O primeiro escalão do governo de Michel Temer teve a terceira baixa ontem em menos de um mês, dando sinais de que a corrida eleitoral começou antes do esperado. Durante reunião no Palácio do Planalto, ontem, foi a vez de o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Pereira, entregar a carta de demissão para Temer, alegando ;razões pessoais;. Na missiva de três páginas, o presidente nacional do PRB fez um balanço de sua gestão à frente da pasta que registrou em 2017 o maior superavit comercial da história.
;Cumpri com muita dedicação esta missão que me honrou muito. Obrigado a todos os secretários, servidores e amigos que fiz no Mdic nestes 21 meses. Saio satisfeito e feliz;, escreveu Pereira em seu perfil do Facebook logo após o encontro com o chefe do Executivo. O advogado e pastor evangélico de 44 anos pretende concorrer pela legenda a uma vaga de deputado federal pelo Rio de Janeiro, apesar de ser natural do Espírito Santo.
No mesmo dia da saída de Pereira, Temer anunciou que aceitou a indicação da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para assumir o lugar de Ronaldo Nogueira no Ministério do Trabalho, que deixou o governo no último dia 27 para disputar as eleições e é do mesmo partido de Cristiane.
Após o encontro com Pereira, Temer recebeu o presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, no Palácio do Jaburu. ;É um resgate da imagem da família;, disse ao deixar a residência da Presidência emocionado com a indicação da filha, citada em duas delações da Lava-Jato. Condenado a sete anos e 14 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do mensalão, Jefferson foi beneficiado por um indulto da ex-presidente Dilma Rousseff em março de 2016.
O ex-deputado chegou a se mostrar choroso ao contar que, quando o nome de Cristiane surgiu na conversa com Temer, ele telefonou para a filha. ;Aí eu liguei para ela e ela disse: ;Papai, eu aceito;;, afirmou. ;Não vai concorrer à eleição. Ela ficará ministra até o final;, emendou ele, destacando a principal condição do chefe do Executivo para os novos integrantes da Esplanada e sinalizando que pretende se candidatar novamente a deputado federal por São Paulo.
De saída
Pereira vinha preparando a sua saída do Mdic desde o fim do ano passado. A intenção do PRB para a próxima legislatura é aumentar a bancada federal, atualmente de 22 deputados. ;A saída do Marcos do cargo já era esperada para que ele possa estruturar a legenda. Ele vai se candidatar a deputado para puxar votos. Queremos deixar de ser um partido médio para ser um partido grande;, comentou o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP). Ainda não há o nome de um substituto de Pereira no Mdic. Lideranças do partido pretendem se reunir no início da semana que vem para indicar alguém da legenda ao presidente Temer. O secretário executivo, Marcos Jorge de Lima, também filiado ao partido, comandará a pasta interinamente.
Além de Nogueira e Pereira, no início de dezembro, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, do PSDB, deixou o cargo e foi sucedido pelo deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS). Mas a dança das cadeiras não deve parar nesses três ministérios. O prazo para os integrantes do Executivo deixarem o governo e estarem aptos a disputar cargos eletivos neste ano termina em março. Portanto, até lá, outros 14 ministros devem deixar seus postos, de acordo com fontes palacianas. E, nesse quebra-cabeça, a estratégia do presidente Temer é aproveitar essa dança das cadeiras para acomodar os partidos que apoiam a reforma da Previdência.
Antecipação
Os movimentos antecipados na Esplanada surpreenderam até analistas. É caso do diretor-gerente para as Américas da consultoria norte-americana Eurasia Group, Christopher Garman, por exemplo. Ele esperava que esse troca-troca fosse mais tardia. ;Os partidos estão se preparando para 2018 de forma mais clara. Nada dramático, mas sintomático. Em março, todos os ministros saem para se preparar para as eleições. Só achei janeiro cedo demais;, afirmou.
Personagem da notícia
A controversa parlamentar
A nova ministra do Trabalho, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), não deixa de ter uma carreira política controversa. A advogada é faixa preta de caratê e filha do ex-deputado e pivô do escândalo do mensalão Roberto Jefferson, e tem características parecidas, apesar de não utilizar o sobrenome do pai. O ex-deputado foi escudeiro do ex-presidente Fernando Collor, e Cristiane tem se mostrado fiel ao presidente Michel Temer, tanto que teve o nome cogitado para assumir o Ministério da Cultura no lugar do ex-ministro Roberto Freire.
A deputada votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, da Reforma Trabalhista, da emenda do teto dos gastos e do arquivamento das duas denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista na Câmara dos Deputados. Cristiane, 44 anos, foi citada em delações da Lava-Jato, na Odebrecht e na JBS. Ela foi alvo de críticas na Câmara ao tentar limitar o uso de trajes sensuais no Legislativo. A nova ministra também lidera a lista de parlamentares baladeiros de Brasília. (RH)
Colaborou Paulo de Tarso Lyra