Na iminência de tentar dialogar com eleitores de centro, a coordenação da campanha do PT decidiu repaginar a logo da sigla e afastar símbolos tradicionais petistas da candidatura de Fernando Haddad (PT) e da vice Manuela D;Avila (PCdoB). Os tons de vermelho deram espaço às cores da bandeira nacional ;ferramenta já utilizada pelo partido desde 2010, na campanha do primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Especialistas, contudo, alertam para o risco de o eleitorado não corresponder às expectativas, por ser destoante do conteúdo passado pela legenda desde agosto. Para eles, a nova face da campanha deve vir acompanhada também de uma mudança na narrativa do petista.
Além do verde e amarelo, o PT já começou a se movimentar para reduzir a exposição de Lula nas fotos oficiais da campanha e dos adesivos da chapa. Antes, Haddad posava ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, com a nova imagem, quem o acompanha é a vice, Manuela. O slogan também foi alterado: agora é ;O Brasil para todos; em vez de ;O Brasil feliz de novo;, que fazia uma alusão aos anos de Lula no governo (2003-2010). A ideia da nova cara da campanha é mostrar uma frente de união para o povo brasileiro e tentar recuperar os votos de eleitores dos candidatos que não vingaram para o segundo turno.
A nova cara da campanha não será apenas estampada nas redes sociais do partido, mas levada ao horário eleitoral gratuito, que começa amanhã. Mesmo antes da mudança, o PT já havia dado sinais de que faria alterações na base de campanha do candidato. No Facebook, em um vídeo publicado na segunda-feira, dia 8, Haddad fala sobre emprego e educação e aparece sob uma tarja azul e amarela ; cores desconhecidas pela militância petista. Geralmente utilizadas pelo PSDB, as colorações foram relacionadas, neste ano, a Bolsonaro. Apoiadores do candidato utilizam a bandeira do Brasil para pedir votos. Um dos lemas contra o adversário é, inclusive, ;A nossa bandeira jamais será vermelha;.
Mas essa não foi a primeira vez que a sigla petista utiliza desses mecanismos para tentar chamar a atenção do eleitor. Especialista em marketing político, Marcelo Vitorin explica que o partido já havia trocado a imagem oficial da candidatura da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010 e em 2014. ;Não há problema em trocar a logo. Mas é preciso fazer um plano desde o início. Não dá para atuar no primeiro turno buscando o Lula e depois sinalizar de outra maneira. Há um problema de narrativa;, destacou. Na disputa pela reeleição, Dilma aparecia ao lado de Lula nas peças do primeiro turno. Na segunda etapa do pleito, ela posou sozinha, em um cartaz com as cores nacionais.
A transformação não aconteceu apenas na área de marketing e comunicação, mas na base política do partido. Além do PCdoB como aliado, o PSB e o PDT declararam apoio à candidatura de Haddad para o segundo turno contra Bolsonaro. A sigla de Ciro Gomes, contudo, afirmou que a aliança será apenas ;crítica;, ou seja, o partido não integrará a coordenação da campanha do petista (leia na página 4). Não haverá reivindicações, tampouco propostas, como ocorreu com o PSol, que além de anunciar união, afirmou que o cabeça de chapa do PT incluiu quatro pontos do socialista Guilherme Boulos no plano de governo dele. A campanha também vai atuar em outra frente. O partido já pediu para a militância agir nas redes sociais para desconstruir a imagem de Bolsonaro e divulgar as propostas de Haddad.
Segundo o diretor do Instituto de Ciência Política da UnB (Ipol/UnB), Paulo Calmon, a estratégia de conversar com eleitores de centro não é apenas de Haddad, mas também de Bolsonaro. A ferramenta é esperada, tanto por causa do cenário polarizado quanto por ter chegado ao segundo turno. Assim como Calmon, o analista político Creomar de Souza afirma que as mudanças parecem ser maiores para o petista, porque ficou em segundo lugar nas votações, ou seja, tem um caminho mais longo a percorrer que o adversário.
Para Souza, apesar da estratégia não ser inovadora, é um mecanismo de ;tudo ou nada; aderido, desde o início, pelo PT. No entanto, pode sofrer uma reviravolta. Em vez de conquistar o eleitor, pode soar como oportunista, como se quisesse ;maquiar; um novo partido e um novo candidato. ;A insistência de levar a candidatura de Lula até o fim inflamou o ambiente político e colocou em risco a força do partido para conseguir vencer as eleições. Bolsonaro também tem dificuldade de conversar com o centro. Mas é um problema aritmético: ele chegou mais à frente e precisa de menos votos;, pontuou.