A escritora, professora e candidata ao governo do Rio pelo PT nas eleições de 2018, Marcia Tiburi, está morando fora do Brasil desde o fim do ano passado. Em entrevista ao blog de Nina Lemos, do Uol, a ativista disse ter recebido ameaças de morte e afirmou que "não era mais viável" seguir vivendo no país.
"Eu não podia ir a uma padaria, recebia ameaças de morte, não dava para viver assim", explicou a autora de Como conversar com um fascista e Feminismo em comum. Ainda segundo a publicação, Tiburi hoje faz uma residência literária em Pittsburgh, no estado norte-americano da Pensilvânia, mas deve se mudar em breve com o marido para Paris, na França.
A escritora contou que sua vida "virou um inferno" desde o episódio em que se recusou a participar de uma entrevista com o, agora, deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL): "Você não tem ideia da quantidade de ameaça de morte que eu recebi pela internet", pontuou. "Um dia eu caí na besteira de entrar no metrô em São Paulo. Fui atacada por um cara que gritava comigo: ;eu tenho orgulho de ser fascista! Eu tenho orgulho de ser fascista;. Foi muito assustador porque o sujeito caía no estereótipo mesmo de um fascista, fisicamente até", acrescentou.
A decisão de deixar o país em definitivo foi tomada após o MBL de Kim convocar uma manifestação contra a presença da escritora em uma feira literária em Maringá (PR), em novembro do ano passado. Achei que tinha se tornado inviável ser uma escritora no Brasil. Eu sou ameaçada, mas as pessoas também são. A vida da cultura se torna inviável porque as pessoas prometem assassinato", explicou.
Na ocasião, Tiburi aceitou um convite para fazer uma residência em Pittsburgh. Decisão que, na avaliação dela, foi acertada. "Vir para cá foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Por mim e pela minha militância também. Por que muita gente fora do Brasil não sabe o que está acontecendo e temos que falar", justificou.
Jean Wyllys
Eleito, mais uma vez, para o cargo de deputado federal, o jornalista e professor Jean Wyllys abriu mão do novo mandato e também deixou o país após receber ameaças de morte. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Jean disse que a eleição do presidente Jair Bolsonaro não foi a causa principal da saída do Brasil. Mas, sim, o aumento do nível de violência. "Não foi a eleição dele em si. Foi o nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara [o assassino] botou uma imagem de uma santa no lugar", declarou, à época.