Jornal Correio Braziliense

Politica

Mourão assume como vice e discurso agrada seguidores de Bolsonaro

"Prometo manter, defender e cumprir a Constituição", afirmou ele, quase gritando, sem ler


A promessa do general Hamilton Mourão de não ser um vice-presidente decorativo começou a ser cumprida literalmente nas primeiras palavras que ele proferiu no cargo, ao fazer o juramento: ;Prometo manter, defender e cumprir a Constituição;, afirmou ele, quase gritando, sem ler, depois de o presidente Jair Bolsonaro falar as mesmas palavras em tom bem mais ameno. ;Prometo sustentar a integridade e a independência do Brasil!”, subindo ainda mais o tom ao mencionar a nação. Os aplausos dos deputados, senadores e convidados vieram igualmente com mais decibéis do que o do juramento do presidente.

Na Praça dos Três Poderes, Mourão também caiu no gosto do público. O nome dele era ovacionado a cada vez que o locutor o mencionava. No parlatório, onde não discursou, foi citado pelo presidente, que o chamou de ;general de Exército;, a patente máxima da Força, que alcançou antes de ir para a reserva. Mesmo sem ele ter falado, o público prestou-lhe homenagem: ;Mourão! Mourão!”, gritavam os apoiadores de Bolsonaro, mostrando que o general tem forte apoio entre os eleitores.

O público na Esplanada viu, mais cedo, uma entrevista com Mourão, gravada pelos apresentadores da tevê estatal NBR. A programação da posse da emissora foi mostrada nos telões espalhados em meio ao público desde a manhã de ontem. O vice-presidente contou que é filho de Wanda, uma gaúcha de Bagé, e de Antonio Hamilton, um amazonense que, por sua vez, descendia de piauienses. Nascido em Porto Alegre, mas criado no Rio de Janeiro, o vice-presidente se mostra como uma síntese do país.

Na Praça dos Três Poderes também havia pessoas de todas as regiões do país. A Direita Pernambucana, grupo de 60 pessoas veio de ônibus do estado. ;Somos 600 integrantes lá, em 52 municípios. Nós nos reunimos desde 2014 para defender valores conservadores. Enfatizamos que os deveres devem vir antes dos direitos;, relatou o empresário Marcos Chaves, 45 anos. Militante do grupo, a pedagoga Alessandra Lins, 44 anos, moradora de Olinda, disse que, embora Bolsonaro tenha perdido a eleição no Nordeste, o apoio à direita vem crescendo na região nos últimos pleitos.

;Salvação;

Eleitora de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e 2006, ela contou que ;acreditava na mudança;, mas se frustrou. ;Ainda somos um país que pensa pequeno;, avaliou. Na opinião dela, o preconceito contra nordestinos foi incentivado nos governos petistas. ;Foi ali que criaram o nós contra eles;, disse ela, que preferiu vir de avião a Brasília, em vez do ônibus do grupo.

A empresária Marlene Carvalho, 81 anos, de Marataízes (ES), se desloca em cadeira de rodas por conta de uma rachadura no fêmur, mas não quis deixar a limitação impedi-la de vir para a posse. ;Bolsonaro merece;, afirmou. Ela assistiu a um discurso dele em Vitória, no início do ano. ;Vi que havia salvação para o país;, relatou. Marlene veio para Brasília de avião de sua casa para São Paulo, onde encontrou a filha, Selene Carvalho, 53 anos.

Na companhia de uma amiga, voaram para Brasília na sexta-feira. Selene se queixou da falta de acomodação especial para pessoas na situação da mãe. ;Esqueceram-se do cadeirante;, disse. Ao lado dela, Joyce Krischke, de Balneário Camboriú (SC), também reclamava. ;Eu liguei para a equipe de transição. Ficaram de dar um retorno, mas não ligaram;, relatou ela, que tem três costelas quebradas. Marlene, Joyce e a comerciante Suse Tenor, 54, ficaram em um corredor entre duas áreas isoladas, apartadas do público, mas sem cobertura. A visão do Planalto é distante e limitada. Suse veio no carro dirigido pelo marido, Fernando Rossitto. Chegaram às 23h do dia 31. ;Não comemoramos a passagem de ano. Fomos direto dormir no hotel;, ele contou.