A Polícia Federal apreendeu anotações manuscritas, relacionadas a nomes e valores, em poder do empresário Jorge Theodócio Atherino, apontado como operador de propinas do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB). Os dois foram presos nesta terça-feira, 11.
Beto Richa foi capturado na Operação Radiopatrulha, do Ministério Público do Paraná. Jorge Atherino foi preso e alvo de busca e apreensão no âmbito de outra missão, a Operação Piloto, fase 53 da Lava Jato. Os agentes federais encontraram, ainda, com o empresário um cupom fiscal da compra de um relógio marca Rolex.
A nota fiscal é o item de número 6 das apreensões. "Cupom fiscal da compra de um relógio marca Rolex, no valor de R$ 17.600,94, acompanhada de um comprovante do Mastercard no valor de R$ 12.600,94", anotou a equipe PR/23, da PF.
Os federais apreenderam também telefones celulares, tabletes, um computador, uma "caderneta de capa laranja, com algumas anotações manuscritas, relacionadas a valores", uma "caderneta de capa azul com diversas anotações manuscritas, relacionadas a nomes e valores", uma "agenda de capa verde, com diversas anotações manuscritas, relacionadas a nomes e valores" e uma "agenda de capa amarela, com diversas anotações manuscritas, relacionadas a nomes e valores".
O item de apreensão número 5 foi identificado como um "bloco de notas com a marca dágua 'Matsuda', tendo 17 folhas destacadas, contendo diversas anotações manuscritas relacionadas a nomes e valores". Já o item 15 do auto de arrecadação foi descrito como "CD com as inscrições 'depoimentos 25/6/18'".
Por que a Lava Jato investiga Beto Richa
A Operação Piloto investiga os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude à licitação para duplicação da PR-323, no interior do Paraná, supostamente favorecendo a Odebrecht.
A Lava Jato afirma que, após a empreiteira vencer a licitação, em meados de julho de 2014, Jorge Atherino foi ao escritório da companhia em Curitiba para cobrar propinas supostamente ajustadas em encontros com o ex-chefe de gabinete Deonilson Roldo - braço direito de Beto Richa, também preso na Operação Radiopatrulha e na Operação Piloto.
Segundo os investigadores, após o contato de Atherino, o diretor-superintendente da Odebrecht para a região Sul e São Paulo demandou o Setor de Operações Estruturadas da companhia - responsável por pagamentos ilícitos - para que repassasse os subornos em favor de agentes públicos do Paraná.
A Lava Jato indicou que foi aprovado o pagamento ilícito de R$ 4 milhões, e Atherino informou os endereços em que deveriam ser entregues os valores.
A força-tarefa relatou que, após perícia da PF nos sistemas Drousys e MyWebDay do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht - o departamento de propinas da empreiteira -, foram identificados registros de cinco pagamentos das propinas que foram estabelecidas na forma descrita acima, que totalizaram R$ 3,5 milhões, entre os meses de setembro e outubro de 2014. Os endereços de entrega eram no município de São Paulo, em condomínio relacionado à sogra de Jorge Atherino.
Além dos supostos pagamentos da Odebrecht, as investigações apontaram movimentações financeiras em contas de empresas relacionadas a Jorge Atherino que somaram aproximadamente R$ 560 milhões entre janeiro de 2014 e maio de 2018. Entre estas movimentações, está o recebimento de R$ 15.348.088,08 somente mediante depósitos em espécie.
A Lava Jato apontou ainda "forte suspeita de que as empresas em nome dos familiares do empresário e as contas em nome dos familiares dele tenham sido utilizadas para lavar dinheiro de origem criminosa, misturado a recursos de origem lícita".
Dentre os pagamentos suspeitos efetuados por Jorge Theodocio Atherino, por empresas a ele ligadas e por familiares próximos, afirmam os investigadores, foram encontradas transferências para: Ezequias Moreira Rodrigues, que foi nomeado pelo então governador Beto Richa como secretário de Estado. Ezequias já foi condenado por contratar funcionários fantasmas para o gabinete do então deputado estadual Beto Richa.
Defesas
O advogado Luiz Carlos Soares da Silva Júnior, que defende Jorge Theodocio Atherino, afirmou: "No momento, estamos analisando as provas e teses da acusação para prestar os esclarecimentos necessários e adotar as medidas cabíveis para defesa dos interesses de nosso cliente."
Em nota, a defesa do ex-governador Beto Richa disse que "até agora não sabe qual a razão das ordens judiciais proferidas. A defesa ainda não teve acesso à investigação".
Já advogado Roberto Brzezinski Neto, que defende Deonilson Roldo, afirmou que está analisando os autos e vai se pronunciar.
Em nota, o Governo do Estado do Paraná afirmou que está colaborando com todas as investigações em curso. "A governadora Cida Borghetti ressalta que não aceita nenhum tipo de desvio de conduta dos seus funcionários e que criou a Divisão de Combate à Corrupção para reforçar o combate à esse tipo de crime. Hoje a divisão esta fazendo buscas e apreensão em uma operação que combate fraudes a licitação.
O Governo do Estado vai aguardar a divulgação de mais informações a respeito dessa fase da Operação Lava Jato para tomar outras providências".
A reportagem tentou contato com a defesa de Ezequias Moreira Rodrigues, mas ainda não obteve retorno.