Em sua primeira entrevista após ser eleito presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) manifestou o desejo de convidar o juiz federal Sérgio Moro para assumir o Ministério da Justiça. Moro foi o responsável por pedir a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Questionado sobre a possibilidade de nomear Moro para o Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro foi além: "pretendo sim, não só para o STF, mas quem sabe, até para o Ministério da Justiça. Se houver interesse da parte dele será uma pessoa da extrema importância", disse o presidente eleito à TV Record.
Ainda sobre seu ministeriado, Bolsonaro reafirmou os três nomes que já estão confirmados (Onix Lorenzoni na Casa Civil, Paulo Guedes na nova pasta da Economia e o general Augusto Heleno na Defesa) e disse que a indicação do astronauta Marcos Pontes para a Ciência e Tecnologia estava "por detalhes".
Em relação ao STF, o presidente eleito afirmou que sua ideia de nomear 11 ministros "ficou no passado". "Tem que ver o contexto, o momento em que isso foi dito. Eu pensei que era uma maneira de ter um tribunal isento, mas percebi que estava embarcando em uma ideia equivocada", disse. "Conversarei com o presidente do STF e tenho certeza que teremos uma convivência extremamente harmônica", acrescentou.
Polêmicas
Na entrevista, o capitão reformado falou ainda de algumas propostas polêmicas que ele apresentou durante a campanha, como a revisão do estatuto do desarmamento: "tem que respeitar a vontade popular, que no governo PT foi desrespeitada". O presidente eleito falou em conceder a posse definitiva para os cidadãos, a fim de evitar o que ele chamou de "IPVA das armas" e defendeu também uma flexibilização no porte de armas. "Por que um caminhoneiro não pode ter arma de fogo?", questionou. "Com isso, aliado ao excludente de ilicitude, a bandidagem vai diminuir. Se tiver alguém furtando seu estepe, ele vai dar um exemplo para a bandidagem. Vai atirar, mas não vai responder. Vai diminuir a violência no Brasil, com toda certeza", completou.
Questionado sobre se, com a posse, as armas não poderiam ser levadas para as ruas, o presidente eleito afirmou que, "se for pensar dessa forma, vamos probir de dirigir um carro": "Quem tem arma vai ser responsabilizado por ela". Bolsonaro também foi contundente a respeito de outro tema, cujas suas opiniões são polêmicas: o Movimento dos Trabalhadores Ruras Sem Terra (MST). Segundo ele, as ações do movimento serão tipificadas como "terrorismo": "Movimento social que invade, que depreda, como é o MST, não tem que conversar".
Em relação a uma declaração de que "as minorias teriam que se curvar", o presidente eleito questionou "quais os direitos de tal minoria?". "Somos todos iguais", arrematou.
Sobre o vice da chapa, general Mourão, Bolsonaro descartou a possibilidade de ele ser um "vice decorativo" ; expressão que ganhou força ao ser usada por Michel Temer ao se referir à sua relação com a então presidente Dilma Rousseff. "Falei que ele é general, eu sou capitão, mas nós dois somos soldados do Brasil", disse, em meio a elogios e esclarecendo que faltava a Mourão "a malícia para conversar com a imprensa". "Mais do que um vice, ele será um conselheiro nosso. O Brasil pode ter certeza de que tem um vice ao meu lado que quer o bem do país", acrescentou.
Relação com o Congresso
O presidente eleito abriu a entrevista dizendo que a "oposição é sempre bem-vinda", mas que espera não enfrentar uma "oposição pela oposição". "Vamos governar para 208 milhões de pessoas, não apenas para quem votou em mim. O Brasil está mergulhado na mais profunda crise ética, moral e econômica e não vai ser uma pessoa ou partido que vai mudar essa situação. Precisamos de todos", afirmou.
Bolsonaro disse ainda que não pretende interferir na eleição para a Presidência da Câmara e que chegou a pedir a seu partido, o PSL, que tenha "humildade" e aceite deixar o cargo com outras siglas, a fim de facilitar a negociação com a Casa. Deputado por 28 anos, o presidente eleito também criticou os líderes partidários que se comportam, por vezes, como "líderes sindicais" e afirmou que, se for preciso, pedirá apoio "individualmente" a cada deputado. Sobre os candidatos derrotados na eleição presidencial, Bolsonaro disse "estar pronto para conversar com qualquer um deles".
Economia
Uma das prioridades do novo governo, segundo Bolsonaro, será o corte de gastos. O presidente eleito falou em diminuir ministérios, cargos em comissão, gastos com cartões corporativos e viagens em aviões da Força Aérea Brasileira e disse que prentende "governar pelo exemplo".
As privatizações foram outro tema tratado na entrevista. Bolsonaro afirmou que sua prioridade serão as estatais deficitárias ; incluindo a TV que "dá traço ou zero em audiência" (ele não especificou, contudo, se falava da NBR ou de toda a Empresa Brasil de Comunicação). "Se não for função do Estado, vamos, com responsabilidade, partir para a privatização", disse o presidente, que ainda defendeu o teto de gastos.
Em relação ao comércio exterior, Bolsonaro destacou a conversa que teve com os presidente estrangeiros ; todas "protocolares" ; e reafirmou as declarações de Paulo Guedes em relação ao Mercosul: "Queremos dar a devida estatura a ele. Temos que nos livrar de algumas amarras".