Deborah Fortuna
postado em 19/02/2019 14:38
Uma série de mensagens escritas e de áudio mostra que os dias que antecederam a demissão de Gustavo Bebianno foram marcados por muita desconfiança e troca de acusações entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-Secretário-Geral. As conversas (ouça nos arquivos ao fim desta matéria) foram divulgadas primeiramente pelo site da revista Veja na tarde desta terça-feira (19/2).
Em determinado momento, Bolsonaro acusa Bebianno de plantar notas na imprensa e de tentar "empurrar para o colo" dele o escândalo envolvendo candidaturas laranjas, em Pernambuco, durante as eleições de 2018. Por sua vez, Bebianno acusa o filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), de mentir ao dizer que os dois não teriam conversado na terça-feira (12/2). O ex-ministro também acusou o verador de tentar derrubá-lo do governo.
Na terça-feira (12/2), Bebianno disse ao jornal O Globo que não era parte de uma crise institucional e que tinha falado três vezes naquele dia com o presidente. Por meio do Twitter, Carlos Bolsonaro disse que esteve com o pai ao longo de todo o dia e chamou o ex-ministro de mentiroso. "É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro", escreveu Carlos. A mensagem foi compartilhada pelo presidente também.
De acordo com as mensagens às quais Veja teve acesso, o ex-ministro e o presidente de fato conversaram três vezes ao longo do dia, mas sobre assuntos não relacionados ao escândalo das candidatas laranjas ; uma das mensagens é sobre Bebianno receber o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, e outras duas sobre uma viagem de ministros à Amazônia, que acabou cancelada.
Ao ser questionado se Bolsonaro se manifestaria sobre a divulgação dos áudios, o porta-voz da Presidência, Rêgo Barros, disse que o presidente julga satisfatório o posicionamento feito em vídeo, , e que acredita que as informações foram "devidamente esclarecidas".
Troca de farpas
Nas mensagens seguintes, Bolsonaro e Bebianno começam a trocar acusações. Após uma clara chateação do ex-ministro com o tuíte de Carlos Bolsonaro, chamando-o de mentiroso, o presidente afirma que o filho não está "incitando a saída" dele.
"O caso incitando a saída é mais uma mentira. Você conhece muito bem a imprensa, melhor do que eu. Agora: você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem. Ele esteve comigo 24 horas por dia. Então não está mentindo, nada, nem está perseguindo ninguém", afirmou Bolsonaro em áudio.
Bebianno rebate dizendo que há várias "formas de se falar", e lembra da troca de mensagens. "Eu não sou mentiroso. Ontem eu falei com o senhor três vezes, sim. Falamos pelo WhatsApp. O que é que tem demais? Não falamos nada demais. A relevância disso; Tanto assunto grave para a gente tratar. Tantos problemas. Eu tento proteger o senhor o tempo inteiro. Por esse tipo de ataque? Por que esse ódio? O que é que eu fiz de errado, meu Deus?;, questiona.
Falta de caráter
O presidente volta a dizer que a troca de mensagens não significa que os dois se falaram, e o acusou de ter "plantado" uma nota em um veículo de comunicação no qual teria influência para envolvê-lo na polêmica. "Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade", diz Bolsonaro em um dos áudios.
Bebianno se defende das acusações de ter influenciado na nota de um jornal e também nega ter vazado a informação de que estava tentando entrar em contato com o presidente, durante os dias em que esteve internado no hospital. Após a confusão, Bebianno reafirma que é inocente no caso das candidaturas laranjas, e sugere conversar pessoalmente depois. "Eu tô vendo que o senhor está bem envenenado. Mas tudo bem, a minha consciência está tranquila, o meu papel foi limpo, continua sendo. E tomara que a polícia chegue mesmo à constatação do que foi feito, mas eu não tenho nada a ver com isso", conclui.
Grupo Globo
Na primeira mensagem de áudio a qual a revista teve acesso, Bebianno e Bolsonaro discutem receber o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo. O presidente diz ao ex-ministro que não quer Tonet Camargo dentro do Palácio do Planalto. "Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora; Inimigo passivo, sim. Agora; Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história", diz Bolsonaro.
Em nota, o Grupo Globo disse que não cultiva inimigos, e que continuará a trabalhar na missão de levar ao público jornalismo independente e de relevância ao país. O texto também afirma que a visita de Tonet Camargo à Bebianno estava na agenda pública do ministro, divulgada na internet. " Visitas de diretores do Grupo Globo a autoridades dos diferentes poderes, servidores públicos, executivos de empresas e representantes da sociedade civil são rotineiras. E, nesse aspecto, não nos diferenciamos de qualquer grupo empresarial que pretenda ouvir todas as vozes de uma sociedade livre, de forma transparente e com agenda pública, mantendo relações estritamente institucionais e republicanas", conclui a nota.
Escute os áudios
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