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Igreja de Minas Gerais nega custear defesa do agressor de Bolsonaro

Pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular em Montes Claros também disse que o agressor, Adelio Bispo de Oliveira, não é missionário da instituição

Montes Claros e Juiz de Fora ; O pastor Antônio Levi de Carvalho negou que a Igreja do Evangelho Quadrangular em Montes Claros (MG) esteja custeando os gastos com os advogados de Adelio Bispo de Oliveira ; o homem que esfaqueou o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na última quinta-feira.

A instituição religiosa passou a ser apontada como responsável pelo financiamento da defesa depois de familiares de Adelio afirmarem que ele havia se tornado missionário da igreja há oito anos. Além disso, no sábado, um dos defensores, Fernando Magalhães, disse que a defesa foi contratada "a partir de uma congregação de Montes Claros, que pediu sigilo".

"A Igreja (do Evangelho Quadrangular) não reconhece o senhor Adelio como membro desta igreja", afirmou o pastor Levi. "A igreja informa que não pagou absolutamente nada de custas processuais dos advogados do senhor Adelio", completou o religioso, que disse ainda estranhar a informação dada pelo advogado. "Conhecemos a realidade da nossa cidade, que é difícil. Quem aqui teria dinheiro para contratar advogados de um calibre desse?", indagou. Após falar com o Estado de Minas, o pastor anunciou ao jornal O Estado de S. Paulo a intenção de processar o advogado pela declaração.

Adelio é defendido por Magalhães e outros três advogados: Zanone Manuel de Oliveira Júnior, Marcelo Manoel da Costa e Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa. Após o crime, Zanone saiu às pressas de Belo Horizonte rumo a Juiz de Fora (MG), onde ocorreu o ataque, em avião particular.


5 mil seguidores

O pastor Antônio Levi de Carvalho diz que o Evangelho Quadrangular tem mais de 5 mil seguidores em Montes Claros e que não existe nenhum registro de que Adelio já tenha integrado a congregação. Ele admite, porém, que Adelio pode ter frequentado alguma sede da igreja do Evangelho Quadrangular em Montes Claros. "A nossa igreja recebe visitas de muita gente. Não dá para saber quem são todas as pessoas que visitam a igreja. Mas estou há 13 anos em Montes Claros e nunca tive notícia dele (Adelio) em alguma igreja nossa."

O pastor afirmou ainda que desconhece a informação de que Adelio tenha se tornado missionário da igreja, conforme disseram familiares do agressor. Levi explicou que é preciso apresentar ficha de bons antecedentes para representar a Evangelho Quadrangular.

"Para entrar, primeiro a pessoa tem que fazer uma confissão de fé, aceitando Jesus para ser salva. Depois, acontece o batismo", relatou. Segundo ele, também é preciso que o aspirante a missionário passe por um processo seletivo, não possua ficha criminal e tenha "nome limpo no SPC e no Serasa".

Também por meio de nota, representantes das Testemunhas de Jeová de Montes Claros informaram que Adélio Bispo e sua família não são Testemunhas de Jeová e que "não são responsáveis e não possuem qualquer relação com a contratação de advogados para a defesa".

O que dizem os advogados de defesa

Fernando Magalhães
"Uma pessoa que se diz representando uma congregação (nos procurou). Não nos cabe percorrer o caminho de provar ser verdadeiro ou não o que declarou. Sabemos que o ataque não teve cunho religioso e sim político, por convicção do cliente e sem interferência de terceiros".

Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa
"Adelio se disse testemunha de Jeová. Não tem cunho da igreja (o pagamento). Foi uma pessoa ligada à religião dele que nos contratou."

Marcelo Manoel da Costa
"O primeiro contato se deu por meio de um parente de Adelio, que fora aluno de Zanone e telefonou para ele. A questão do pagamento será combinada depois."

Zanone Manuel de Oliveira Júnior
"A pessoa falou que tem conhecimento com a família e com o pessoal da igreja e que tinha gente lá conversando se iam ou não fazer uma vaquinha para financiar." (Em entrevista ao Globo).