A proximidade do prazo final para o anúncio das alianças presidenciais e regionais leva os partidos com as maiores bancadas do Congresso a mirar no candidato pedetista Ciro Gomes. Ao mesmo tempo que Ciro vira alvo dos petistas e emedebistas mais ligados ao Planalto, dirigentes nacionais do PSB se atrapalham no acordo, hoje ainda pendendo para o lado do ex-governador cearense.
Se o leque de negociações de Ciro foi aberto nas últimas semanas ; com PP, DEM e PR ;, os ataques também se intensificaram. O PT, por exemplo, acredita que as chances de Ciro aumentaram, por isso, o movimento para isolar o pedetista. Para o gerente de análise da consultoria Prospectiva Thiago Vidal ;nesse meio-tempo, os partidos têm sido cobrados a manter a base tradicional, por isso, muitos são aconselhados a rever as alianças com Ciro;. ;O Ciro está em uma situação de tudo ou nada. Está há um mês negociando, com DEM, PP, PSB e, agora, com PR. Acho difícil levar todos;, disse Vidal. Pela esquerda, o analista acredita que o apoio do PT ;é dado como impossível;, à revelia dos apoios de Pernambuco. ;Quem tem mesmo mais viabilidade em apoiar Ciro é o PSB.;
A estratégia do PT posta em prática nas últimas 24 horas é tentar isolar as chances de apoio entre PSB e PDT. A principal ala do partido na ação é pernambucana, fortemente ligada aos pessebistas no Nordeste. Para costurar alianças, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PT-PR) tem viajado para se encontrar com dirigentes estaduais de outros partidos. Ontem, ela esteve com Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco.
Após reunião com Gleisi, no Recife, o governador disse que a ala pernambucana do partido não está isolada na defesa da aliança do PSB com o PT em âmbito nacional. ;A ala pernambucana do PSB é a maior do Brasil. Só por isso já saímos na frente;, afirmou. ;Vamos fazer de tudo para que essa aliança se concretize.; Um dos poucos pontos fora desta curva é a pré-candidata ao governo de Pernambuco, Marília Arraes, do PT, que se recusou a defender o nome de Câmara para reeleição. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), por sua vez, afirma que Ciro seria a melhor opção.
União
Conforme o tempo passa, fica bem mais difícil juntar os partidos de centro em torno de um nome viável. O presidente do DEM, ACM Neto, adiou a decisão. A expectativa dele, há dois dias, era de que seria possível decidir entre o apoio a Ciro ou a Geraldo Alckmin (PSDB) até o fim de julho. Depois do encontro de lideranças do centrão na residência oficial da Presidência da Câmara, ontem, ele jogou a data para a frente: deu até 25 de julho para o DEM bater o martelo. ;Até ele está agoniado com essa situação;, disse uma fonte próxima a ele.
[SAIBAMAIS]O almoço ; que acabou se estendendo durante boa parte da tarde ; ;não foi muito esclarecedor;. Um dos motivos para o adiamento da decisão é o chamado ;fator Valdemar Costa Neto;. O cacique do PR tem tomado à frente nas discussões. ;Ele reapareceu com algumas possibilidades de cenário. Isso tudo gera novas tratativas, novos cálculos, e contribui para demorar mais para decidir o futuro das alianças;, completou.
Valdemar também se encontrou ontem com Cid Gomes (irmão de Ciro), e com pessoas ligadas ao Solidariedade e ao PT. O deputado Paulinho da Força (SD-SP) esteve na reunião e disse que o PR pediu até segunda para ;decidir o rumo que vai tomar;. Uma decisão conjunta do centrão, portanto, ficou para depois.
Turnos
O primeiro escalão do Palácio do Planalto foi instruído pelo próprio presidente, Michel Temer, a isolar Ciro. Ministros e assessores percorreram a Esplanada levando o recado governista. Um emedebista com acesso ao gabinete presidencial disse que ;tirar Ciro é, também, evitar que os petistas cheguem ao segundo turno;.
Na cabeça dos defensores de Ciro, a chegada de Jair Bolsonaro (PSL) à segunda etapa das eleições é dada como certa. O adversário do parlamentar seria, então, o ex-governador do Ceará. ;O PT não pode ir para o segundo turno, isso é algo que todos concordam. E Ciro Gomes não fará alianças com os petistas;, contou um cacique que pediu para não ser identificado.
Para o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), PT e MDB atuam com objetivo em comum para combater Bolsonaro. ;Ele está consolidado e Marina (Silva) não tem estrutura de campanha para chegar ao segundo turno. Ciro tem despontado como um nome viável e isso coloca em xeque as estratégias petistas e emedebistas de disputar a vaga restante do segundo turno;, ponderou.
O líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), admite que a legenda tem sido procurada para compor com PDT e PT. Mas alerta que o partido está dividido entre Bolsonaro e Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar. ;Valdemar vai conversar com ele na próxima segunda para definir isso, mas uma grande parte está inclinada a apoiar Bolsonaro.;