Lucas Valença - Especial para o Correio
postado em 08/09/2018 08:00
O secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Giuseppe Janino, rebateu as críticas que vêm sendo feitas ao uso de urnas eletrônicas nas eleições brasileiras. Na última quarta-feira, o candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, que sofreu um atentado quando fazia campanha em Juiz de Fora (MG), havia criticado a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de julgar inconstitucional o voto impresso. O presidenciável também afirmou que o modelo eleitoral do Brasil não é seguro e que, ;caso perca; as eleições, vai questionar a lisura do sistema eletrônico.Em entrevista ao Correio, Janino refutou também a afirmação de Bolsonaro de que ;só o Brasil utiliza a urna eletrônica;, e que seria um sistema ;único no mundo;. ;Se entrarmos no site do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (Idea), que visa a promoção da democracia no mundo, verificamos a existência de um levantamento de que mais de 25 países adotam urnas eletrônicas;, afirmou.
Janino também ressaltou que, nas eleições norte-americanas, ;pelo menos; 11 estados adotam a urna eletrônica. ;É um modelo muito semelhante ao do Brasil, inclusive sem a impressão do voto;, afirmou. O secretário disse que não tem ;exatamente uma explicação; sobre a desconfiança popular no sistema eleitoral. ;Criam-se muitas histórias fantasiosas que, quanto mais fantásticas, mais se propagam, principalmente em tempos de redes sociais;. E completou: ;Nós temos realmente uma grande dificuldade de colocar (à população) o esclarecimento desses mitos que são criados;.
O secretário informou que o tribunal abre periodicamente os sistemas para promover testes públicos de segurança. O evento já ocorreu quatro vezes (em 2009, 2012, 2016 e 2017). Hackers vão ao tribunal para tentarem ;quebrar; o mecanismo de segurança das urnas. O Brasil, segundo o secretário, é o ;único; a dar essa permissão. ;É um grande exemplo de transparência, por que se abrem os sistemas para o cidadão comum dar sua contribuição;, disse.
Todas as evidências de problemas de segurança apontados pelos hackers são avaliados e corrigidos, segundo o secretário. Ele explica que o evento de 2017 permitiu que o cidadão que fez o teste pudesse retornar para certificar-se de que o problema havia sido corrigido.
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Questionamentos
Janino explicou que todos os partidos políticos são convidados frequentemente para acompanhar a segurança das urnas, em testes públicos, e entenderem melhor como funciona o sistema eleitoral. Só que não há a presença constante das entidades partidárias. ;Nenhuma veio recentemente, mesmo sendo todas convidadas;, lamentou.
Apesar disso, partidos têm questionado a lisura das urnas, como ocorreu após a eleição presidencial de 2014, quando o candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, pediu a recontagem de votos. ;Infelizmente eles aparecem só no momento de reclamar. Na hora de acompanhar o processo, de ajudar a auditoria, eles não aparecem;, criticou o secretário.
Questionado se havia alguma chance das urnas serem violadas, Giuseppe Janine afirmou que a tentativa de se invadir a urna é ;inviável;, já que elas não são vinculadas a nenhum tipo de rede. ;Então, aquele mito do qual se ouve falar, de que, se o hacker invade a Nasa, invade o FBI, porque não conseguiria invadir a urna eletrônica? É simples, a urna não está na internet. Isso já é um preceito de segurança;, ressaltou.
Em junho deste ano, o STF derrubou a lei que instituía o retorno do voto impresso. A medida, segundo Jair Bolsonaro, era necessária para permitir uma eventual recontagem dos votos. Janino explicou que é possível recontar os votos no próprio sistema eletrônico. Ele também declarou que a conexão de uma impressora à urna teria dois problemas essenciais. ;Se acoplarmos uma ferramenta eletromecânica, que falha cinco vezes mais do que o eletrônico, a possibilidade de haver problemas aumenta;, disse. ;Além disso, existe o fator humano, que voltaria a estar presente nas eleições.;
A lei derrubada pelo Supremo não permitia que o eleitor tivesse contato com o voto, mas caso algum candidato solicitasse recontagem, muitas pessoas iriam manusear os votos, e poderiam ser constatadas diferenças. ;Não é preciso muita inteligência para burlar esse tipo de sistema, basta o escrutinador ter um pouco de habilidade: ele some com um voto e já frauda a eleição;, avaliou Janino.