A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, voltou a pedir, em documento enviado ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), que a Corte receba integralmente a denúncia contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e outras três pessoas. A Primeira Turma do STF julga hoje se recebe a denúncia oferecida pela PGR e torna réu o senador pelos supostos crimes de corrupção passiva e obstrução de Justiça, em inquérito instaurado em maio de 2017, com base na delação da JBS. Em conversa com jornalistas, no fim da tarde de ontem, Aécio questionou ;ilegalidades; no processo, disse que a PGR ;falseou; informações e que ;acredita na dimensão; dos ministros do STF. ;Decisão do STF se cumpre;, disse.
[SAIBAMAIS]A primeira turma é composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello (relator do caso), Luiz Fux, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso. A defesa do senador tem a expectativa de que a denúncia seja rejeitada. Aécio aparece em uma gravação em que pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, sob a justificativa de que precisava pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.
O senador declarou que ;ninguém transformado em réu é considerado culpado a priori;. ;Principalmente com as fragilidades dessas acusações, seja em relação à obstrução de Justiça ou em relação a esse empréstimo que não envolveu dinheiro público. Qualquer investigação vai mostrar que isso foi uma construção envolvendo Joesley e membros do Ministério Público;, reforçou.
;As imputações de crimes feitas a cada acusado baseiam-se em prova robusta, tais como áudios de gravação ambiental admitida por lei e pela jurisprudência do STF; e em e áudios e vídeos coligidos em ações controladas autorizadas pelo STF;, argumenta Raquel no documento.
Para a procuradora-geral, as articulações feitas pelo senador ;mostram que sua conduta incluiu todas as formas que estavam ao seu alcance para livrar a si mesmo e a seus colegas das investigações, desbordando de seu legítimo exercício da atividade parlamentar;. ;Ao contrário, o senador não poupou esforços para, valendo-se do cargo público, atingir seus objetivos.;
Na entrevista, Aécio reclamou que não houve investigação no processo e também criticou a celeridade da elaboração da denúncia pela PGR. ;Se tivessem havido investigações, minhas alegações teriam sido comprovadas.; Ele disse ainda que ;se a Justiça falta hoje a um, amanhã faltará a outros;.
O senador justificou a coletiva de imprensa, convocada na véspera do julgamento, como uma forma de se contrapor com suas ;armas; ao ;tsunami; de informações que o atingiram. ;Ninguém foi lesado, a não ser eu e minha família.; Assim como já havia afirmado em artigo publicado na Folha de S. Paulo ontem, Aécio disse que cometeu um erro, mas não cometeu qualquer irregularidade. ;Não serão 20 minutos de uma conversa infeliz que vão definir minha história;, declarou na coletiva.