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Após ataque, equipe de Bolsonaro quer abrandar a imagem do candidato

Ao Correio, uma pessoa próxima ao presidenciável afirmou que a nova imagem de Bolsonaro seria mais 'democrática e branda', para conseguir conquistar o eleitor que ainda não se decidiu


A facada levada durante comício pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL) começa a dividir os rumos da campanha ao Planalto. Se, por um lado, a ala mais radical do partido espera que o postulante siga com o mesmo discurso que mantém desde o início do ano, familiares do militar e chefes de campanha estudam, por sua vez, mudar as estratégias da corrida eleitoral. Ao Correio, uma pessoa próxima ao presidenciável afirmou que a nova imagem de Bolsonaro seria mais ;democrática e branda;, para conseguir conquistar o eleitor que ainda não se decidiu.

;A família considera uma estupidez não aproveitar esse momento para transformar isso em um divisor de águas. Eles querem melhorar a imagem de radical que Bolsonaro tem, sobretudo, entre os indecisos;, disse. Como o candidato ficará longe das ruas por ao menos três semanas por causa do ataque, a ideia é que o utilize a seu favor. Sem apostar todas as fichas em um ;mensageiro;, cargo desejado pelo vice da chapa, General Mourão, que quer comandar a linha de frente durante o período de internação, anseiam até uma vitória logo em primeiro turno.

As últimas pesquisas mostram aumento de votos para Bolsonaro, mas a manutenção do índice de rejeição. É essa parcela do eleitorado que os marqueteiros pretendem atingir, se adotarem as mudanças. ;Há dois tipos de indecisos: uns que não têm uma opinião formada, enquanto outra não sabem a fundo de algumas situações. Nesse caso, o marketing pode ajudar.;

Uma medidas será publicar uma carta aberta ao eleitorado, inspirada na escrita pelo adversário ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. O objetivo é apaziguar os eleitores que votam nele e os que ainda não se decidiram, com um tom mais democrático, que caminhe longe dos discursos em prol de uma ditadura militar.

No documento estudado pela família do candidato, estariam posicionamentos mais flexíveis sobre temas com que Bolsonaro já protagonizou polêmicas. Como episódios machistas e racistas, que inclusive estão sendo analisados pelo Superior Tribunal Federal (STF). A ideia é dar uma explicação aos eleitores que não acompanharam algumas situações. Segundo aliados, seria uma tentativa de definir e desmistificar as atitudes dele.

Outra estratégia é passar a chamá-lo de ;Jair;, em vez de Bolsonaro. ;Seria um divisor de águas: um nome para antes e outro para depois da facada. Além disso, é um nome mais próximo da população. Todo mundo conhece algum Jair;, explicou. A decisão final, que está sendo estudada pelos advogados e familiares do candidato, deve ser dada até o fim da semana.


Filhos de candidato têm encontro na PF


Os filhos do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), Eduardo e Flávio, disseram ontem que a Polícia Federal tem toda a confiança da família. As declarações foram feitas em frente à sede da corporação, em Brasília. Os dois concederam uma coletiva de imprensa antes de se encontrarem com diretores da instituição.

Segundo Flávio, o diretor executivo da PF, Rogério Galloro, afirmou que a instituição tem tomado ;todas as medidas necessárias; para apurar o caso e concluir a investigação de maneira célere. Porém, enquanto as investigações não chegam ao fim, a família informou que tem tomado precauções nos comícios e nas atividades de campanha.

O parlamentar também conta que o diretor da PF reforçou a segurança de todos os candidatos à presidência. Até o momento do ataque, Jair Bolsonaro tinha um efetivo de 21 agentes à disposição de sua segurança, que se revezavam em três turnos. Agora, o candidato dispõe de 25 policiais federais. ;O que passaram para nós é que todos os candidatos receberam um aumento na segurança;, conta Flávio.

Perguntados sobre a situação de saúde do pai, o parlamentar estadual esclareceu que o postulante ao Planalto tem passado por uma situação de ;exceção; e que pretende voltar a fazer campanha quando tiver condições de saúde. Enquanto isso, o vice na chapa do PSL, general Mourão, vai continuar representando a coligação.

Julgamento marcado no STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) definirá amanhã se o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, se torna réu pelo crime de racismo. Caberá ao ministro Alexandre de Moraes dar o voto decisivo para desempatar o placar, depois de ter pedido vista para examinar melhor o caso.

O julgamento sobre o recebimento ou não da denúncia de Bolsonaro começou no dia 28 de agosto. Até agora, os ministros Luís Roberto Barroso e Rosa Weber já se posicionaram a favor do recebimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República, enquanto Marco Aurélio Mello e Luiz Fux votaram contra.

Se a denúncia por racismo for aceita, será aberta uma ação penal no STF para aprofundar as investigações contra o parlamentar, que será colocado novamente no banco dos réus. Bolsonaro já é réu em outras duas ações penais, pelos crimes de injúria e incitação ao crime de estupro, após ter declarado que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) ;porque ela não mereceria;.

Desta vez, a PGR acusa o parlamentar de, em palestra realizada no Clube Hebraica do Rio, se manifestar de modo negativo e discriminatório sobre quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. Na palestra, Bolsonaro disse: ;Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual essa raça que tá aí embaixo ou como uma minoria tá ruminando aqui do lado.; Na ocasião, o parlamentar afirmou que visitou um quilombola em El Dourado Paulista, onde ;o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastado com eles;.

No mês passado, Barroso alegou que ;arrobas e procriador são termos usados para se referir a bichos;. ;O melhor remédio para combater uma má ideia é o debate público, e não a censura. Com esse discurso, esse paciente se expõe a críticas, mas ele não pode se sujeitar a uma censura penal, a uma criminalização da sua liberdade de expressão;, rebateu Fux.