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Candidatos aceitam apoio de investigados de olho em votos e tempo de tevê

De olho em puxadores de votos e em tempo de tevê, os candidatos a cargos majoritários aceitam o apoio de quem é investigado ou réu, mas não querem subir no palanque acompanhados dessas pessoas. Negociações são discretas e, recompensas, prometidas a longo prazo

Em meio a um cenário de incertezas e perto de uma eleição mais curta que o normal, candidatos à Presidência da República topam até se aliar a parlamentares investigados. A diversidade dos interessados no Planalto faz com que essas parcerias sejam indispensáveis, pois aumentam o tempo de tevê, a verba dos fundos de campanha e os puxadores de votos. Com a pulverização do poder no Congresso, é importante agradar ao máximo de pessoas possível.

Até agora, 17 partidos registraram pré-candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) visando ao Planalto. Cerca de 300 deputados e senadores, muitos deles líderes dos partidos que podem apoiar os presidenciáveis, figuram em uma lista informal de investigados pela Justiça. O levantamento foi feito extraoficialmente pelo Ministério Público.

;Os parlamentares não pretendem se comprometer antes da hora, assim como os candidatos à Presidência. Mas ninguém está parado. As coalizões estão sendo orquestradas sutilmente;, explicou o cientista político Ivan Ervolino, criador da startup de monitoramento legislativo Siga Lei.

Dessa maneira, os candidatos aceitam o apoio de quem é investigado ou processado, mas nenhum presidenciável, ou candidato a cargo majoritário, quer subir no palanque acompanhado de alguém nessa situação. Por isso, as negociações devem ser discretas e as recompensas precisam ser prometidas a longo prazo.

Ervolino acredita que os contornos da eleição ficarão mais visíveis no final de maio, quando haverá panoramas mais definidos em torno dos candidatos. Muitos, segundo ele, podem não chegar às eleições de outubro.

Os maiores benefícios para quem conseguir firmar boas parcerias são os fundos de financiamento ; eleitoral (R$ 1,7 bilhão, dos quais 48% são distribuídos pelo número de parlamentares de cada legenda) e partidário (R$ 888 milhões, que podem ser usados para custear campanhas). Assim como o tempo de tevê, o dinheiro pode ser ;cedido a aliados;.

Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa eleitoral, os principais nomes do PT são o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o do ex-governador e ex-ministro Jaques Wagner (veja quadro). O partido tem perspectivas de convencer o PCdoB e o Psol e, talvez, o PDT ; ainda que eles tenham candidatos próprios.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, pré-candiato ao Planalto pelo PSB, já afirmou que não vê problemas em receber votos de pessoas ligadas ao PT. O partido foi alvo do Mensalão, punido por Barbosa. ;Apoio não se recusa;, disse ele.

Enquanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), está no páreo pelo Planalto, uma das opções de coalização é o PP ; que, com 51 deputados na Câmara, tem 21 investigados. Se desistir, o partido deve negociar com o MDB.

O apoio ao governo dependerá do candidato a ser endossado. O MDB ainda não se decidiu entre o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o presidente Michel Temer. A expectativa é de que toda a base, exceto o PSDB, se mantenha próxima.

No PSDB, a orientação é dialogar sempre. ;Estamos procurando alianças, mas a coisa está muito incipiente;, declarou um tucano. Petistas se recusam a cravar um substituto para Lula, mas afirmam que não dá para esquecer quem foi apoiar o presidente em São Paulo e em Curitiba enquanto a prisão estava para sair.

Ao menos 63 deputados têm inquéritos abertos no STF no âmbito da Lava-Jato, segundo levantamento do Correio. ;Isso se torna pequeno quando você entende que colocar mais parlamentares como aliados traz mais tempo de tevê, mais dinheiro do fundo eleitoral;, explica o professor aposentado da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Felippo Cerqueira.