Pivô da recente operação da Polícia Federal contra líderes do PP, o ex-assessor José Expedito Rodrigues Almeida ingressou no Programa de Proteção à Testemunha. O pernambucano, que relatou à PF ter carregado bolsas e malas de dinheiro para o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), conhecido como Dudu da Fonte, teme represálias de políticos do partido.
[SAIBAMAIS]Almeida, no entanto, não prestou serviço apenas aos dois parlamentares alvos da operação da semana passada. Registros da Câmara apontam que ele trabalhou como secretário parlamentar em gabinetes de pelo menos outros três deputados do PP. Um deles foi Fernando Monteiro (PE), que afirmou ao Estadão/Broadcast ter contratado o ex-assessor a pedido de Dudu da Fonte, que, na época, era líder da bancada da legenda na Casa.
Nos gabinetes por onde passou, Almeida era conhecido como "Rodrigo". Outros assessores ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato relataram que ele não costumava ficar em Brasília. O ex-assessor é filiado ao PP desde 19 de setembro de 2011, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A filiação foi feita na cidade de Saloá, um dos redutos eleitorais de Dudu da Fonte, em Pernambuco.
O primeiro registro disponível de Almeida na Câmara é de 2009. Ele foi nomeado em abril daquele ano como secretário parlamentar de Ciro Nogueira, que, na época, ainda era deputado. Ficou no cargo até maio de 2010, quando foi exonerado. O registro seguinte mostra o ex-assessor lotado no gabinete do ex-deputado Márcio Junqueira (PROS-RR), que já foi do PP.
Junqueira foi preso na terça-feira da semana passada na operação da PF, sob suspeita de tentativa de obstrução da Justiça - o ex-deputado teria tentado comprar o silêncio de Almeida. Ciro Nogueira e Dudu da Fonte também são suspeitos, conforme as investigações, de pressionar o ex-assessor.
Em 2014, Almeida foi transferido para o gabinete do hoje ex-deputado Berinho Bartim (RR), que também é filiado ao PP e aliado de Junqueira. Foi exonerado do posto em fevereiro de 2015, segundo publicação do Diário Oficial da Câmara de 6 de fevereiro daquele ano. Seis dias depois, o ex-assessor assumiu o mesmo cargo no gabinete de Fernando Monteiro, onde trabalhou por mais de um ano, até 14 de junho de 2016.
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Depoimento
Desde junho de 2016, Almeida não aparece mais nos registros de funcionários da Câmara. Em outubro daquele ano, ele prestou depoimento à PF, quando disse ter transportado dinheiro para Ciro Nogueira e Dudu da Fonte. Segundo relatou, em duas ocasiões levou valores dentro de bolsas no trajeto entre São Paulo e Piauí. Em uma dessas viagens, o ex-assessor afirmou que carregou R$ 150 mil da capital paulista para Teresina e entregou diretamente na casa do presidente do PP.
No depoimento, anexado a um dos inquéritos que investigam Ciro Nogueira no Supremo Tribunal Federal, Almeida disse que também transportou dinheiro em espécie de Brasília para Teresina. Nesses casos, as entregas foram feitas em um shopping para uma pessoa ligada ao presidente do PP. Em outro trajeto - no qual levou R$ 100 mil - foi do Rio a Brasília. O serviço, segundo o ex-assessor, era custeado com o salário que recebia da Câmara, que não passava de R$ 5 mil.
Defesas
A defesa de Ciro Nogueira afirmou, em nota, que o senador jamais tratou de pagamentos "a quem quer que seja" e que, no inquérito em que é investigado por obstrução da Justiça, não existem indícios de participação dele.
Por meio de sua assessoria, Dudu da Fonte repetiu que está à disposição da Justiça para que os fatos sejam esclarecidos. A assessoria de Fernando Monteiro afirmou que o deputado "jamais teve conhecimento de qualquer atividade ilícita do então secretário". A reportagem não localizou os ex-deputados Berinho Bartim e Márcio Junqueira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.