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Não trabalho com hipótese da sentença (de Lula) ser confirmada, diz Haddad

Haddad será o substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, caso ele seja considerado inelegível para a disputa ao Planalto


O candidato a vice-presidente na chapa do PT, Fernando Haddad, afirmou que não trabalha com a hipótese da sentença contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso do tríplex do Guarujá (SP), ser confirmada nos tribunais superiores Por causa disso, o ex-prefeito de São Paulo evitou responder se assinaria um indulto a favor de Lula, em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, no início da madrugada desta segunda-feira (20/8). Haddad será o substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, caso ele seja considerado inelegível para a disputa ao Planalto.

Haddad citou a carta de Lula, lida no dia do registro da candidatura, no dia 15, na qual o ex-presidente afirma confiar na revogação da sentença. "Lula tem segurança que os tribunais superiores vão reformar a sentença." Ele ainda repetiu a declaração de Lula de que "não troca a dignidade pela liberdade"

O ex-prefeito disse também não ter dúvidas de que o movimento internacional em defesa da liberdade de Lula vai crescer, citando o papa Francisco e o prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel como personalidades que já demonstraram apoio ao petista. Ele voltou a criticar a condenação, segundo ele sem provas, de Lula. "O juiz Sergio Moro fala em ato indeterminado para falar de ilícito do Lula. Como alguém vai se defender de algo que você nem sabe (o que é)?".

O petista destacou ainda o posicionamento da Comissão de Direitos Humanos da ONU, que solicitou, na semana passada, que Lula possa concorrer até serem esgotadas as possibilidades de recursos em seu processo.

Perguntado sobre quem vai estrelar a campanha do PT no rádio e na televisão, que começa no dia 31, Haddad disse que o PT vai aguardar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a candidatura de Lula.

"O que nós faremos é aguardar a decisão final do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que eu espero que seja confirmada (a candidatura). Mas não sei porque tem um direito que vale para todo brasileiro e um direito que vale para o Lula", criticou. "Entendo que essa crise institucional só vai terminar quando Lula subir a rampa do Planalto", completou.

Temer é "bola de ferro" no pé de Alckmin

O candidato a vice-presidente na chapa do PT, Fernando Haddad, afirmou que acredita que a disputa ao Planalto no segundo turno ocorrerá entre o representante de sua sigla e o PSDB, desde que Geraldo Alckmin consiga se desvencilhar da ligação com o governo de Michel Temer.

Segundo Haddad, o programa de governo de Alckmin é igual ao "Ponte para o Futuro", base da administração Temer. "O Alckmin tem duas dificuldades. Uma é a existência do Bolsonaro, e outra é essa bola de ferro no pé do governo Temer", disse.

Questionado mais uma vez se apoiaria uma candidatura do PSDB no segundo turno caso a disputa ficasse entre o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, e o tucano, Haddad repetiu que acha "impossível" essa hipótese, porque o "Alckmin só cresce às custas do Bolsonaro." Ele disse, contudo, que acredita que um deles estará no segundo turno.

Haddad completou que só estaria disposto a conversar com o tucano caso ele desistisse do programa econômico similar ao Temer. "Se somos oposição do Temer, como vamos apoiar candidato que subscreve o programa de Temer?" Na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) não descartou uma aliança entre PT e PSDB caso Bolsonaro vá para o segundo turno.

O petista ainda provocou os adversários, dizendo que não o querem no debate porque tem um currículo que "eles não estão à altura de criticar". "Desafio qualquer um desses adversários. Eles não querem debater com o Lula nem comigo. O Lula eu entendo, ele jantaria todos. Por que não me querem nos debates? Estão com medo de mim?". Haddad não foi aceito como representante da chapa petista nos dois debates entre presidenciáveis que já ocorreram - na Band e na RedeTV.

Quanto ao candidato Ciro Gomes (PDT), o ex-prefeito de São Paulo disse que não será "agressivo" com ele, e que o PT queria os pedetistas em sua chapa. Ele classificou de injusta a frase em que Ciro disse que o PSB e o PDT são a "esquerda limpa", sugerindo que o PT era faria parte da suja.

Haddad diz que usará reservas para investir em infraestrutura

Haddad, afirmou que, caso o partido ganhe as eleições, vai incentivar as parcerias público-privadas (PPP) em energia eólica e renovável, em um modelo que comparou à criação do ProUni, na gestão Lula.

"É um grande campo de expansão para gerar emprego. Vamos usar parte das reservas internacionais, cerca de US$ 30 bilhões, para investir em infraestrutura", disse.

Questionado sobre como vai promover essas medidas com o rombo nas contas públicas, Haddad disse que o partido propõe uma trajetória mais longa de ajuste fiscal e não um "freio de arrumação", usado, segundo ele, pelo governo atual e proposto por economistas liberais.

"Aqueles que querem dar choque recessivo, aumentando imposto e diminuindo gasto, vão provocar menos crescimento. Tudo vai depender da trajetória de ajustamento. Você vai ter uma trajetória mais longa sem produzir esse drama que o governo está produzindo."

As medidas que seriam adotadas, disse ele, são a imposição de tributação para lucros e dividendos, o aumento da renda das famílias mais pobres para "fazer a roda da economia girar" e a queda dos juros.

As medidas incluiriam a isenção de imposto de renda para famílias que têm renda de até cinco salários mínimos e a reforma bancária. Para diminuir o spread, o PT propõe uma tributação progressiva de spreads. "Não vamos terminar o próximo mandato sem atacar o custo do crédito no Brasil."

Na segurança pública, o programa petista aposta na federalização do combate ao crime, com o fortalecimento do contingente da Polícia Federal, disse Haddad.

Empresários

Na entrevista, Haddad ainda criticou a parcela de empresários que ficam "aplaudindo" o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. "O Lula conviveu bem com empresários que agora jogaram no atraso, ao invés de resgatar um plano que deu certo. O plano que vinha acontecendo no Brasil era um ganha-ganha, bom para todo mundo", disse.