, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), seja investigada. A declaração foi dada nesta segunda-feira (10/12), durante uma entrevista coletiva, em Brasília. Essa é a primeira vez que Moro fala sobre o caso.
"Os fatos têm de ser esclarecidos. O presidente já apresentou os esclarecimentos, têm outras pessoas que precisam prestar os seus esclarecimentos, e os fatos, se não forem esclarecidos, têm que ser apurados", afirmou.
Porém, o ex-juiz, responsável pela operação Lava-Jato em primeira instância, ressaltou que não cabe a ele tomar qualquer tipo de providência. "Eu não tenho como ficar assumindo esse papel", disse. "Fui nomeado para ser ministro da Justiça, não cabe a mim dar explicações sobre isso. O que existia no passado do ministro da Justiça opinando sobre esses casos concretos, é inapropriado."
Relatório do conselho mostra que ele recebeu depósitos em espécie e por meio de transferências de oito funcionários que já foram ou estão lotados no gabinete do parlamentar. Uma das transações que chamaram a atenção foi a emissão de um cheque de R$ 24 mil para a futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
O que diz Bolsonaro
No sábado (8/12), Jair Bolsonaro procurou minimizar o episódio. "Ninguém dá dinheiro sujo com cheque nominal", afirmou, após participar da formatura de oficiais da Escola Naval do Rio de Janeiro. Durante a entrevista, ele reforçou que emprestou R$ 40 mil a Queiroz, que é seu amigo, e que o valor foi devolvido na conta de Michelle, "por questões de mobilidade".
"Eu ando atarefado o tempo todo para ir ao banco. Pode considerar da minha conta. Lamento o constrangimento que ela está passando", disse o presidente eleito, referindo-se à esposa. Ele ainda contou que não declarou o empréstimo e o pagamento para a Receita Federal. "Se eu errei, arco com minha responsabilidade perante o Fisco, sem problema nenhum", pontuou.
Ao ser questionado sobre o grande volume de saques em dinheiro vivo apontados pelo Coaf na conta do policial, Bolsonaro disse que a explicação sobre todas as movimentações caberia ao próprio Queiroz. "Conheço o senhor Queiroz desde 1984. Depois, nos reencontramos, eu como deputado federal e, ele, sargento da Polícia Militar. Somos paraquedistas. Continuou a amizade. Em muitos momentos, estivemos juntos, em festas, eventos, até porque me interessava ter um segurança policial ao meu lado. Com o tempo, ele foi trabalhar com o meu filho", afirmou. Para ele, a movimentação atípica "não configura ilegalidade".
Rendimentos
Em investigação sobre movimentações suspeitas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o Coaf detectou valores na conta de Queiroz, que chegam a R$ 1,2 milhão, que não eram condizentes ao seu rendimento. Segundo Bolsonaro, quem vazou as denúncias sobre o amigo foram os advogados dos parlamentares da Alerj presos para ;desviar o foco; deles para os filhos do futuro presidente. ;Espero que esse processo, uma vez instaurado, se explique;, afirmou.
Para especialistas, essa nova crise poderá atrapalhar o futuro governo se os fatos investigados pela Justiça confirmarem irregularidades mais profundas. ;Esse é um incômodo a ser esclarecido, mas não traz risco de naufrágio do novo governo. Sem fatos adicionais, essa denúncia vai se esvaziar;, afirmou o cientista político Murillo de Aragão, presidente da Arko Advice.
"Essa denúncia é um desafio, mas precisamos ver para onde vão as investigações. Não vejo que o capital político de Bolsonaro seja impactado logo nesse início de mandato", disse o cientista política Christopher Garman, diretor-geral para as Américas do Eurasia Group, sediado em Washington. Contudo, ele lembrou que Bolsonaro foi eleito em uma plataforma de combate à corrupção. "Qualquer coisa que fere isso, preocupa. Mas, por hora, não chegou a atingir o Flávio Bolsonaro diretamente", emendou.