O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai enfrentar as fake news na corrida eleitoral com mecanismos de prevenção e repressão. O presidente da Corte, ministro Luiz Fux, detalhou ontem a ideia de usar o ;poder de polícia da Justiça eleitoral;, medida destacada por ele em um congresso, na última sexta-feira. O combate repressivo será feito com apoio da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF). No campo preventivo, o auxílio será feito pelos próprios partidos políticos e por marqueteiros.
A ideia do ministro é de que as duas frentes atuem como coadjuvantes, sendo os marqueteiros os responsáveis por ;resgatar a imagem de cada um dos profissionais; da corrida eleitoral. A atuação da PF e MPF será importante e o magistrado não demonstrou receio em recorrer a elas em caso de propagação das notícias falsas, mas Fux defende mais a atuação preventiva do que repressiva. ;Há previsões sobre a possibilidade de difusão e notícias sabidamente falsas e que causam um dano irreparável à candidatura alheia. E por essa razão é mais importante para o TSE atuar preventivamente do que repressivamente;, destacou.
O tom adotado é mais ameno do que o discurso adotado na última sexta-feira, no Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral, em Curitiba. Fux declarou que o TSE não agiria só no campo judicial e exerceria ;poder de polícia; no caso de notícias falsas causarem dano ;irreparável; a alguma candidatura. Para deixar a atuação da PF e do MPF apenas em casos mais extremos, a expectativa dele é de que as medidas preventivas sobressaiam com a ajuda dos principais interessados nessas eleições.
Na terça-feira, Fux preparou um documento de colaboração para que os profissionais de marketing atuem colaborando com informações para combater as notícias falsas. Sem dizer quais e quantos, ele também destacou que partidos políticos assinaram o termo de compromisso. A força-tarefa atuará com o objetivo de garantir que as eleições no Brasil sejam exemplo de ;rigidez democrática, moralidade e ética; na política brasileira. ;Queria deixar a mensagem da responsabilidade que entendemos que, para notícias falsas, precisamos de mais imprensa e mais jornalismo;, destacou.
O magistrado revelou as medidas no seminário Impacto Social, Político e Econômico das Fake News, realizado ontem pela Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel). O tema ganha cada vez mais importância na agenda do TSE. Hoje, por exemplo, a Corte celebra o seminário Internacional Fake News: Experiências e Desafios em iniciativa junto com a Delegação da União Europeia. No evento, Fux deve divulgar novas regras para o controle do impulsionamento de conteúdo.
Em discurso, o presidente da Abratel, Márcio Novaes, demonstrou preocupação sobretudo com as plataformas de trocas de mensagens. ;O WhatsApp poderá ser a mãe de todas as fake news;, frisou. O secretário de Política de Informática, Thiago Camargo Lopes, acredita que esses tipos de ferramentas são o grande desafio para o governo enfrentar.
A contenção das fake news por meio de aplicativos de troca de mensagens motivou o Ministério das Comunicações a propor no WhatsApp uma ferramenta que permita captar uma informação ou objeto de mídia quando contém uma informação que leve à desinformação ou orientação, a partir de novos dados. Ainda que a plataforma seja criptografada, um compartilhamento elevado desse tipo de mídia pode ser detectado como uma disseminação de um conteúdo falso, revela Lopes. ;Já é feito para casos de pedofilia. O WhatsApp se colocou à disposição para fazer. Só não sabemos ainda se é suficiente;, declarou.
O presidente Michel Temer também esteve presente ontem no seminário, e criticou quem usa as fake news para desinformar. O emedebista não citou nomes, mas insinuou que há partidos e candidatos utilizando as notícias falsas para não perder votos dos eleitores. ;No sistema da mais ampla liberdade de imprensa, como a nossa, há opiniões contraditórias. E essa contraditoriedade, em vez de diminuir a percepção dos cidadãos, aguça as opções. Permite discutir e verificar qual o melhor caminho. Por isso, não é sem razão, até no período eleitoral, há aqueles que apostam na desinformação de olho nos próprios interesses;, disse.