A retaliação a deputados federais infiéis ao presidente Michel Temer na votação da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República na Câmara está prestes a sair do forno. O Palácio do Planalto trabalha a todo vapor para publicar no Diário Oficial da União de segunda-feira a exoneração de indicados políticos de parlamentares que votaram contra o peemedebista.
Apadrinhados de pelo menos seis dissidentes estão na mira do Planalto. A expectativa inicial era publicar já alguns nomes no DOU de ontem, mas o Planalto optou por analisar com lupa os rebeldes. Entre os governistas, há uma ala que recomendou a Temer ser mais comedido e não ceifar a esmo. Para esses parlamentares, não é o momento de ser agressivo nas punições, mas analisar com cautela cada caso. Afinal, o governo tem como meta retomar as discussões em torno das agendas reformistas e precisa do máximo de votos.
O vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), avalia que é preciso fazer uma análise criteriosa sobre as exonerações. ;O que eu sempre falo é que, às vezes, o deputado tem um cargo pequeno e poderia votar com a gente com as reformas. E muitas vezes tem gente que está no governo que não quer votar com a gente nas reformas e que tem cargo grande. Tem que ter muito critério para saber quem é a sua base;, sustentou.
[SAIBAMAIS]Critério é o que o Planalto está procurando adotar. Interlocutores de Temer afirmam que o presidente, o titular da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, passaram os últimos dias analisando caso a caso para distinguir quais deputados estão em efetivo conflito e quais apenas se distanciaram da base, havendo, ainda, possibilidade de reconciliação e alinhamento.
A principal sinalização de que a equipe palaciana estuda quem retaliar é que dos oito dissidentes ; deputados que votaram a favor do presidente na primeira denúncia e contra na segunda ;, dois devem ser absolvidos. Os oito rebeldes são: Abel Mesquita Jr. (DEM-RR); Cícero Almeida (Pode-AL); delegado Éder Mauro (PSD-PA); Heuler Cruvinel (PSD-GO); Jaime Martins (PSD-MG); João Campos (PRB-GO); João Paulo Kleinübing (PSD-SC); Mauro Mariani (PMDB-SC).
Um dos que estão na mira do Planalto é o deputado Éder Mauro. Embora garanta que não tenha confirmação sobre retaliação, ele admite que seja provável que algum indicado seja exonerado. ;Temos um partido que é base do governo. Temos um líder que trata dessas situações, mas não tive conhecimento;, sustentou. Os deputados dissidentes alegam pressão da opinião pública no voto.
Heuler Cruvinel alegou que as malas de dinheiro encontradas pela Polícia Federal em um apartamento atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima o convenceram de que há provas consistentes contra Temer. O deputado Jaime Martins, por sua vez, declarou que votou contra o governo pelo cerco da opinião pública nas redes sociais e a abordagem do eleitorado na rua. ;Eu nunca quis votar pela impunidade. A opinião pública acha que se tem indícios de culpa, tem de haver investigação;, declarou.
Os três parlamentares estão entre os quatro do PSD que votaram contra o governo. O partido foi o que teve mais dissidentes na segunda denúncia. O governo, no entanto, não planeja punir por bancada. A ideia de penalizar legendas em razão da postura de dissidentes não agrada a líderes governistas, que temem os possíveis efeitos do esfacelamento da base aliada na votação das reformas. Sob essa perspectiva, o Planalto não deve promover trocas no Ministério de Ciência e Tecnologia, atualmente comandado pelo PSD com Gilberto Kassab.
Com a decisão de não punir partidos, a sigla que mais se beneficiará é o PSDB. E esse é um dos grandes problemas do governo em reorganizar a base, que cobrará cargos dos 23 parlamentares da legenda que votaram contra Temer. Deputados aliados exigem do governo uma postura incisiva contra os tucanos, mas o Planalto não dá sinais de que atenderá as reivindicações. ;Os tucanos não vão sair por conta própria e o governo não vai tirar;, critica um aliado.
A atitude comedida não é unânime entre os governistas. O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS), um dos líderes do governo na Câmara, afirma que Mansur está ;completamente equivocado; ao pedir parcimônia ao governo na análise dos deputados rebeldes. Na avaliação do peemedebista, os parlamentares que votaram pelo prosseguimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ;ofenderam a honra; de Temer. Marun defende a exoneração imediata de pessoas indicadas por deputados que ;traíram; o presidente na última quarta-feira. ;É a minha opinião e a posição que eu vou levar ao presidente;, observou.