Mesmo diante da decisão do governo federal de criar um esforço conjunto entre as forças de segurança para atuar durante a greve dos caminhoneiros, o número de pontos de protestos segue aumentando em todo o país. O último balanço, divulgado na noite de ontem pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), aponta que ainda existem 616 locais de concentração dos manifestantes nas rodovias federais, 60 a mais do que o registrado na segunda-feira. Mesmo com a presença policial, caminhões são depredados e motoristas ameaçados.
Na BR-040, na altura de Valparaíso (GO), dezenas de carretas estão estacionadas ao longo das margens da rodovia. A atuação da PRF se resume em negociar a saída de caminhoneiros que querem deixar o local, mas não existe estratégia para impedir novos bloqueios nem garantir a passagem de caminhões que não têm o interesse de se juntar aos manifestantes. Diante dos olhos dos agentes, motoristas foram ameaçados e ocorreram tentativas de depredar os veículos. Também convocadas para agir diante do agravamento dos protestos, as tropas das Forças Armadas se limitam a escoltar caminhões de combustível e cargas de alimentos e remédios.
Na BR-020, no trecho que corta Sobradinho, os caminhoneiros que se recusaram a fazer parte do movimento não tiveram a mesma sorte. Um motorista contou ao Correio que foi obrigado a ficar no local e, quando tentou sair, teve o veículo depredado. ;Tentei tirar o caminhão e começaram as ameaças, falando que quebrariam tudo. Com a ajuda de outros colegas, eu consegui sair, mas ainda jogaram um pedaço de madeira e rasgaram o baú do caminhão;, afirmou. ;Outro colega teve o caminhão destruído e não conseguiu sair. O mesmo ocorreu com outro caminhão nosso que está preso no protesto em Formosa (GO). Fizemos mais de 25 ligações para a polícia, as patrulhas foram ao local, mas os PMs disseram que não poderiam fazer nada por medo da reação dos manifestantes;, completou.
Para quem chega em uma das áreas onde estão os manifestantes, fica claro que integrantes de outros grupos, principalmente os que clamam por uma ;intervenção militar;, estão atuando para garantir a continuidade dos atos. ;Não sou caminhoneira. Eu faço parte de diversos grupos. Sou ativista de outras causas e agora estou aqui. Não vamos sair de forma alguma;, disse uma mulher, envolta pela Bandeira Nacional na BR-040. Em nota, a PRF informou que ;foram registradas 751 desinterdições em rodovias federais;. A corporação destacou também que ;foram encaminhadas à Advocacia-Geral da União (AGU) diversas situações para autuações baseadas em decisão judicial do Supremo Tribunal Federal determinando o desbloqueio de rodovias;.
Viés político
Para o Palácio do Planalto, os protestos estão ganhando contorno político. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, reconhece que ainda há caminhoneiros entre os manifestantes, mas avalia que há uma grande parcela de infiltrados que constrangem os transportadores, coagindo-os para que permaneçam nos pontos de aglomeração.
O governo avalia que as áreas urbanas são os principais focos de infiltrações nos protestos. O crescimento de participantes nestes pontos se deve, sobretudo, à participação de moradores da região, avalia Padilha. ;É claro que tem caminhoneiro ainda parado, mas há pontos de aglomeração em que estão esperando para voltar, mas são constrangidos a permanecerem na linha de movimento;, ponderou.
O Planalto não descarta a possibilidade de movimentos sociais a favor da saída de Michel Temer e da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estarem por trás dos protestos atuais. É o que avalia o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun. E, para ele, são situações naturais da democracia. ;Pode existir um movimento ;Fora, Temer; e ;Volta, Lula;? Pode existir um por ;intervenção (militar) já;? A democracia cabe e protege até aqueles que se manifestem contra a democracia;, declarou. A intenção do governo não é coibir as manifestações sociais, garante Marun, mas o ministro deixou claro que o governo não vai tolerar mais atos que tranquem estradas e provoquem desabastecimento.
Bombas de gás em Biguaçu (SC)
Depois de quatro horas de negociações, a Polícia Militar de Santa Catarina interveio com bombas de gás e bala de borracha para dispersar ponto de manifestação na SC-407, em Biguaçu, na Grande Florianópolis, que impedia a saída de caminhões-tanques para abastecer postos da região. Houve confronto e oito caminhões carregados com combustível deixaram o local por volta das 20h desta terça. Na noite de segunda-feira, a Justiça expediu decisão para desobstrução do local. Na decisão, o juiz Yannick Caubet deu prazo de 24 horas para liberação do local. Após esse prazo, o magistrado autorizou o uso da força policial para que a ordem seja efetivamente cumprida.