Renato Souza
postado em 04/06/2018 06:00
A greve dos caminhoneiros, que parou o país por 11 dias, chegou ao fim após negociações com o governo federal. Com o movimento encerrado, grupos de WhatsApp que eram usados para combinar as manifestações se tornaram fábricas de notícias falsas. Os boatos envolvem a legislação, decisões judiciais e incitam que a categoria volte a fechar rodovias. A mensagem mais compartilhada ;revela; que, durante o fim de semana, milhares de caminhões seguiram para Brasília. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que não registrou nenhum tráfego incomum de caminhões nas vias que dão acesso à capital.
O Correio entrou em um dos grupos de WhatsApp, criado para mobilizar caminhoneiros do Rio de Janeiro, mas que reúne motoristas de todo o país. Com 233 participantes, a reportagem acompanhou as mensagens durante dois dias. A mensagem com maior disseminação está relacionada a uma suposta volta da greve. No texto, está a promessa de levar 50 mil caminhoneiros para protestar na capital federal. De acordo com a publicação, o local de encontro dos manifestantes no Distrito Federal é o estacionamento do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.
Vídeos e fotos de desconhecidos em frente aos veículos de carga são usados para persuadir os integrantes a rumar até o Planalto Central. A maioria das imagens foi gravada à noite, o autor do vídeo não se identifica e não é possível ver com clareza o local exato onde ocorreu a gravação. Entre as publicações que fortalecem os boatos, algumas chamam atenção. Elas oferecerem pacotes com perfis fakes para propagar as informações inverídicas.
De acordo com uma das propostas, um pacote com mil perfis fakes sai por R$ 150. Com R$ 850, é possível adquirir 8 mil contas falsas, que podem ser usadas para aumentar o número de seguidores nas redes sociais ou visualizações em vídeos publicados na internet. O mesmo internauta oferece o serviço de falsificação de documentos, como CNH e cartão de crédito.
A força dos boatos preocupa o governo, que decidiu manter os encontros diários para avaliar a situação. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, afirmou os possíveis impactos dos boatos estão sendo analisados. ;Nossas reuniões e os acompanhamentos continuam. Estamos verificando quais são as consequências dessa eventual mobilização convocada para amanhã, mas sem nos preocuparmos a ponto de novo alarde, obviamente há de que se acompanhar. O governo não lida com boatos, com mentiras e imprecisões;, afirmou.
Intervenção
Ontem, no Mané Garrincha, havia 15 caminhões estacionados. Além disso, cerca de 20 motociclistas, cinco vans do transporte escolar e um grupo que clama por uma ;intervenção militar; também se reuniram no local. A todo momento os caminhoneiros se reúnem em círculo, em formato parecido com as entrevistas coletivas de imprensa. No centro, um caminhoneiro, rodeado de pessoas com celulares que gravam os vídeos, que em questão de minutos, serão difundidos na internet. Um deles é o motorista Wallace Landim, conhecido como ;Chorão;, de 39 anos. Ele é apontado como um dos líderes dos caminhoneiros autônomos e seus vídeos chegam a 4 milhões de acessos. ;Estamos convocando todos para parar Brasília. Não teve acordo com o governo. Esse acordo não foi feito por quem nos representa;, diz ele para um grupo de 30 pessoas.
Questionado sobre como está a mobilização e qual seria o horário do protesto, ele confessa que muitos caminhoneiros podem não chegar ao Distrito Federal. ;Nós estamos chamando motoristas de todo o Brasil pelo Facebook e pelo WhatsApp. Temos virtuais em todos os estados. Eles estão com dificuldade de chegar até aqui, muito por conta da distância. Não temos horário marcado para ir ao protesto, mas vamos até a Esplanada;, completa.