O candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, determinou que o vice na chapa, general Hamilton Mourão (PRTB), e o conselheiro na área econômica, Paulo Guedes, reduzam suas atividades eleitorais. A campanha quer estancar o desgaste provocado por declarações polêmicas dos dois aliados. Nesta quarta-feira (19/9), o perfil de Bolsonaro no Twitter teve de reiterar o compromisso com a redução da carga tributária após notícia de que Guedes estuda como proposta para eventual governo a criação de um imposto nos moldes da antiga CPMF, o que põe em xeque o discurso da campanha.
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[SAIBAMAIS]Declarações e a movimentação eleitoral do candidato a vice também constrangeram Bolsonaro e a cúpula da campanha nos últimos dias. Do quarto do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde se recupera do atentado a faca que sofreu, Bolsonaro acompanhou pelo noticiário Mourão defender uma Constituição elaborada por não eleitos e a ideia de que filhos criados por mães e avós, sem a presença do pai, correm mais risco de entrar para o tráfico.
Ao visitar Bolsonaro no hospital, na terça-feira (18/9), o general da reserva ouviu uma determinação. O presidenciável pediu que o vice suspendesse a agenda de viagens. O candidato ao Planalto avaliou que a campanha entrou num momento decisivo e que não podia correr mais riscos, segundo relataram à reportagem integrantes da equipe.
O general da reserva encurtou uma viagem ao interior de São Paulo, que iria até sexta-feira (21/9), e cancelou um evento, no domingo, em Porto Alegre. Ele ficará em sua casa no Rio para uma "reavaliação de discurso", informou um assessor. Mourão pretende, ainda segundo a assessoria, descansar depois de 15 dias de viagens e eventos.
Somente no fim da manhã desta quarta-feira o vice deu uma palestra na Faculdade de Direito de Bauru (SP), concedeu entrevista em uma estação local de TV e almoçou com um grupo de cerca de 40 empresários da região, líderes políticos e assessores.
Na campanha do PSL, a crítica recorrente é que, após a internação de Bolsonaro, Mourão foi para a "linha de frente" sem experiência política. O general da reserva, segundo um interlocutor da equipe, assumiu uma agenda de cabeça de chapa sendo candidato a vice. A avaliação interna é de que Mourão pôs em risco o favoritismo de Bolsonaro.
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Já a movimentação de Guedes obrigou a uma reação de Bolsonaro. "Nossa equipe econômica trabalha para redução de carga tributária, desburocratização e desregulamentações", escreveu Bolsonaro no Twitter. "Chega de impostos é o nosso lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos." O post foi "retuitado" por Carlos e Flávio Bolsonaro, filhos do candidato.
As declarações de Bolsonaro foram feitas depois de o jornal Folha de S.Paulo afirmar que o economista citou a uma plateia restrita pontos do que seria sua política tributária, com a criação de um imposto nos moldes da CPMF e a unificação da alíquota do Imposto de Renda.
Guedes disse na quarta ao site BR18 que estuda duas propostas que passam pela unificação de tributos nos âmbitos federal e da Previdência que incidiriam sobre todas as transações financeiras, de forma semelhante à antiga CPMF. "O sistema atual é muito complexo, destrói milhões de empregos e impede a criação de postos de trabalho", afirmou o economista.
A proposta deu munição para os adversários de Bolsonaro (mais informações nesta página). Na propaganda de TV que irá ao ar a partir de hoje, Alckmin vai explorar o tema e o que chama de "contradições" do rival.
Conselheiro de Bolsonaro, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, disse nesta quarta que participou de reunião fechada da campanha na terça-feira na qual não se falou em CPMF. "Estão criando coisa."
Guedes já foi anunciado por Bolsonaro como ministro da Fazenda em eventual governo. Segundo um integrante da campanha, o economista surpreendeu por não combinar com o presidenciável uma manifestação de impacto imediato no mercado.
Bolsonaro já declarou que Guedes é seu "Posto Ipiranga", mas que nunca deu a ele "carta branca". O candidato disse também que falta ao economista traquejo político. "Aprendo com ele e ele aprende comigo", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo em maio.
Questionado sobre o assunto nesta quarta, Mourão disse que "criar um imposto seria dar um tiro no pé", mas que o tema deve ser decidido por Guedes e Bolsonaro. O general da reserva negou que haja uma crise na campanha. "Nada disso, isso é uma tentativa de criar uma divisão que não existe. Estamos coesos."
À noite, em São José do Rio Preto (SP), Mourão evitou falar com a imprensa. Cercado de seguranças, apenas declarou que a polêmica da CPMF "não afeta a campanha". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.