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Politica

Ataques entram em campo a pouco mais de um mês do primeiro turno

A curta corrida até as urnas faz com que candidatos à Presidência utilizem uma arma bastante comum: as acusações. Elas são usadas, principalmente, no horário político. Especialista afirma que ferramenta é eficaz para convencer indecisos


A pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições e com o cenário ainda indefinido, os candidatos à Presidência da República apostam cada vez mais nas acusações contra os oponentes para angariar votos dos eleitores descrentes e indecisos. Segundo as últimas pesquisas, inclusive a feita pelo Correio Braziliense, a fatia dos entrevistados que pensa em votar em branco ou nulo e que não sabem ou não responderam pode chegar a quase 20%. Para analistas, as acusações, mesmo as mais moderadas, costumam ser armas poderosas em batalhas eleitorais e, com o alto percentual de indecisão, o panorama pode se alterar de forma mais acentuada nos próximos dias.

Depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferiu o pedido de registro da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, consequentemente, fez com que o nome do petista não aparecesse nas pesquisas, os holofotes dos outros competidores miraram com mais intensidade o postulante do PSL, Jair Bolsonaro. Isso porque Bolsonaro, com a força da internet, lidera os levantamentos das intenções de voto. Como em disputas anteriores, o horário eleitoral e os debates foram os canais mais recorridos para a maior parte das ofensivas.

Geraldo Alckmin, do PSDB, apostou em veicular um vídeo no qual o capitão reformado grita com duas mulheres: a deputada federal Maria do Rosário, do PT, e uma repórter. Marina Silva, da Rede, ganhou notoriedade no debate da RedeTV! quando disse ao candidato do PSL que não se resolve os problemas do país "no grito e na violência". Já Ciro Gomes, do PDT, e Henrique Meirelles, do MDB, utilizaram as redes sociais e as aparições públicas para criticar o militar. Ciro chamou Bolsonaro de "projetinho de Hitler tropical". Meirelles ironizou a falta de conhecimento econômico do oponente e relembrou o caso da Wal, suposta funcionária fantasma do gabinete do deputado.

Além de Bolsonaro, foco dos ataques, o PT está na mira das acusações. Lula, Fernando Haddad e as mirabolâncias do partido não são poupadas, por exemplo, pelo pedetista Ciro Gomes e pela fundadora da Rede Sustentabilidade, Marina Silva. O cearense provoca quando afirma que o "Brasil não é um laboratório" para o partido e que o PT está ensaiando "valsa na beira do abismo". Enquanto isso, Marina também não mede as palavras em relação a figuras petistas, principalmente, de Dilma Rousseff, que teve direito de resposta no Jornal Nacional, depois de ser citada pela ambientalista.

O embate entre Marina e Dilma começou em 2014. Após Marina Silva assumir o lugar de Eduardo Campos, morto em um trágico acidente, e disparar nas pesquisas, a candidata petista à reeleição atacou. "Dilma se sentiu ameaçada e adotou um processo de desconstrução de Marina. Foi uma ferramenta eficaz", afirma David Fleischer, cientista político especialista em eleições.

Tática antiga


Para Fleischer, a tentativa de convencer os indecisos por meio de ataques é uma estratégia antiga e eficiente, mas que tem sido mais branda nos últimos pleitos. "O jogo mais baixo foi o de (Fernando) Collor que, ao cair nas pesquisas, esperou o fim do programa eleitoral na tevê, quando não precisava mais atender a direito de reposta, para levar uma ex-namorada de Lula que o acusava de ter pedido o aborto da filha. De lá para cá, os ataques subiram o nível", lembra o especialista, sobre a disputa de segundo turno em 1989.

O direito de resposta, aliás, é um risco que os candidatos correm ao atacar os oponentes. De acordo com a legislação eleitoral, o dispositivo pode ser acionado, se o partido político ou a coligação forem atingidos, ;ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social;. Até agora, entre os concorrentes à Presidência, somente Jair Bolsonaro solicitou o direito, pois se sentiu ofendido em relação à propaganda tucana, mas o TSE rejeitou afirmando que a gravação ;traduz fatos efetivamente ocorridos;.

Milhões com impulsionamento


Segundo o TSE, os gastos com impulsionamento de candidatos na internet chegaram a R$ 2.039.108,19, no período entre 16 e 30 de agosto. Esses valores são declarados obrigatoriamente à Justiça Eleitoral. Entre os presidenciáveis, o montante usado em redes sociais foi de R$ 50 mil. Para o cargo de governador, os gastos somam R$ 650.240,00.

Entre os postulantes ao Senado, as cifras chegam a R$ 330.600,00. No caso da Câmara Federal, o valor é de R$ 597.977,70. Para as assembleias legislativas, o total foi de R$ 398.390,48. E entre os concorrentes à Câmara Legislativa do DF, o gasto chegou a R$ 4.900,00.