto clube da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), que aceitou a Colômbia no ano passado. Trump sinalizou preferência à Argentina, devido à amizade da família dele com a do presidente Maurício Macri, que também entrou com processo de adesão. O Brasil solicitou a entrada no grupo em 2017.
Sem empresários
A comitiva de Bolsonaro não conta com a tradicional presença de empresários brasileiros, costume em viagens internacionais. Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apesar desse esvaziamento, a visita é importante. ;Há perspectivas de ampliação de mercados para produtos manufaturados nacionais e de negociações para que o Brasil não seja alvo de novas sobretaxas americanas. Mas o comércio externo brasileiro depende mais de mudanças internas, como as reformas da Previdência e tributária, para ser ampliado;, pondera. O presidente Bolsonaro também tem a intenção de anunciar, durante a visita, a retomada do Fórum de CEOs entre os dois países.Bolsonaro viaja acompanhado de seis ministros: da Economia, Paulo Guedes; da Agricultura, Tereza Cristina; das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do general Augusto Heleno; da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Na noite deste domingo, ele será recebido com um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, com autoridades e personalidades.
Foram convidados o estrategista, ex-assessor de Trump e líder do movimento conservador mundial Steve Bannon, que se reuniu com Eduardo Bolsonaro durante a campanha eleitoral, em 2018, e o brasileiro Olavo de Carvalho, que indicou o chanceler do governo atual. Com o aumento da tensão entre Estados Unidos e Venezuela e a eleição de Bolsonaro, o Brasil passou a ser um aliado no interesse de afastar o presidente Nicolás Maduro. A crise no país vizinho também está na pauta do encontro bilateral.
Trump ainda não anunciou quem vai indicar para substituir o embaixador no Brasil, Michael McKinley, que voltou a Washington no fim do ano passado para assessorar o secretário de Estado, Mike Pompeo. Já Bolsonaro deve indicar o diplomata Nestor Foster para o lugar de Sérgio Amaral. Foi Foster quem apresentou Olavo de Carvalho ao chanceler Ernesto Araújo. Antes de assumir o cargo, porém, Foster precisará ser promovido a ministro de primeira classe, um pré-requisito para entregar as credenciais ao governo americano. Quando voltar de Washington, no dia 20, Bolsonaro deve começar a substituir vários embaixadores. Estão previstas 15 substituições, pelo menos.