A bandeira vermelha com estrela branca foi aposentada por Francisco das Chagas Reis, 35 anos. Nascido em Santa Rosa do Piauí (PI) e morador de Águas Lindas (GO), ele admite: ;Fui petista roxo;. Agora, pela primeira vez na vida, não quer nem ouvir falar no partido que ajudou a colocar no poder quatro vezes. ;Sou 100% Bolsonaro.; Desempregado há dois anos, o ex-vigilante vive de bicos no setor de construção civil, onde os serviços têm sido escassos. Ele explica por que vai votar no candidato do PSL, para quem faz campanha voluntária. ;O PT era majoritário em Brasília, mas foi covarde e corrupto. Não quero um país comandado de dentro da cadeia.;
As pesquisas eleitorais mais recentes mostram que o capitão reformado do Exército se aproxima da população mais pobre, que votou no PT nas últimas eleições. Segundo o Ibope, em todo o Brasil, na faixa dos que ganham até um salário mínimo, Bolsonaro subiu de 13% para 19% em relação ao levantamento anterior, de 26 de setembro.
Na periferia do Distrito Federal, a aceitação de Jair Bolsonaro é evidente. ;Aqui, todo mundo é 17 na cabeça;, resume o comerciante Tarcísio Herculano de Lima, 40 anos. Do lado de dentro do mercadinho que mantém no bairro Sol Nascente, de onde atende os clientes separado por uma grade, o paraibano de Catolé do Rocha diz que a corrupção, o desemprego e a violência desiludiram os mais pobres. ;Nosso país está falindo por causa de político corrupto. Não concordo com algumas opiniões do Bolsonaro. Por exemplo, não sou favorável a armar a sociedade. Mas ele é ficha-limpa e tem boas propostas para a segurança também. A gente sofre muito com a falta de segurança pública.; Os pais do comerciante moram na Paraíba e votariam em Fernando Haddad, mas Tarcísio disse que já os convenceu a apostar no candidato do PSL.
O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer diz que não se esperava que a população mais pobre se aproximasse de Jair Bolsonaro. Para ele, mais do que a identificação com o programa de governo do candidato, é o sentimento antipetista que mudou a direção do voto dessa parcela do eleitorado, antes fiel ao partido comandado por Luiz Inácio Lula da Silva. ;O ;pai dos pobres; agora está na prisão. Os eleitores foram muito afetados pela corrupção, surgindo duas ondas. Uma é de que ;todo político é corrupto e vou votar no ficha-limpa;. Bolsonaro, apesar dos cinco mandatos como deputado federal, não é da tradicional elite política. Então, preenche isso;, avalia. Ao mesmo tempo, Fleischer destaca a rejeição ao PT e ao líder da agremiação como fator que pode pesar na escolha de todas as faixas de renda
Criação de emprego
O especialista também não descarta que a população mais pobre priorize programas de criação de emprego no lugar das políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, carro-chefe do PT nas últimas quatro eleições. ;Algumas pessoas estão com Bolsa Família há seis, sete anos, e não conseguem um emprego, o que é muito frustrante;, avalia. Pai de oito filhos com idades entre 6 meses e 17 anos, o ex-petista Francisco das Chagas Reis diz que dispensa o auxílio do governo. ;Meus filhos não vão viver de Bolsa Família. O que queremos é emprego;, afirma. O enteado dele, Mateus Lopes Lima Inajoza, 23, concorda. Com ensino médio e desempregado desde que saiu do Exército, em 2016, o ex-eleitor de Dilma Rousseff vislumbra um futuro melhor. ;Estou desempregado há dois anos. Minha mãe é pedagoga e conseguiu emprego nesta semana: de copeira. Olha o que ela conseguiu;, lamenta.
O cientista político César Alexandre Carvalho, sócio da CAC Consultoria, destaca que a campanha de Bolsonaro mirou em um tema caro à população em geral, mas, particularmente à parcela mais exposta à violência urbana: a segurança pública. ;As propostas são genéricas, mas ele explora muito o ponto da segurança e encontrou eco junto às parcelas mais pobres;, avalia. Embora indecisa, a costureira Maria do Socorro Leal, 58 anos, está inclinada a votar em Jair Bolsonaro e destaca a proposta do candidato, de rever o Estatuto do Desarmamento, como ponto positivo do capitão reformado.
;Desarmaram todo mundo e deixaram só os bandidos armados;, acredita a moradora de Santa Luzia, bairro ainda sem asfalto e com pouca infraestrutura urbana na Estrutural. ;Ladrão chega aqui e faz a maldade que quiser, porque a gente não tem como se defender. Fico o dia inteiro fechada, atrás de grade. Não podemos deixar uma bicicleta na rua, porque a qualquer hora do dia somos roubados;, conta. A região em que ela mora registrou a maior taxa de crimes violentos e letais do DF em 2017: 46,1 casos em cada 100 mil habitantes, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social. ;Tem gente que acha que ter arma dentro de casa é perigoso, mas não acho. Eu me sentiria mais segura;, diz.