Diante da repercussão negativa de sua orientação a funcionários do sistema S (como Sesc, Sebrae e Senai) para votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, em comunicado interno, o empresário Luiz Gastão Bittencourt, vice-presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, voltou atrás e soltou uma nova mensagem, dizendo que cada um deve votar "com a sua própria consciência".
O comunicado original, intitulado "Vamos votar com o Brasil" e acompanhado de uma bandeira nacional, foi divulgado pela intranet na quinta-feira, 4. Dizia: "Voto como cidadão e indico a todos aqueles que acreditam no meu trabalho, nas minhas ações e na minha determinação de servir à sociedade, que votem em Jair Bolsonaro. Votem com o Brasil, com a família e com Deus acima de tudo."
No texto da tarde desta sexta-feira, 5, compartilhado também pela intranet, ele mudou o tom. "No espírito mais democrático, que sempre marcou minha vida e trajetória, fiz uma manifestação pessoal a respeito do momento eleitoral. Somos parte de uma instituição que tem como princípio incentivar a cidadania e o livre pensamento, na construção do diálogo democrático. Cada um vote com a sua própria consciência, da mesma forma como farei. E que o respeito mútuo se sobreponha ao radicalismo de qualquer natureza."
O novo texto diz ainda, que "esse espaço está aberto e será livre para qualquer manifestação a favor de quaisquer outros candidatos e ou ideias". "Por um Brasil melhor, com mais diálogo e sempre com respeito mútuo à divergência, construiremos nosso amanhã."
Mais cedo, questionado pela reportagem, Bittencourt informou, por meio do Senac, que não daria entrevista. Ele soltou nota à imprensa em que dizia ter se tratado do "posicionamento do cidadão Luiz Gastão Bittencourt", e que "não pode ser interpretado como incentivo ou recomendação de qualquer natureza."
A mensagem veiculada na quinta-feira era bem explícita na orientação pró-Bolsonaro: "Acabei de ser eleito vice-presidente administrativo da CNC, e não tenho dúvida nem medo dos comentários que afirmam que Paulo Guedes, pessoa que deverá ser o homem forte da economia do governo Bolsonaro, vai mexer ou mesmo acabar com as contribuições do sistema S".
Dizia também: "Está chegando a hora de decidirmos o futuro de nosso País, de nossas vidas e das futuras gerações. É hora de pensar o que nós queremos. É hora de decidir qual modelo almejamos, sem nos importar no que isso pode significar para nossa individualidade. Tempo de lutar pelo que realmente fará a diferença".
O texto apresentava Bittencourt como um defensor do "direito à propriedade, da livre iniciativa e da meritocracia", alguém que "crê num ser superior e na família". Ele sublinhava que o Brasil está num momento "em que o coletivo deva prevalecer sobre o individualismo", no qual "ser honesto, patriota e respeitador das leis" não deve ser "um fato extraordinário", mas "um hábito comum."
O comunicado foi recebido com espanto por parte dos destinatários, que divulgou o texto para denunciá-lo. Este tipo de orientação por parte de patrões é rechaçado pela justiça eleitoral, por configurar uma ofensa ao direito de escolha dos empregados.