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Governo vai dividido para a eleição no Congresso Nacional

A equipe econômica vê no desfecho do confronto no Senado a oportunidade de isolar o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e abrir um canal direto de negociação com líderes do Congresso, contornando problemas que ainda existem em torno de pontos polêmicos da proposta de reforma da Previdência

As eleições que vão definir nesta sexta-feira, dia 1;, os novos presidentes da Câmara e do Senado revelam mais um capítulo das divergências entre a equipe econômica e a Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro. A equipe econômica vê no desfecho do confronto no Senado a oportunidade de isolar o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e abrir um canal direto de negociação com líderes do Congresso, contornando problemas que ainda existem em torno de pontos polêmicos da proposta de reforma da Previdência.


Embora o discurso oficial do Palácio do Planalto seja de distância em relação à disputa no Congresso, interlocutores do ministro da Economia, Paulo Guedes, não escondem, nos bastidores, a preferência pela candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) ao comando do Senado, contrariando boa parte do núcleo político do governo e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Renan conseguiu a indicação para ser candidato do MDB após vencer uma queda de braço na bancada com a colega Simone Tebet (mais informações na pág. A7).

Logo depois disso, o senador recebeu um telefonema de Bolsonaro, que o cumprimentou e o convidou para uma conversa na quarta-feira. No Twitter, o presidente disse que ligou para todos os oito concorrentes no Senado. "(...) Procuramos diplomaticamente fazer contato com os candidatos desejando-lhes boa sorte. O eleito será importantíssimo para a democracia e o futuro do Brasil", escreveu Bolsonaro, que está internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde foi submetido a uma cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal.

Anteriormente, a informação que circulava era de que a ligação tinha sido apenas para Renan. Contrariado, Onyx deixou transparecer mais um desentendimento com o senador e, também pelo Twitter, avisou que Bolsonaro telefonara para todos os concorrentes. Na mensagem, grafou o nome de Renan com "m".

Na prática, a maior preocupação do Planalto é com a eleição no Senado porque, na Câmara, a frente de apoio ao atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se consolidou de tal forma que, mesmo sem a simpatia de Onyx, o governo acabou avalizando a tentativa de reeleição do deputado do DEM. A equipe econômica também quer novo mandato para Maia, visto como um político confiável. Ele é o favorito na eleição desta sexta, que tem outros seis candidatos.

Em troca de cargos na Mesa Diretora da Câmara e da presidência de comissões importantes, como a de Constituição e Justiça, até mesmo o PSL, partido de Bolsonaro, anunciou a adesão ao projeto de Maia.

Na disputa pelo comando do Senado, porém, Onyx trabalha por Davi Alcolumbre (DEM-AP), que é considerado um político governista, mas, no diagnóstico de auxiliares de Guedes, pode enfrentar mais obstáculos para compor uma ampla coalizão pró-reforma da Previdência. Para a Casa Civil, no entanto, Alcolumbre ganhou força e tem chances de vencer Renan se a eleição for com voto aberto.

Moro, por sua vez, avalia que Renan - investigado pela Lava Jato - poderá ser um empecilho para a aprovação do pacote de medidas de combate à corrupção que ele apresentará ao Congresso neste mês.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que, na visão do ministro da Justiça, qualquer outro nome seria melhor para presidir o Senado. Esta não é, no entanto, a avaliação do Ministério da Economia. Renan e Guedes jantaram recentemente, conforme mostrou a Coluna do Estadão, e conversaram sobre um novo modelo de governabilidade que Bolsonaro deseja impor, sem barganhas políticas e com a necessidade de desvinculação do Orçamento.

"O novo Renan é menos estatizante, mais liberal e defende todas as reformas, além de um princípio: o fim de todos os privilégios", disse o senador ao jornal.

Caso Coaf

Disposto a presidir o Senado pela quinta vez, Renan também fez acenos ao governo ao defender o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que assume o mandato nestas sexta em meio a intenso desgaste político após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) descobrir movimentação considerada "atípica" de recursos na conta dele e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. "Conselho de Ética é coisa excepcionalíssima", destacou Renan. "Legislativo não é lugar para botar juiz."

Auxiliar de Onyx no Planalto, o ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) disse que o governo não colocará a "digital" na disputa do Congresso. "Eu trabalho para que Davi Alcolumbre seja presidente do Senado porque não estou nomeado, mas a determinação é para evitar qualquer atrito, já que temos quatro anos pela frente."

Apesar de enxergar Renan como um aliado do PT, o Planalto não quer tê-lo como inimigo, uma vez que o resultado da disputa é imprevisível. O governo começará a testar sua base de apoio no Congresso nos próximos dias, com o envio de medidas na área econômica antes mesmo da proposta de reforma da Previdência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.