Paulo Silva Pinto, Leonardo Cavalcanti
postado em 19/02/2019 06:00
Os textos da reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, chegam ao Congresso com forte apoio da base aliada, por mais que a crise envolvendo o ex-presidente do PSL e integrante do primeiro escalão da Esplanada, Gustavo Bebianno, tenha desestabilizado o núcleo do Planalto. Parlamentares e analistas ouvidos pelo Correio acreditam que ainda é improvável uma perda de sustentação do governo Jair Bolsonaro, dada a alta popularidade do presidente e a pacificação sobre a necessidade de mudanças nas regras de aposentadoria e do fortalecimento da legislação contra criminosos.
Antes de iniciar o governo, em meados de dezembro, Bolsonaro contava com 255 deputados, podendo chegar a 372 votos a depender do projeto a ser votado. A base aliada, de acordo com esses números, é maior do que a de Fernando Collor (320), em 1991, e a de Luiz Inácio Lula da Silva (323), em 2012. ;A base de Bolsonaro verificada em dezembro permanece praticamente a mesma;, afirma Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que fez o levantamento. Na prática, o Planalto deverá buscar um número possível de votos para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que prevê quórum qualificado de 308 apoios. A tarefa, a partir da base mínima e da possível, não é das mais complexas.
O porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, afirmou na segunda-feira (18/2) que a expectativa do governo é de Bolsonaro levar a proposta da Previdência pessoalmente ao Congresso na quarta-feira (20/2), por ser um ;tema de extrema relevância;. Ele disse, porém, que não foi decidida a hora em que isso será feito. Provavelmente não será de manhã, já que está marcado um café da manhã do presidente no Palácio da Alvorada com a bancada do PSL na Câmara. É um sinal de deferência do Planalto ao Congresso, algo valorizado pelos parlamentares.
Ruídos
Para o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a saída de Bebianno ;gera ruídos;, mas não compromete a formação da base do governo no Congresso. ;Há muita espuma em torno desse episódio, que é, sim, importante, mas não tem maiores consequências quanto ao apoio parlamentar do Planalto;, destacou. Os principais esforços para garantir votos favoráveis à reforma até agora foram empreendidos, ele explicou, em conversas com parlamentares envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Na avaliação do líder do Podemos na Câmara, Paulo Nelto (GO), o eventual prejuízo da saída de Bebianno não virá com a exoneração em si, mas em consequência de declarações que ele venha a fazer ; o agora ex-ministro nega oficialmente esse risco, mas disse a interlocutores, na semana passada, que poderia divulgar informações desconfortáveis para o Planalto. ;Se revelar algum fato grave envolvendo o governo, o Congresso terá de investigar isso, até mesmo chamando o ex-ministro para prestar depoimento.; Na segunda-feira (18/2), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, afirmou que convidará Bebianno a dar explicações sobre as supostas candidaturas laranjas do PSL em 2018.
Nelto não crê que o eventual prolongamento da crise altere o apoio às reformas, mas avalia que, mesmo assim, o resultado será ruim para o governo. ;Ninguém vai mudar de opinião em relação às reformas por conta disso. Mas a tramitação da proposta será postergada;, alerta. O Podemos, que se apresenta como oposição ao governo, pode votar favoravelmente às reformas, dependendo da avaliação dos 11 deputados da bancada, que pretendem decidir o posicionamento e votar em conjunto.
;Gaze úmida; contra crise
A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que o governo Jair Bolsonaro está com uma ;queimadura de terceiro grau;, após a crise interna gerada pelo episódio do secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno. Joice teme, inclusive, qual será a postura de aliados do Congresso depois do que ela chamou de ;fritura pública; de Bebianno. ;Não se trata de ser contra ou a favor (de Bebianno), mas da forma como tudo foi conduzido. No Congresso e no partido, há um clima de apreensão. Não se pode passar o recado a aliados de que essa fritura pública pode acontecer com qualquer pessoa;, disse a deputada, depois de almoço da bancada paulista com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). ;Agora, vamos ver como vamos colocar uma gaze úmida nessa queimadura de terceiro grau;, comentou.