Os movimentos que importam na formação de aliança passam longe das convenções partidárias. Na ação mais efetiva até agora no tabuleiro político, o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, conseguiu, ontem, a promessa de ter apoio do blocão, que reúne DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade. O tucano disputa o conglomerado de legendas com o candidato do PDT, Ciro Gomes, que, hoje, abre a sequência de convenções que se estende até 5 de agosto. A questão é que o prazo para as negociações que garantirão tempo de TV e dinheiro do fundo partidário ultrapassa este prazo e só deverá ser efetivado perto da data para o registro das candidaturas, em 15 de agosto.
Os partidos, que juntos contam com 164 deputados e oferecem três minutos de tevê em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos, vão tentar esticar até o fim a corda e barganhar o espaço político na aliança a ser composta. Líderes partidários admitem a possibilidade de uma definição antes de 5 de agosto, mas não há uma unidade em torno disso. Não é para menos a indefinição. Alckmin não consegue decolar nas pesquisas de intenção de voto e ainda enfrenta um aumento da rejeição. O temperamento intempestivo e explosivo de Ciro, bem como o grau de rejeição, também não joga a favor.
Caciques do centrão sabem das dificuldades de Ciro e Alckmin de convencer o eleitorado. Por esse motivo, quanto mais esticarem as conversas, mais tempo terão para negociar cargos e espaço em um governo pedetista ou tucano. Os partidos vão colocar na ponta do lápis os prós e contras de ambos antes de cravar o embarque para uma candidatura ou outra. Na balança do centrão, o apoio irá para o lado que pesar mais.
Três critérios serão adotados pelas legendas para definir o suporte à campanha do PDT ou do PSDB: identidade de agenda, perspectiva eleitoral e repercussão da aliança nos palanques estaduais. A penetração de Ciro entre os eleitores do Nordeste, sobretudo em uma possibilidade de fechar com o PSB, joga a favor do presidenciável. Mas divergências na pauta econômica do pedetista jogam contra ele e a favor de Alckmin.
Os partidos do centrão foram fiéis da balança do governo do presidente Michel Temer em tocar uma agenda reformista. Já a pauta de Ciro na economia é encarada por alguns líderes do blocão como incompatível. No campo de costumes, a agenda centro-esquerda do pedetista não é bem-vista pelo PRB, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, legenda presidida por Marcos Pereira. Em contrapartida, Alckmin é avaliado como um candidato mais alinhado com as pautas do blocão.
As pesquisas de intenção de votos sinalizam um caminho, mas não serão conclusivas, adverte o deputado Efraim Filho (DEM-PB), vice-líder da legenda na Câmara. ;Estamos preocupados é com o filme, não o retrato atual. Estamos olhando o ponto de vista qualitativo para onde prevemos que a sociedade irá. Essa agenda de centro, de fazer a travessia desse clima de intolerância que ninguém suporta mais, é, hoje, essencial;, analisou.
O temperamento explosivo de Ciro é um problema para transparecer ao blocão as qualidades de fazer a ;travessia do clima de intolerância;. Nesta semana, o pedetista ofendeu com palavras de baixo calão uma promotora do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que abriu inquérito contra ele por injúria racial, após ter chamado o vereador paulista Fernando Holiday (DEM) de ;capitãozinho do mato;. Efraim admite que a postura dele está sob análise, mas nega que isso seja determinante para a tomada de qualquer decisão a curto prazo. ;São todos elementos que serão levados em consideração e entra dentro dessa análise da agenda e da viabilidade eleitoral. Mas é muito cedo para dizer que um elemento isolado vai definir isso;, declarou.