Um grandioso esquema de movimentação de dinheiro ilícito no Brasil e no exterior foi alvo de um desdobramento da Operação Lava-Jato nesta quinta-feira (3/5). A operação, chamada de "Câmbio, Desligo", colocou agentes da Polícia Federal (PF) nas ruas de cinco estados e do Distrito Federal, além do Uruguai, para cumprir 43 mandados de prisão preventiva de doleiros investigados e dois de temporária, contra operadores financeiros. O principal alvo foi Dário Messer, apontado como o principal doleiro do país (veja a lista de alvos abaixo).
Os mandados foram solicitados pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF/RJ) e expedidas pela 7; Vara Federal Criminal do estado. No Brasil, agentes percorreram endereços Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Os agentes cumpriram ainda 51 ordens de busca e apreensão. Também foram solicitados o sequestro e arresto de bens e valores no total de R$ 7,5 bilhões de reais para restituição dos valores movimentados ilicitamente (R$ 3,7 bilhões) e reparação de danos morais coletivos.
Segundo a investigação - feita pela Polícia Federal, MPF e Receita Federal -, a movimentação de recursos ilícitos ocorreu ao longo de décadas pelos investigados, que realizavam operações dólar-cabo, ou seja, entregas de dinheiro em espécie, pagamentos de boletos e compra e venda de cheques de comércio. O objetivo novamente era alimentar o esquema de corrupção do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e outros ainda sob investigação.
De acordo com o MPF, as investigações tiveram como pontapé as delações dos doleiros Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barboza, conhecido como Tony ou Peter. Presos em 3 de março do ano passado no Uruguai, os dois eram responsáveis por intermediar as operações dólar-cabo para os irmãos Chebar, também doleiros e operadores financeiros do esquema do ex-governador Sérgio Cabral. A rede estruturada por Messer, Juca e Tony foi utilizada por ao menos outros 46 doleiros. "Renato Chebar reconheceu que o volume de operação de compra de dólares aumentou consideravelmente a partir do início da gestão de Sérgio Cabral em 2007, motivo pelo qual foi necessário buscar os recursos de Juca e Tony para viabilizar as operações", afirmou o MPF.
Doleiros dos doleiros
Juca Bala e Tony funcionavam como "verdadeira instituição financeira". Faziam a compensação de transações entre vários doleiros em todo o país. Como doleiros dos doleiros, eles indicavam clientes que necessitavam de dólares (compradores) e os que necessitavam de reais. Segundo os procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava-Jato no Rio de Janeiro, junto com Dario Messer, dono de casas de câmbio, eles montaram "uma complexa rede de câmbio paralelo". A sede inicialmente estava instalada no Brasil e, a partir de 2003, os ;negócios; foram transferidos para o Uruguai, de onde os doleiros comandavam remotamente os negócios.
Nos anos de 2010 a 2016, os investigados tinham um volume diário de operações de aproximadamente R4 1 milhão. "Para controlar as transações, os colaboradores desenvolveram um sistema informatizado próprio, de nome Bankdrop, no qual estão relacionadas mais de 3 mil offshores (empresas e contas bancárias abertas em territórios onde há menor tributação, para fins lícitos ou ilícitos), com contas em 52 países, e transações que somam mais de 1,6 bilhão de dólares", explicaram os procuradores do MPF.
Messer recebia 60% dos lucros das operações de câmbio
O papel de um dos principais investigados pela Operação Câmbio, Desligo, Dario Messer, só foi revelado por meio das colaborações premiadas dos doleiros. Dono de casas de câmbio, Messer já havia sido alvo em 2009 da operação Sexta-Feira 13, no mercado paralelo de câmbio. De acordo com a investigação, ele recebia 60% dos lucros das operações de câmbio. "Era o responsável por aportar recursos e dar lastro às operações", afirmou o MPF.
Dario Messer dava respaldo às operações com seu nome e ficava responsável pela captação de clientes. Chegou a possuir um banco em Antígua e Barbuda em sociedade com Enrico Machado, denominado EVG, destinado à lavagem de recursos de modo transnacional. "O EVG encerrou suas atividades em meados de 2013, e vários dos investigados pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro e até mesmo por outras operações estão listados entre seus clientes."
Doleiro Francisco Júnior é alvo em Brasília
Um dos alvos da Operação Câmbio, Desligo é o doleiro Francisco de Araújo Costa Júnior. Equipes da Polícia Federal foram até um endereço ligado a ele, no Setor de Mansões Parque Way, para cumprir um mandado de prisão preventiva. Documentos obtidos pelo Correio, revelam que ele foi citado nas delações dos delatores Vinicius Claret e Cláudio Barbosa.
Francisco é acusado de atuar com Afonso Fábio Barbosa Fernandes para transportar valores em espécie que seriam distribuídos em forma de propina. De acordo com as investigações, a dupla movimentou U$ 2.050.000,00 entre 2011 e 2017. No esquema investigado pela Lava-Jato, Francisco, identificado entre os operadores do esquema como "Jubra", era apresentado pelo doleiro Lúcio Funaro como o responsável pela atuação financeira em Brasília.
Francisco é um nome novo nas investigações da Lava-Jato. A PF encontrou operações suspeitas em empresas que estão no nome do investigado. Nesta fase da operação, estão sendo cumpridos 49 mandados de prisão preventiva, incluindo seis no exterior, além de quatro mandados de prisão temporária e 51 de busca e apreensão. Os mandados foram expedidos pela 7; Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
Veja a lista com os nomes de investigados alvos da Operação Câmbio, Desligo
; Dario Messer
; Diego Renzo Candolo
; Daniela Figueiredo Neves Diniz
; Marcelo Rzezinski
; Roberto Rzezinski
; Wu Yu Sheng
; Claudia Mitiko Ebihara
; Lígia Martins Lopes da Silva
; Carlos Alberto Lopes Caetano
; Sérgio Mizhray
; Carlos Eduardo Caminha Garibe
; Ernesto Matalon
; Marco Ernest Matalon
; Patrícia Matalon
; Bella Kayreh Skinazi
; Chaaya Moshrabi
; Marcelo Fonseca de Camargo
; Paulo Arruda
; Roberta Prata Zvinakevicius
; Francisco Araújo Costa Júnior
; Afonso Fábio Barbosa Fernandes
; Paulo Aramis Albernaz Cordeiro
Antônio Cláudio Albernaz Cordeiro
; Athos Robertos Albernaz Cordeiro
; Suzana Marcon
; Carmen Regina Albernaz Cordeiro
; Cláudio Sá Garcia de Freitas
; Ana Lúcia Sampaio Garcia de Freitas
; Camilo de Lelis Assunção
; José Carlos Maia Saliba
; Alexandre de Souza Silva
; Claudine Spiero
; Michel Spiero
; Richard Andrew de Mol Van Otterlloo
; Raul Henrique Srour
; Marco Antônio Cursini
; Nei Seda
; Renne Maurício Loeb
; Alexander Monteiro Henrice
; Henri Joseph Tabet
; Alberto Cezar Lisnovetzky
; Lino Mazza Filho
; Carlos Alberto Braga de Castro
; Rony Hamoui
; Henrique Chueke
; Wander Bergmann Vianna
; Oswaldo Prado Sanches
Fonte: MPF