Nos próximos 30 dias, partidos e pré-candidatos estarão dedicados à formação de alianças para as eleições de outubro. Cada um ensaia que passo dar, de acordo com o poder de persuasão, da estrutura partidária e, por tabela, a partir de dados de pesquisas internas e externas que mostram o potencial eleitoral. Nesse quadro, saem com vantagem, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada ontem, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, e o do PSDB, Geraldo Alckmin, que aparecem empatados na terceira posição, quando Lula se apresenta como candidato.
Ciro Gomes se baseia no potencial, enquanto Alckmin, na estrutura. Até aqui, o tucano tem nomes competitivos em São Paulo e em Minas Gerais ; o PSDB apresenta João Dória como pré-candidato ao governo paulista e, em Minas, o ex-governador Antonio Anastasia surge como nome capaz de polarizar com o atual governador, Fernando Pimentel (PT), que concorrerá à reeleição. O PSDB calcula que o erro de Aécio Neves foi não ter um candidato competitivo em Minas Gerais em 2014. Nessa eleição, Alckmin corrigiu esse problema, segundo seus coordenadores.
Porém, a eleição de 2018 não pode ser comparada à anterior, por causa da profusão de candidatos de centro, o tempo de campanha e a desconfiança do eleitor, que, conforme as pesquisas, está longe de fechar com qualquer candidato. Até aqui, a pesquisa espontânea do Datafolha indica que 69% do eleitorado não têm candidato ; 46% não sabem em quem votar, enquanto 23% afirmam votar em branco ou nulo. Isso significa que apenas um terço do eleitorado tem, hoje, preferência por algum candidato. A pesquisa aponta Lula com 10%, Jair Bolsonaro (PSL) com 12% e os demais praticamente não aparecem na espontânea.
O ex-presidente Lula, preso há dois meses, continua liderando no cenário em que é colocado como candidato. Tem 30%. Bolsonaro fica com 17%, Marina Silva (Rede), com 10%; Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), com 6%; Alvaro Dias (Podemos), com 4%. Manuela D;Ávila (PCdoB) e Rodrigo Maia (DEM) oscilam entre 1% e 2%; e os demais entre 0 e 1%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No cenário sem Lula, Bolsonaro lidera, mas teria dificuldades num segundo turno contra qualquer candidato. Só venceria Fernando Haddad (PT) e aparece empatado com Geraldo Alckmin.
Enquanto o eleitor não presta atenção no jogo, os partidos tentam aumentar o cacife para agosto, quando começa a campanha. Com pouco tempo de tevê, estrutura partidária pequena, Jair Bolsonaro (PSL) encontra dificuldades em atrair aliados e perde fôlego em praticamente todos os cenários de segundo turno.
Empatado com Geraldo Alckmin, Ciro Gomes (PDT) já percebe o engarrafamento de pré-candidatos à esquerda e tenta tirar um naco dos votos, tanto de Bolsonaro, quanto de eleitores de centro. Para isso, coloca na roda, como vice em sua chapa, o empresário Benjamin Steinbruch, que é filiado ao PP, sigla que até aqui segue com Rodrigo Maia (DEM). Ocorre que Maia tem 1% no Datafolha e os caciques do DEM esperam apenas que o quadro fique mais claro para pedir que ele desista da empreitada.
O Democratas não gostaria de fechar com Ciro Gomes, mas aguarda para ver o que acontece com Geraldo Alckmin ou Alvaro Dias para decidir que caminho tomar. Nesse sentido, Alckmin ensaia dizer aos aliados que, além de nomes competitivos em São Paulo e Minas, tem o maior tempo de tevê e a maior estrutura partidária para desenvolver uma campanha do que Alvaro Dias, do Podemos.
Com o DEM praticamente descartado, Ciro intensificará as conversas com o PSB. Ele já foi do partido, ainda tem muitos laços por lá e mais chances de atrair os socialistas do que Marina Silva, da Rede. Em conversas reservadas, os socialistas têm dito que a última experiência com Marina, na campanha de 2014, não foi das melhores. Ela, inclusive, brigou com o atual presidente da sigla, Carlos Siqueira, que pretende esperar mais um pouco para definir que caminho seguir. A ideia é esperar as festas juninas.
Incógnita
O PSB praticamente desistiu de uma aliança com o PT de Lula. Isso porque a cúpula socialista não gostou do adiamento da decisão dos petistas em Pernambuco e desconfia que tudo está sendo montado para pressionar o partido a assinar um cheque em branco, ou seja, apoiar qualquer nome que seja indicado por Lula. Ocorre que o PT, hoje, vive uma briga interna. Há um grupo que deseja apoiar Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo, mas a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, acalenta o sonho de concorrer no lugar do ex-presidente; e ainda tem o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, que prefere ser candidato ao Senado. Nesse quadro, o PSB prefere seguir outro caminho, até porque os socialistas consideram que Lula não conseguirá ser candidato e que o PT só quer ganhar tempo para não ficar isolado.
Do ponto de vista do PT, a manutenção da candidatura de Lula é o melhor negócio. O partido não se expõe ao desgaste de ter seu candidato pressionado a se posicionar sobre todos os temas e obrigado a se defender, uma vez que ele está preso. E, como não há um sucessor natural apontado pelas pesquisas ; os votos se dividem quando Lula não é apontado como candidato ; , os petistas têm ainda algum tempo para refletir sobre que caminho tomar.
A queda de Lula na pesquisa espontânea indica, porém, que o partido não pode esperar tanto para definir o plano alternativo. É que, em novembro do ano passado, Lula registrava 18% na pesquisa espontânea e hoje apresenta 10%. Por enquanto, esses eleitores que diziam votar no presidente ainda não definiram um caminho. Mas, se o PT demorar muito, eles podem escolher os que estão por aí. O PT, entretanto, está disposto a pagar para ver e até o último dia do registro de candidaturas, 15 de agosto, a ideia é manter Lula candidato.