Se o PT está animado com a possibilidade de o ex-presidente escapar da prisão, os defensores de uma punição para o petista intensificaram a pressão para que ele seja enquadrado pela justiça. Ontem, após três horas de espera, Lula foi obrigado a cancelar um evento em Passo Fundo (RS) porque manifestantes haviam fechado a principal via de acesso à cidade. Já o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua (VPR) convocaram manifestações em defesa da prisão de Lula para 3 de abril, véspera do julgamento do mérito do habeas corpus no Supremo Tribunal Federal. A palavra de ordem de ambos os grupos para os atos é ;ou você vai, ou ele volta;.
A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, aumentou o coro dos insatisfeitos. Ela disse ontem que a ;lei tem que ser aplicada independentemente de quem é o julgado; e voltou a defender a manutenção da prisão após a segunda instância. ;Não é uma questão de: ;é o Lula;. É uma questão de ;é a lei;. A lei tem que ser aplicada independentemente de quem é o julgado, não se pode ter uma lei que é removida em função de quem está sendo julgado;, disse a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula.
;Eu vou esperar o dia 4 para saber o que vai acontecer;, disse Marina, quando questionada se acha que o Judiciário poderia estar envolvido no processo de ;estancar a sangria; com outros partidos, como ela própria diz. ;Não tem lei específica para ninguém. A Lei da Ficha Limpa é para todos;, concluiu.
Todos esses sinais mostram que o país está profundamente dividido em relação a essa questão. Lula e o PT foram obrigados a cancelar eventos ou alterar programações ao longo desta semana por conta de manifestações de eleitores de bolsonaros e ruralistas. A cúpula petista chegou a avaliar que foi um erro organizar uma caravana em uma região que nutre um profundo sentimento anti-PT.
Ontem, em Passo Fundo, os manifestantes, em sua maioria apoiadores do deputado Jair Bolsonaro, bloquearam o acesso do ex-presidente à cidade após serem informados da visita do petista. Eles usaram tratores, queimaram pneus para obstruir a passagem da caravana e atiravam ovos, também exibiram chicotes, correntes e até um taco. A Brigada Militar usou bombas de gás lacrimogêneo para dissipar os manifestantes.
O MBL e o VPR criticaram, por meio das redes sociais, a decisão do plenário da Corte do STF. ;Inventaram uma bizarrice jurídica só para livrar uma pessoa da cadeia. Colocaram uma pessoa acima da lei, simplesmente porque ele é ex-presidente da República;, afirmou Kim Kataguiri, líder do MBL, em vídeo publicado no Twitter.
Em uma das postagens, o VPR criticou a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia. A imagem da ministra é exibida ao lado de uma foto do juiz federal Sérgio Moro, com a legenda ;Moro é Moro, Carmen Lúcia é Carmen Lúcia;. Na quarta-feira, Cármen Lúcia recebeu integrantes do VPR para conversar sobre a manutenção da prisão após a segunda instância. Além da manifestação no dia 3, o MBL também convocou atos para os dias 26 e 31 de março e para 4 de abril, em frente ao STF.
Durante entrevista à rádio Super Condá, em Chapecó (SC), Lula voltou criticar a força-tarefa da Operação Lava-Jato, a negar com veemência que seja o dono do apartamento triplex do Guarujá (SP), pivô de sua condenação a 12 anos e um mês de prisão, e clamou: ;Quero que a Suprema Corte analise o mérito do processo.;
Lula disse ser vítima de uma sucessão de mentiras. ;Tenho evitado falar desse processo porque prefiro que os advogados falem. Estou sendo vítima de uma mentira, acho que a história vai poder contar ao povo brasileiro. A Polícia Federal mentiu no inquérito e mandou para o Ministério Público. O Ministério Público pegou o inquérito mentiroso e transformou numa acusação mentirosa e foi pro Moro (juiz Sérgio Moro, da Lava-Jato). E o Moro deu uma sentença mentirosa. E vem pro TRF-4 (Tribunal da Lava Jato), que deu outra sentença mentirosa;, disse.