Jornal Correio Braziliense

Politica

Opinião: Além das fake news

O modelo tradicional de fazer campanha eleitoral no Brasil foi sacudido por um tsunami neste ano. A vertiginosa ascensão de Jair Bolsonaro (PSL), que no primeiro turno contou com apenas oito segundos de tempo na propaganda política, é uma prova disso. Até o impeachment de Dilma Rousseff, o capitão reformado do Exército era apenas um barulhento deputado do baixo clero no sétimo mandato na Câmara dos Deputados. O que mudou de lá pra cá? A resposta pode estar nas manifestações de rua de 2013, as maiores da história do país.

Quer dizer, então, que Bolsonaro não cresceu devido ao uso de fake news e robôs para impulsionar conteúdo no WhatsApp e demais redes sociais? Claro que a guerra suja, dentro ou fora da internet, tem poder de decidir uma campanha. Mas, no Brasil, fake news não são novidade. Chegaram a ser usadas na própria propaganda política na eleição passada, quando a campanha de Dilma disse que banqueiros roubariam a comida dos pobres se Marina fosse eleita. Além disso, em 2014, já havia denúncias desse tipo contra Dilma Rousseff (PT). Inclusive, a QuickMobile, uma das empresas que teriam sido contratadas por empresários para impulsionar mensagens contra o PT, atuou para Dilma na eleição passada.

Muito antes da denúncia publicada na Folha de S. Paulo, o WhatsApp já monitorava o aplicativo e havia suspendido milhares de contas. Entre elas, uma ligada a Dilma e outra, a Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável. Nas varreduras que realiza, o WhatsApp diz não ter acesso ao conteúdo criptografado das mensagens, o banimento das contas ocorre devido a movimentos atípicos ou suspeitos. Pelo sim, pelo não, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou que a Polícia Federal investigue supostas irregularidades que possam ter beneficiado ou prejudicado tanto Fernando Haddad (PT) quanto Bolsonaro.

Voltando a 2013, é bom lembrar que a convocação das manifestações, em que milhares de pessoas saíram às ruas para protestar em pleno domingo, eram convocadas via redes sociais. Sem interferência de partidos políticos. E nelas havia famílias inteiras. De avôs a netos. Esse movimento só se desfez depois da infiltração de black blocs e da inconsequente violência que colocava em risco a vida das pessoas. O PSDB, principal partido de oposição ao PT, à época, não soube capitalizar o sentimento das multidões. Muito mais que em fake news, talvez esteja aí a explicação da onda conservadora que volta a tomar o país. Desta vez, expressada nas urnas.