Dono da quarta maior bancada do Congresso Nacional, hoje com 53 deputados e seis senadores, o Partido Progressista tem 21 integrantes investigados pela Justiça. Ontem, dois deles foram alvo de ações mais profundas. Logo pela manhã, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nos gabinetes do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido, e do deputado Eduardo da Fonte (PE). Suspeitos de tentar comprar o silêncio de um ex-assessor, nenhum deles estava no local de trabalho. A operação para apurar os crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin e pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Mesmo com o plenário da Câmara funcionando e uma fila de oito medidas provisórias para serem votadas com urgência, nenhum dos acusados foi trabalhar. Ciro Nogueira está em Bruxelas para participar de evento da União Interparlamentar para a Organização Mundial do Comércio (OMC) e deve voltar amanhã. Eduardo da Fonte passou a manhã no Recife, onde foi abordado por três agentes da PF de Brasília que estenderam a ordem de busca e apreensão para o apartamento do político. Segundo a assessoria da Polícia Federal em Pernambuco, ao menos um telefone celular foi apreendido. A expectativa era de que ele chegasse ontem mesmo a Brasília.
[SAIBAMAIS]Tanto Ciro quanto Eduardo da Fonte já foram denunciados ao STF por organização criminosa no ;quadrilhão do PP;. A denúncia foi feita pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot e confirmada pela atual procuradora-geral Raquel Dodge. O Ministério Público acredita que integrantes do partido indicavam pessoas comprometidas em arrecadar propina para cargos no governo federal. Em nota, o advogado de Ciro afirmou que não conseguiu falar com o cliente, que está fora do país, e que não iria se manifestar.
As buscas jogam luz sobre a atual situação do PP, que ostenta duas posições aparentemente antagônicas: é o partido mais investigado, e, ao mesmo tempo, um dos que mais atrai deputados para a bancada. Desde as eleições de 2014, conseguiu 17 novos nomes na Câmara ; sete deles apenas na janela partidária deste ano ;, mesmo sendo alvo de inquéritos. Não importa o número de ações contra o partido, parlamentares dizem que o PP continua sendo visto como um bom destino pelos parlamentares, que consideram o peso das investigações irrelevante quando comparado aos recursos e aos cargos públicos a que o partido tem acesso.
Especialistas acreditam que os pontos positivos superam o suposto envolvimento em casos de corrupção no partido. Apontam que, entre as benesses, estão os recursos partidários expressivos, a proximidade com o governo e o fato de ser mais pragmático. ;É uma espécie de porto seguro, porque não constrange os integrantes em relação aos posicionamentos nas votações, e se esquiva das investigações. Não encara como sendo uma responsabilidade do partido, mas como um comportamento individual;, explica o cientista político Geraldo Tadeu, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Conhecido por atuar nos bastidores da Câmara, Dudu já foi denunciado pela PGR ao menos duas vezes. Respondeu por suposto recebimento de propina para beneficiar empreiteira no Paraná e em ação que alegava sua atuação para atrapalhar as investigações da CPI da Petrobras no Senado, em 2009. A última foi rejeitada pelo STF. Em nota, disse confiar na Justiça e em Deus. Por isso, garante: ;Estou tranquilo;.
Os percalços enfrentados pelos progressistas não devem afetar o restante do partido, segundo o especialista em política brasileira Sérgio Praça, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Com lógica diferente do PT, por exemplo, o PP não sofre em conjunto quando há uma operação contra algum membro. ;As investigações afetam os candidatos diretamente envolvidos, mas não trazem prejuízo à reputação do partido, porque ele mal tem reputação;, resumiu.