Expulso do PSDB por "infidelidade partidária" na eleição a governador de São Paulo, o secretário estadual de Governo, Saulo de Castro, chamou o ex-prefeito da capital João Doria (PSDB) de "oportunista" e "mentiroso" e afirmou que a decisão sumária tomada na segunda-feira, 9, pelo diretório municipal do partido "não tem valor jurídico algum".
Aliado do ex-governador Geraldo Alckmin, de quem foi braço direito no último governo, Saulo foi expulso pela executiva municipal do PSDB por ter apoiado o atual governador Márcio França (PSB) no primeiro turno da eleição ao Palácio dos Bandeirantes. A mesma medida foi tomada em relação ao ex-governador Alberto Goldman, que apoiou Paulo Skaf (MDB) no primeiro turno, e com outros 15 tucanos que declararam apoio a Jair Bolsonaro (PSL) na disputa presidencial.
"Mário Covas nos ensinou que lealdade é traço de caráter. Fidelidade e gratidão também. Infiel não sou. Sou fiel aos valores de fundação do PSDB. Meu PSDB é o do Mário Covas e Geraldo Alckmin e não o dos oportunistas, dos mentirosos, dos que não têm palavra, dos que oscilam de acordo com interesses mesquinhos e se apequenam na adesão interesseira. Definitivamente, esse não é o meu PSDB. Passei uma vida lutando pelos valores de Covas e Alckmin. Minha diferença com essa candidatura que aí está é no campo dos valores", afirmou Saulo de Castro.
Ainda na noite de segunda-feira, a executiva nacional do PSDB emitiu um breve comentário sobre as expulsões afirmando que o diretório municipal não tem competência para expulsar Goldman e Saulo, uma vez que ambos são membros, respectivamente, dos diretórios nacional e estadual do partido. "A decisão é arbitrária e inócua", diz a nota.
Procurador de Justiça, Saulo é um dos principais quadros de confiança de Alckmin, com quem atuou no governo nos quatro mandatos do tucano. Após a renúncia de Alckmin para disputar a Presidência da República, em abril, Saulo permaneceu como secretário de Governo na gestão de Márcio França (PSB) e trabalhou, a pedido de Alckmin, para que o PSDB construísse uma candidatura única em São Paulo com o nome do pessebista na cabeça de chapa.
Aliados de João Doria, eleito prefeito pelas mãos de Alckmin em 2016, se rebelaram contra a ideia e criaram um movimento para lançar a candidatura do ex-prefeito ao governo do Estado, fato consumado em março deste ano, após prévias feitas pelo PSDB estadual.
À reportagem, o vereador e presidente municipal do PSDB, João Jorge, rebateu as declarações de Saulo de Castro dizendo que o PSDB se renovou e que ele deveria ter pedido sua desfiliação do partido antes de declarar apoio a Márcio França, adversário de Doria agora no segundo turno.
"O PSDB foi criado por esses líderes (Covas e Alckmin) e vem se renovando com o passar do tempo. João Doria e Bruno Covas são alguns desses novos quadros do partido. Doria foi escolhido internamente como candidato por duas vezes, passando por prévias nas quais todos os filiados, inclusive muitos que participaram da fundação do partido, votaram. É preciso respeitar essa renovação. O Saulo deveria ter pedido para sair antes de apoiar outro candidato", disse João Jorge.
Segundo ele, se o diretório nacional do PSDB anular as expulsões sumárias de Saulo e Goldman decididas pelo diretório municipal, ele entrará com uma representação na executiva nacional solicitando a expulsão dos dois por infidelidade partidária. Procurado por meio de sua assessoria, João Doria ainda não se manifestou sobre as declarações de Saulo de Castro.