Curitiba ; No último sábado, as ruas laterais da sede do Departamento de Polícia Federal, em Curitiba, se transformaram em arquibancadas de times rivais separados por cordões de isolamento. De um lado, vermelhos. De outro, amarelos. E quem pegou as melhores cadeiras foram os correligionários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mais por oportunidade do que por algum privilégio. Os simpatizantes do petista chegaram cedo, por volta das 9h. Ficaram em frente ao portão principal da corporação. Era claro que não iria funcionar tal proximidade da entrada do prédio, mas, até agora, ninguém conseguiu explicar minimamente a ação desmedida da PF durante a noite.
Às 22h20, no momento em que o helicóptero trazendo o ex-presidente taxiava para pousar no alto do prédio da Polícia Federal, começou uma confusão e pelo menos quatro bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas para dispersar a multidão. Os efeitos foram imediatos e se prolongaram por horas, transformando os olhos em fogueiras. O grupo da rua lateral, aquele contrário a Lula, foi afastado mais para baixo e não sofreu os efeitos das bombas. Depois do gás, as tropas da Polícia Militar se posicionaram para desocupar a área. Com escudos e armas, forçaram os manifestantes a descerem a ladeira de acesso ao prédio da PF. E, assim, vieram as balas de borracha. Uma delas atingiu uma professora. Outros oito feridos foram levados para hospitais.
Camburões
Depois da ação da Polícia Federal, na manhã de domingo, camburões isolaram as ruas principais de acesso ao prédio da corporação. A Polícia Militar, amparada em decisão judicial, fechou três vias ; em duas delas, foram separados os vermelhos, pró-Lula, e os verde-amarelos, dos contrários ao ex-presidente. Tal ordem deu início à confusão da noite anterior, pois, antes mesmo que os manifestantes fossem informados de que deveriam se retirar, as bombas começaram a explodir. Na correria, crianças entraram em desespero. Até o momento da ação policial, a tranquilidade imperava. Um culto religioso chegou a ser celebrado minutos antes.
A questão é que os policiais se prepararam mal para a chegada de Lula no prédio da Polícia Federal. O isolamento deveria ter sido feito logo no início da manhã, quando havia tempo suficiente para separar os grupos contra e pró-Lula. O número de manifestantes só começou a ficar significativo a partir do meio-dia. Pior, as bombas estouraram no momento em que o helicóptero de Lula pousava, o que gerou desconfianças sobre uma ação orquestrada. Ainda na noite de sábado, a Polícia Militar apontava para a Polícia Federal. Oficiais da PM deixavam claro que as bombas tinham sido jogadas de dentro para fora do prédio. A Polícia Federal não se pronunciou, nem no sábado nem no domingo.
Representantes da PM disseram, em relação ao grupo contrário ao ex-presidente, que foi proibido o uso de fogos de artifício por causa da segurança da aeronave. E que, do lado dos partidários do PT, rojões foram estourados, o que deu início à confusão, levando pessoas a forçarem os portões do prédio principal. O Correio fez imagens de toda a aproximação do helicóptero que trazia Lula. O registro mostra apenas sinalizadores que expeliam fumaça vermelha nos segundos que antecederam o pouso. O PT admite o uso de sinalizadores, mas não os rojões, e pediu oficialmente uma sindicância para apurar a ação da Polícia Federal.
Conselho
O Conselho da Justiça Federal promove na quinta-feira, dia 12, o workshop Inovações na Justiça: o direito sistêmico como meio de solução pacífica de conflitos. A atividade pretende debater como a análise do direito sob a ótica das constelações familiares, do filósofo alemão Bert Hellinger, pode contribuir para facilitar a resolução de demandas e reduzir a judicialização excessiva. A coordenação é do corregedor-geral do CJF, ministro Raúl Araújo. A coordenação científica está a cargo da juíza de Direito Sandra Silvestre e da assessora da vice-presidência do Superior Tribunal de Justiça Aline Mendes Mota. As inscrições estão abertas até terça, dia 10, no portal do CJF.