Em grande parte, a mobilização que parou o país foi arquitetada por correntes de fake news, propagadas e multiplicadas pelo WhatsApp, explorando uma insatisfação popular que é real e generalizada: a escalada de aumentos no preço dos combustíveis. As falsas notícias anunciavam que haveria, na semana passada, quando se iniciou o movimento de bloqueios nas estradas, reajuste de 37% na tarifa da energia elétrica e de 14% no valor cobrado pelo litro de gasolina. Diziam que "a imprensa foi comprada para não noticiar o novo reajuste" e pediam que o receptor repassasse a informação para ao menos mais sete pessoas ou três grupos.
Muita gente deve ter sido bombardeada por "zaps" semelhantes. Contudo, a reação entre as pessoas que são alvo desse tipo de comunicado é bem diferente. Diante da mentira evidente, há aqueles que simplesmente descartam a informação. Mas outros, seria a maioria?, passam adiante e vão alimentando a mentira e dando contornos de verdade à notícia falsa. Afinal, é fato: dia sim, outro também, a política de reajuste de preços da Petrobras vinha alucinando a população brasileira. E, nos últimos meses, os aumentos entraram em ritmo alucinante, catapultados por fatores externos que fizeram disparar o dólar e o preço do petróleo.
Para piorar, a situação foi agravada pela desonestidade de parte expressiva dos donos de postos de combustíveis. Por que eles sempre sobem o preço acima do anunciado pela estatal e nunca o baixam quando há redução? Houve, também, omissão e cumplicidade de governadores que aproveitaram para arrecadar mais com a cobrança do ICMS, a parte maior dos impostos sobre os combustíveis, e nunca mandaram fiscalizar os desmandos dos cartéis do setor. Como o anúncio do aumento vem da Petrobras, o cidadão nem percebe que aquele governador se fingindo de morto é quem está autorizando a garfada maior em seu bolso.
O maior de todos os erros, porém, foi cometido pelo governo federal, ao menosprezar a força do movimento que uniu a fúria de caminhoneiros avulsos ao, cada vez mais evidente, oportunismo criminoso de empresários do setor de transporte de cargas. Impopular e fraco, Temer se sujeitou à chantagem e deixou o Brasil inteiro refém dos bloqueios nas estradas. Foi reagir, apenas, diante de um iminente colapso em todos os setores da economia, com um país quase de joelhos. Igualmente vexaminoso foi o papelão dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), tentando tirar proveito político de uma situação de calamidade pública. No auge da crise, o cearense pegou o jatinho e sumiu de Brasília. Denunciado por omissão, teve de voltar às pressas. E culpou o colega da Câmara pela trapalhada.
Como mostram investigações da Lava-Jato, a Petrobras foi saqueada nos governos do PT e, de maior empresa do país, se transformou na companhia mais endividada do mundo. Temer teve o mérito de saneá-la, mas o custo para o cidadão brasileiro tem sido altíssimo. Principalmente para quem precisa abastecer o veículo. Diante desse quadro, o governo tem pela frente o desafio de mudar a política de preços da Petrobras. Engana-se quem acha, como acreditou Dilma, que a solução é simples. Ela passa, antes de tudo, pelo desafio de resgatar o Brasil do abismo em que o populismo petista o afundou. Essa crise, com seus mais de 13 milhões de desempregados, carrega o DNA do partido. Dois anos após o impeachment, ainda pendemos mais para a Venezuela, à esquerda e à direita, do que para uma saída civilizada.